O risco de qualquer efeito adverso pelas vacinas é bem menor do que ter o mesmo evento pela Covid-19.

Por Seleno Glauber,

Com o aumento da vacinação nas faixas etárias mais jovens, muitos relatos de efeitos colaterais têm surgido. Alguns sendo a formação de coágulos sanguíneos (em artérias e veias), inclusive com mortes.

O que será que está acontecendo?

É preocupante?



Para começar, fiz uma sequência sobre a Trombocitopenia Trombótica Induzida por Vacina (em inglês VITT) em junho passado, um evento raro, mas digno de nota.

Também fiz uma outra sobre o uso indevido de medicações profiláticas (anticoagulantes e antiagregantes plaquetários antes e depois da vacinação).

É importante lembrar que vacinas causam efeito colaterais em algumas pessoas. A grande maioria dos eventos relatados são de reações no local da injeção e de sintomas gerais parecidos com resfriado (febre, fadiga, dor de cabeça, calafrios, mialgia, etc).

Essas reações decorrentes da resposta imune à vacina não são graves e são comuns, geralmente resolvendo em poucos dias.

É importante descartar que você não tenha contraído a doença e esteja manifestando seus sintomas (isso ocorre se forem intensos e durarem vários dias).

O melhor repositório de informações sobre os efeitos adversos das vacinas é justamente onde se notifica melhor. Um deles é o sistema de notificação do Reino Unido: o Yellow Card.

Até 18 de agosto, 47 milhões de pessoas foram vacinadas no RU, das quais aproximadamente 49 milhões de doses da Astra Zeneca e 38 milhões da Pfizer (incluindo 1ª e 2ª doses).

Todas as suspeitas de eventos adversos graves notificadas são analisadas.



Até 18/08/21, o Reino Unido recebeu notificação de 417 casos de eventos tromboembólicos (coágulos sanguíneos) com trombocitopenia (diminuição de plaquetas) após administração da vacina Astra Zeneca.

☠️ A mortalidade geral foi de 17% (72 mortes), seis após a 2ª dose.

Vamos ao que interessa:

👉🏻 1a dose: incidência geral de 15 casos por milhão.

▶️ 20,8 casos/milhão para 18-49 anos
▶️ 10,9 casos/milhão para > 50 anos

Diferença entre homens e mulheres pequena e não significante.

👉🏻2a dose: incidência geral de 1,8 casos por milhão.

▶️ 0,9 caso por milhão para 18-49 anos
▶️ 1,8 casos por milhão para > 50 anos

Ambas incidências são baixíssimas, sendo muito mais rara após a 2a dose.

Quais são os sinais de alerta?

✅ Dor de cabeça persistente, grave e intensa
✅ Sintomas neurológicos focais e convulsões
✅ Dores / edema de membros inferiores
✅ Dispnéia e dor torácica (embolia pulmonar, infarto)
✅ Dor abdominal (trombose de veias abdominais)

Trombose venosa prévia, trombofilia, câncer ou imobilização prolongada não devem ser considerados fatores de risco para o desenvolvimento da VITT, levando em consideração o mecanismo do processo (autoimune).

O diagnóstico é feito com:

✅ História de contato com vacina de 4 a 52 dias
✅ Plaquetas < 150 mil/mm3
✅ D-dímero elevado > 4 x o valor normal
✅ Exames de imagem (Doppler, tomografia, etc)
✅ Dosagem de fator antiplaquetário 4 (anti-PF4) teste ELISA

COMUNICADO GGMON 006/2021

Aí vem a pergunta: vale a pena se vacinar?

Não é arriscado?

Não é melhor contrair a doença e se imunizar naturalmente?

👉🏻 NÃO!!!

Um estudo de casos autocontrolados a partir de 30 milhões de vacinados na Inglaterra ajuda na explicação.

Este método permite calcular o risco relativo de incidência do desfecho após a exposição (vacinação ou contração de doença) em comparação com o período em que os mesmos indivíduos não estão expostos, anulando o risco de confundidores.

Cortesia de @AnaCarolPecanha

Quais os resultados para vacina da Astra Zeneca?

Risco de desenvolver plaquetas baixas (8 a 14 dias):
▶️ Para vacina: 33% maior
▶️ Para COVID-19: 430% maior

Para desenvolver trombose venosa (8 a 14 dias):
▶️ Para vacina: 10% maior
▶️ Para COVID-19: 1.290% maior

Risco de desenvolver trombose arterial (8 a 14 dias):
▶️ Para vacina: 2% maior
▶️ Para COVID-19: 350% maior

Para desenvolver trombose venosa cerebral (8 a 14 dias):
▶️ Para vacina: 300% maior
▶️ Para COVID-19: 1.243% maior

Risco de desenvolver infarto cardíaco (8 a 14 dias):
▶️ Para vacina: sem aumento de risco
▶️ Para COVID-19: 400% maior

Para desenvolver outras tromboses raras (8 a 14 dias):
▶️ Para vacina: 21% maior
▶️ Para COVID-19: 460% maior

O risco de formar coágulos se você usa contraceptivo oral (CO) 💊 aumenta de 200 a 800% (Risco Relativo 3 a 9)

Estima-se que 300 a 400 mulheres dos EUA morram anualmente devido o uso de COs. Ainda assim, o consumo de CO continua elevado, apesar dos riscos.

Vejam a linha horizontal (que representa o risco basal de uma pessoa não vacinada ou não doente).

Os riscos de eventos com a vacina (representados pelas linhas verticais) 👇🏻



São muitíssimo menores comparados à infeção pelo coronavírus. Notem que aqui as linhas verticais (eventos) se afastam da linha horizontal.


O que isso tudo significa?

👉🏻 Para cada 10 milhões de vacinações, houve 66 tromboses relacionadas.

👉🏻 E que para cada 10 milhões de casos de COVID-19, houve 12.614 tromboses e 1.699 derrames cerebrais.

Se você teve a infelicidade de presenciar uma trombose ou morte após vacina, pense:

👍🏻 em quantas vidas a mesma vacina salvou.

👉🏻 que o numero de vacinados cresce a cada dia.

🧐 que o ocorrido pode não ter tido relação com a vacina, mas sim uma infeliz coincidência.
Não há dados confiáveis em países com notificação ruim (especialmente os pobres e com sistema de saúde mal estruturado).

Nesses casos é importante estar atento para casos suspeitos.

Uma investigação minuciosa por uma equipe com conhecimento sobre o assunto é fundamental.
Como relatar eventos suspeitos no Brasil? Temos o portal VigiMed, de acesso tanto para profissionais da saúde quanto para cidadãos em geral.

Outro meio de notificação é pelo portal e-SUS Notifica. Mas o acesso é mais restrito.

Uma excelente revisão sobre o mecanismo da doença e como tratá-la pode ser encontrada aqui:



Fonte: https://bit.ly/3t1Ws3A

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