Corpulência e seu tratamento com base em princípios fisiológicos (1884)

Em 1884, Wilhelm Ebstein, professor de Medicina e diretor do Hospital Clínico de Göttingen, publicou uma obra que se tornaria referência no debate sobre o tratamento da obesidade. Seu objetivo era propor uma alternativa mais fundamentada e duradoura em comparação às “curas” populares da época, especialmente a de Banting, que, segundo ele, não resolvia o problema de forma sustentável.

Logo no início, Ebstein distingue a obesidade — acúmulo excessivo de gordura no tecido conjuntivo, principalmente subcutâneo — da degeneração gordurosa, em que as células perdem vitalidade e funções, como ocorre em doenças graves do fígado ou do coração. Essa diferenciação era importante para que o tratamento visasse a reversão do excesso de gordura corporal sem confundir com lesões orgânicas irreversíveis.

Para ele, a obesidade é consequência de um desequilíbrio prolongado entre ingestão e gasto de energia. Entre os fatores que a favorecem, destaca:

  • Vida sedentária e confortável, com pouca atividade física.
  • Dieta abundante em carboidratos e proteína em excesso.
  • Consumo frequente de bebidas alcoólicas.
  • Anemia e menor oxidação dos tecidos, favorecendo o acúmulo de gordura.
  • Alterações hormonais (como na menopausa) e gestações próximas.
  • Predisposição familiar.

Ebstein descreve três fases comuns na evolução da obesidade:

  1. Admiração – quando o corpo cheio é considerado saudável.
  2. Ridicularização – fase de limitações físicas e constrangimentos sociais.
  3. Enfermidade – instalação de doenças associadas, como gota, diabetes e problemas cardíacos.

Ele critica métodos então populares, como jejuns prolongados, dietas extremamente restritivas, purgantes, sangrias e regimes à base de um único alimento. Segundo ele, tais práticas produziam resultados temporários, perda de massa muscular e anemia, levando ao rápido reganho de peso.

Ebstein também analisa a “cura de Banting”. Reconhece que ela restringia carboidratos (pão, batatas, açúcar), permitindo carnes gordas, peixes, aves e manteiga, mas considera que seu excesso proteico e a falta de adaptação individual a tornavam difícil de manter por toda a vida. Ele defende que o verdadeiro tratamento precisa ser um padrão alimentar permanente, não um programa temporário.

Sua proposta se apoia em três princípios:

  • Controle calórico e ajuste proporcional entre nutrientes: reduzir carboidratos refinados e limitar proteínas a níveis adequados.
  • Manutenção de gorduras de boa qualidade na dieta: manteiga, banha e gordura natural das carnes, usadas de forma moderada para promover saciedade e diminuir a fome.
  • Mudança duradoura de hábitos: refeições regulares (três por dia), exclusão de lanches e disciplina no consumo alcoólico (apenas pequenas doses de vinho leve).

Ele recomenda excluir açúcares, doces, batatas e farinhas, liberar vegetais de baixo amido, leguminosas e algumas frutas pouco doces, e valorizar carnes com sua gordura natural. Para Ebstein, a gordura dietética ajuda a retardar a digestão, reduzindo o apetite e a necessidade de grandes quantidades de proteína, além de minimizar a sede, favorecendo menor ingestão de líquidos.

Em seus relatos clínicos, pacientes seguindo esse regime obtiveram redução gradual e constante de peso e circunferência abdominal, melhora de anemia e controle de doenças associadas como gota e diabetes — sem a fadiga extrema ou desconfortos comuns em dietas radicais.

A conclusão de Ebstein é que a obesidade, quando não ligada a doenças orgânicas irreversíveis, deve ser combatida com ajustes permanentes no estilo de vida, e não com soluções rápidas. Seu método, ao contrário de restringir indiscriminadamente nutrientes, reorganiza a dieta segundo princípios fisiológicos, permitindo manutenção a longo prazo e melhor qualidade de vida.

Fonte: https://amzn.to/3HvvKM9

*Disponível completo na newsletter
Postagem Anterior Próxima Postagem
Rating: 5 Postado por: