Proteína Animal Versus Proteína Vegetal no Suporte à Massa Magra e Força Muscular: Uma Revisão Sistemática e Meta-Análise de Ensaios Clínicos Randomizados

A manutenção da massa magra e da força muscular ao longo da vida é essencial para a saúde metabólica, a funcionalidade e a qualidade de vida. O artigo Animal Protein versus Plant Protein in Supporting Lean Mass and Muscle Strength: A Systematic Review and Meta-Analysis of Randomized Controlled Trials, publicado na revista Nutrients em 2021, teve como objetivo investigar se a fonte proteica — animal ou vegetal — exerce diferença significativa no suporte à massa magra e força muscular em adultos, além de avaliar o impacto da prática de treinamento resistido (RET) e da idade nos resultados.

Os autores analisaram 18 ensaios clínicos randomizados (ECRs), totalizando milhares de participantes, com idades a partir de 19 anos, abrangendo diversas populações, incluindo indivíduos saudáveis, com sobrepeso, com condições metabólicas e em hemodiálise. As intervenções variaram entre suplementos (como whey, caseína, soja, ervilha, arroz) e dietas específicas ricas em proteína animal ou vegetal, com durações entre 14 dias e 24 meses.

Os resultados revelaram que tanto a proteína animal quanto a vegetal contribuíram para o aumento da massa magra e da força muscular, mas com nuances importantes:

  • Massa magra absoluta: Não houve diferença estatisticamente significativa entre proteína animal e vegetal no ganho absoluto de massa magra.
  • Massa magra percentual: O consumo de proteína animal foi associado a um aumento significativo na percentagem de massa magra (diferença média ponderada de +0,50%; IC95%: 0,05 a 0,95), especialmente em adultos abaixo de 50 anos.
  • Força muscular: Não foi observada diferença significativa entre fontes proteicas nos testes de força, como 1-RM (uma repetição máxima) no agachamento, supino, torque de extensão e flexão de joelho e força de preensão manual.
  • Impacto da idade: Adultos jovens (<50 anos) apresentaram maior benefício com proteína animal em ganho de massa magra absoluta (+0,41 kg; IC95%: 0,08 a 0,74) e percentual (+0,50%; IC95%: 0,00 a 1,01). Em adultos ≥50 anos, não houve diferença significativa entre as fontes proteicas.
  • Efeito do RET: O treinamento resistido potencializou os ganhos em massa magra em geral, mas não foi identificada diferença entre fontes proteicas nos subgrupos com ou sem RET.

Do ponto de vista mecanicista, os autores destacam que a proteína animal é considerada de maior qualidade devido ao perfil completo de aminoácidos essenciais (AAE) e maior digestibilidade, fatores que favorecem a síntese proteica muscular via ativação do complexo mTORC1. Por outro lado, as proteínas vegetais tendem a ser deficitárias em certos AAE e menos digestíveis, o que pode limitar seu efeito anabólico, especialmente em populações jovens mais responsivas.

No entanto, a diferença observada em massa magra percentual foi modesta e o significado clínico desse ganho (até 0,95% no melhor cenário) ainda é incerto, uma vez que não há consenso sobre qual variação mínima representa um benefício clínico relevante. É importante ressaltar que a maioria dos estudos utilizou proteínas animais derivadas de laticínios e proteínas vegetais baseadas em soja, o que limita a extrapolação para outras fontes.

Os autores apontaram limitações no conjunto de estudos avaliados, como a ausência de dados dietéticos completos para confirmar o padrão alimentar dos participantes além dos suplementos fornecidos, e a variabilidade dos protocolos e populações estudadas. Por isso, concluem que mais estudos são necessários, especialmente em idosos e em contextos onde o padrão dietético é rigorosamente controlado.

Em síntese, a revisão sistemática e meta-análise indicam que o consumo de proteína animal tende a ser mais favorável para o aumento da massa magra, principalmente em adultos jovens, enquanto a força muscular parece não ser influenciada pela fonte proteica. Esses achados reforçam a importância de considerar tanto a quantidade quanto a qualidade da proteína ingerida no planejamento dietético para manutenção e ganho de massa magra ao longo da vida.

Fonte: https://doi.org/10.3390/nu13020661


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