Rumo à definição de concentrações ideais de micronutrientes em adultos para otimizar a saúde


A saúde ideal na fase adulta não depende apenas da ausência de doenças, mas do equilíbrio minucioso de diversos fatores que sustentam a funcionalidade e o bem-estar ao longo dos anos. Um desses pilares fundamentais são os micronutrientes — vitaminas e minerais essenciais que, embora necessários em pequenas quantidades, exercem efeitos profundos sobre a longevidade saudável.

Este artigo, publicado no periódico Mechanisms of Ageing and Development, propõe um novo paradigma: diferenciar níveis "normais" de níveis "ideais" de micronutrientes. A distinção é crucial porque, mesmo dentro das faixas consideradas normais, valores próximos ao limite inferior já estão associados a riscos aumentados de doenças crônicas, como declínio cognitivo, osteoporose, doenças cardiovasculares e até câncer.

O conceito de “triagem” metabólica, proposto por Bruce Ames, é retomado como base teórica: em situações de escassez, o corpo redireciona micronutrientes para funções vitais imediatas, comprometendo atividades menos prioritárias, porém essenciais a longo prazo, como reparo celular e imunidade. Assim, deficiências subclínicas, que não produzem sintomas evidentes, podem acelerar o envelhecimento e a degradação funcional.

Micronutrientes como vitaminas B6, B9, B12, D e K ganham destaque por sua influência sobre processos críticos: metabolismo energético, função neurológica, regulação imunológica e saúde óssea. O desafio, segundo os autores, é que as recomendações atuais — como as Ingestões Dietéticas de Referência (DRIs) — são baseadas em médias populacionais e não levam em conta variações individuais como genética, estilo de vida e estágio da vida.

Estudos apresentados no artigo mostram que a ingestão dietética não se traduz automaticamente em níveis adequados no sangue. Por exemplo, indivíduos coreanos com ingestão adequada de vitamina B9 apresentaram níveis circulantes diferentes, indicando variações na absorção ou metabolismo. O mesmo ocorre com a vitamina D, cuja síntese depende da exposição solar, da genética e da idade, sendo muitas vezes insuficiente mesmo com suplementação padrão.

A proposta central do estudo é integrar ferramentas como biomarcadores sanguíneos, dados genéticos, perfis de estilo de vida e variáveis clínicas para estabelecer intervalos de referência “ideais” — e não apenas “suficientes” — para cada micronutriente. Biomarcadores como o 25-hidroxivitamina D, a holotranscobalamina (vitamina B12 ativa) e a concentração plasmática de filoquinona (vitamina K1) são destacados como essenciais na prática clínica.

Contudo, o uso rotineiro de biomarcadores enfrenta barreiras logísticas e econômicas. Tecnologias de ponta, como espectrometria de massa (LC-MS/MS), oferecem precisão, mas têm custo elevado. Para superar esse entrave, os autores sugerem a adoção de testes rápidos de ponto de cuidado (POC), a capacitação de profissionais de saúde e a inclusão de biomarcadores em programas de triagem pública — especialmente em populações vulneráveis como idosos e gestantes.

Além disso, defendem a padronização global dos intervalos de referência por meio de organismos como a OMS e a harmonização de métodos laboratoriais. Iniciativas nacionais, como as pesquisas NHANES (EUA), ENANI (Brasil) e KNHANES (Coreia), já avançam nesse sentido, oferecendo dados populacionais que auxiliam na formulação de políticas públicas.

Em resumo, o artigo propõe uma transição da suplementação em massa para a suplementação de precisão, guiada por dados reais e individualizados. Isso permitiria intervenções mais eficazes, econômicas e seguras, otimizando o estado nutricional sem os riscos do excesso.

A longevidade saudável requer mais do que viver mais anos — exige viver melhor. E, como revela este estudo, esse ideal começa nos mínimos detalhes, como a concentração de uma vitamina no sangue. A definição de valores ideais de micronutrientes pode ser uma das estratégias mais promissoras para transformar o envelhecimento em um processo mais equilibrado, funcional e digno.

Fonte: https://doi.org/10.1016/j.mad.2025.112062

Postagem Anterior Próxima Postagem
Rating: 5 Postado por: