Efeitos das dietas com baixo teor de carboidratos sobre marcadores inflamatórios: o papel da restrição extrema de carboidratos


A inflamação crônica de baixo grau é um dos principais gatilhos de doenças como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica e até certos tipos de câncer. Os biomarcadores mais estudados nesse contexto são as citocinas inflamatórias TNF-α (fator de necrose tumoral alfa) e IL-6 (interleucina-6). A pergunta que muitos pesquisadores tentam responder há anos é: será que dietas com pouco carboidrato – especialmente aquelas que promovem cetose – podem modular essa inflamação?

Uma nova revisão sistemática e meta-análise publicada em BMC Nutrition em 2025 buscou responder a essa questão com mais profundidade, analisando 33 ensaios clínicos randomizados e um total de 2106 adultos. O foco foi compreender se a redução no consumo de carboidratos impactaria positivamente os níveis circulantes de TNF-α e IL-6.


Resultados principais

O resultado mais consistente foi a redução significativa nos níveis de IL-6 entre os participantes que seguiram dietas com restrição de carboidratos (redução média de -0,31 pg/mL). No entanto, a mesma clareza não foi observada em relação ao TNF-α, cuja redução média foi considerada estatisticamente irrelevante na análise geral. Curiosamente, quando os dados foram analisados por subgrupos, o cenário mudou: dietas com menos de 10% das calorias provenientes de carboidratos – característica comum das dietas cetogênicas – mostraram efeito significativo sobre ambos os marcadores inflamatórios.


Quem mais se beneficiou?

O estudo revelou que os maiores benefícios ocorreram em indivíduos com índice de massa corporal (IMC) abaixo de 30, pessoas com diabetes tipo 2, e participantes com níveis basais elevados de IL-6. Além disso, homens com mais de 43 anos apresentaram resposta mais favorável à redução de IL-6. Isso sugere que o perfil metabólico e inflamatório inicial influencia a eficácia da intervenção dietética.

Outro ponto relevante foi a duração do estudo. Ensaios com duração superior a 8 semanas tendem a mostrar efeitos mais claros na redução da inflamação, o que reforça a importância da consistência e aderência ao padrão alimentar.


Por que a cetose pode ajudar?

Os autores destacam o papel dos corpos cetônicos, em especial o beta-hidroxibutirato (BHB), como possíveis agentes anti-inflamatórios. O BHB pode inibir a ativação do complexo inflamatório NLRP3, que está envolvido na liberação de citocinas pró-inflamatórias. Além disso, a perda de gordura corporal e a melhora da resistência à insulina, comuns em dietas com baixa ingestão de carboidratos, também podem reduzir a inflamação de forma indireta.


Considerações e limitações

Apesar das descobertas promissoras, os autores alertam que nem todos os estudos incluídos apresentaram controle rigoroso de adesão alimentar, e muitos não relataram detalhes sobre a qualidade dos macronutrientes, como a origem das gorduras ou proteínas. Ainda assim, não foi observada modificação significativa dos efeitos inflamatórios com base na proporção de gorduras saturadas.

A heterogeneidade entre os estudos e a ausência de dados sobre microbiota intestinal, genética e estilo de vida também limitam conclusões mais definitivas. Além disso, os desfechos clínicos duros – como mortalidade, incidência de infarto ou complicações renais – ainda não foram suficientemente investigados nesse contexto.


Conclusão

Seguir uma dieta com menos de 10% de carboidratos totais parece ser eficaz na redução da inflamação sistêmica, especialmente no que diz respeito à interleucina-6. Embora os efeitos sobre o TNF-α sejam menos consistentes, há indícios de benefício quando a restrição de carboidratos é mais severa e prolongada. Esses dados reforçam o potencial terapêutico das dietas cetogênicas em indivíduos com distúrbios metabólicos e inflamatórios – mas também destacam a necessidade de mais estudos com controle rigoroso e maior diversidade populacional.

Fonte: https://doi.org/10.1186/s40795-025-01062-w

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