Em meio à crescente preocupação com deficiências nutricionais ao redor do mundo, o estudo de Nick W. Smith e Ty Beal, publicado em Food Frontiers, traz uma análise inovadora sobre como a densidade de micronutrientes nos alimentos pode direcionar intervenções mais eficazes para melhorar a saúde global. Um ponto de destaque dessa análise é a importância inquestionável dos alimentos de origem animal na oferta de nutrientes essenciais, superando amplamente a densidade nutricional de muitas opções vegetais.
Micronutrientes: a carência invisível que ameaça a saúde pública
Embora muitas estratégias busquem corrigir a deficiência de micronutrientes — como a fortificação de alimentos e a suplementação —, os autores ressaltam que incentivar o consumo de alimentos naturalmente ricos em nutrientes é uma abordagem mais sustentável. Isso porque esses alimentos oferecem não apenas vitaminas e minerais isolados, mas um conjunto complexo de compostos bioativos que trabalham de forma sinérgica para promover a saúde.
Dentro desse contexto, os alimentos de origem animal emergem como protagonistas na luta contra a fome oculta. A densidade nutricional intrínseca a esses alimentos os torna altamente eficazes para suprir necessidades críticas de micronutrientes.
A criação de uma ferramenta prática para análise da densidade nutricional
Utilizando dados das Folhas de Balanço Alimentar da FAO e composições nutricionais do USDA, Smith e Beal desenvolveram uma ferramenta integrada ao DELTA Model, que permite classificar alimentos com base no fornecimento de 17 micronutrientes essenciais por 100 g ou por 100 kcal.
A análise foi feita utilizando as necessidades nutricionais de uma mulher de 35 anos, uma escolha estratégica para refletir um perfil demográfico com alta demanda por micronutrientes.
Alimentos de origem animal dominam a densidade nutricional
Os resultados foram claros: vísceras, frutos do mar, ovos e carnes de diversos tipos dominaram o topo dos rankings de densidade de micronutrientes.
- Vísceras (como fígado e rins) lideraram tanto na densidade por peso quanto por energia. Esses alimentos são fontes riquíssimas de vitamina B12, vitamina A, ferro, cobre e zinco — nutrientes fundamentais para funções metabólicas, imunológicas e neurológicas.
- Frutos do mar, incluindo peixes e mariscos, também se destacaram, especialmente em rankings ajustados por calorias, graças ao seu conteúdo elevado de iodo, selênio, vitamina B12 e ácidos graxos essenciais.
- Ovos apareceram de forma consistente entre os alimentos mais densos, oferecendo quantidades significativas de colina, vitaminas do complexo B e minerais essenciais.
- Carnes (particularmente cortes menos convencionais, como coração e língua) figuraram entre as melhores fontes de múltiplos micronutrientes.
Em contraste, alimentos como açúcares e produtos refinados obtiveram as menores pontuações, refletindo seu baixo valor nutricional.
Um dado interessante foi a posição dos laticínios: embora ricos em cálcio e vitaminas B, seu alto teor de água reduziu a concentração de micronutrientes por 100 g, resultando em pontuações moderadas.
Porque alimentos de origem animal são insubstituíveis
A superioridade dos alimentos de origem animal em densidade de micronutrientes se explica por vários fatores:
- Eles fornecem nutrientes em formas altamente biodisponíveis, como o ferro heme e a vitamina B12, que são muito mais facilmente absorvidos do que suas contrapartes vegetais.
- Contêm um espectro completo de aminoácidos essenciais, fundamentais para a síntese proteica e a manutenção de tecidos.
- Oferecem nutrientes difíceis de obter em quantidades suficientes apenas através de fontes vegetais, como a vitamina A pré-formada (retinol), o zinco altamente biodisponível e a colina.
Embora o estudo tenha focado apenas na densidade de nutrientes e não tenha ajustado para biodisponibilidade total (exceto para proteínas), a literatura científica já estabelece que a absorção dos micronutrientes provenientes de alimentos de origem animal é, em geral, superior àquela dos vegetais.
Limitações reconhecidas e implicações práticas
Os autores alertam que, apesar da utilidade da ferramenta, existem limitações no uso de dados agregados como os das Folhas de Balanço Alimentar. Muitos itens englobam categorias amplas de alimentos, o que pode mascarar diferenças individuais. Ainda assim, o destaque absoluto dos alimentos de origem animal sugere que priorizá-los é uma estratégia robusta para combater deficiências nutricionais.
Além disso, a preparação dos alimentos e as combinações dietéticas podem afetar a absorção de nutrientes, mas tais fatores não foram abordados diretamente na análise.
Conclusão: O retorno às bases da nutrição
O estudo conduzido por Smith e Beal reforça uma mensagem clara: alimentos de origem animal são pilares fundamentais para uma dieta verdadeiramente densa em micronutrientes. Em contextos de desnutrição, insegurança alimentar ou estratégias de saúde pública voltadas para a correção de deficiências, carnes, vísceras, frutos do mar e ovos devem ser priorizados.
Ao valorizar esses alimentos tradicionais, é possível promover uma alimentação mais rica, eficiente e alinhada às necessidades biológicas humanas, sem depender exclusivamente de intervenções artificiais ou suplementos.