Os efeitos da suplementação de colágeno hidrolisado tipo I em ossos, músculos e articulações: uma revisão sistemática


A dor musculoesquelética está entre os principais motivos de queixas na atenção primária à saúde, frequentemente relacionada a quadros crônicos como osteoartrite e osteoporose. Diante disso, cresce o interesse por estratégias terapêuticas não farmacológicas que possam mitigar sintomas e melhorar a funcionalidade. Uma dessas estratégias é a suplementação com colágeno hidrolisado tipo I — a forma mais abundante desse importante componente estrutural do corpo humano, presente especialmente em tendões, ligamentos e ossos.

Este artigo, publicado na revista Orthopedic Reviews em 2025, apresenta uma revisão sistemática abrangente sobre os efeitos do colágeno hidrolisado tipo I na saúde de ossos, músculos e articulações. A investigação baseou-se em 36 ensaios clínicos randomizados que atenderam aos critérios de inclusão, todos voltados especificamente à suplementação oral isolada dessa forma de colágeno.

Ossos: poucos estudos e resultados limitados

Apenas três estudos analisaram desfechos relacionados à saúde óssea. Dois deles envolveram mulheres na pós-menopausa com osteopenia e um avaliou homens jovens saudáveis. Embora um dos estudos tenha mostrado aumento significativo na densidade mineral óssea (DMO) da coluna e do colo femoral com suplementação, a maioria não encontrou diferenças estatisticamente significativas entre os grupos. A curta duração e o pequeno número de participantes, somados à variabilidade nos biomarcadores avaliados, dificultam a extrapolação dos achados. Assim, apesar de haver indicações promissoras, ainda não se pode afirmar com segurança que o colágeno hidrolisado tenha efeitos clínicos robustos na saúde óssea.

Articulações: resultados mais consistentes

O maior número de estudos concentrou-se nos efeitos sobre as articulações — com 14 ensaios clínicos analisados. A maioria relatou benefícios relevantes, como redução de dor, melhora da mobilidade e da função articular, especialmente em indivíduos com osteoartrite. Avaliações por meio de escalas subjetivas como VAS (Escala Visual Analógica) e WOMAC (Índice de Osteoartrite das Universidades Western Ontario e McMaster) apontaram efeitos positivos mais consistentes do que exames por imagem ou testes físicos objetivos. Ainda assim, esses benefícios reforçam a hipótese de que o colágeno hidrolisado pode atuar como modulador da dor e da inflamação articular, sendo especialmente útil em populações idosas ou com doenças articulares prévias.

Músculos: efeitos dependem da prática de exercícios

Dos 19 estudos voltados à saúde muscular, a maioria demonstrou que a suplementação de colágeno tipo I, quando combinada com programas de treinamento contra a resistência, melhora significativamente a composição corporal — com aumento da massa magra e redução de gordura corporal. Em idosos sarcopênicos e mulheres na pré-menopausa, os efeitos foram particularmente relevantes. No entanto, em estudos isolados, sem atividade física associada, os resultados foram mais discretos ou inexistentes. Outro achado relevante foi que, em comparação a proteínas de alta qualidade como o whey protein, o colágeno apresenta menor capacidade de estimular diretamente a síntese de proteínas musculares, o que limita sua utilidade como suplemento isolado para hipertrofia.

Considerações finais

Apesar dos resultados animadores, a revisão destaca importantes limitações nos estudos existentes: ausência de padronização quanto à dose de suplementação (variando de 1,2g a 30g/dia), variações nos métodos de avaliação, tempo de acompanhamento geralmente curto (média de 15 semanas), e tamanhos amostrais reduzidos. Além disso, muitos dos estudos foram financiados pela indústria, o que demanda maior transparência e rigor metodológico para afastar vieses.

Ainda assim, os autores concluem que a suplementação com colágeno hidrolisado tipo I é segura, apresenta potencial terapêutico para articulações e pode ser útil como adjuvante em programas de treinamento físico para melhora da composição corporal. Populações com maior risco, como idosos e pessoas com dores articulares crônicas, parecem ser as mais beneficiadas. A melhora na densidade óssea também é possível, mas requer investigações mais longas e bem controladas para confirmação.

Dessa forma, o colágeno hidrolisado tipo I não deve ser encarado como uma solução milagrosa, mas como um possível coadjuvante dentro de uma estratégia ampla de promoção da saúde musculoesquelética — especialmente quando aliado a exercícios físicos regulares e alimentação adequada.

Fonte: https://doi.org/10.52965/001c.129086

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