Associação dos níveis de cortisol com a secreção de insulina e da aldosterona com a resistência à insulina em diabetes tipo 2 não tratado: um estudo transversal


O diabetes tipo 2 é uma condição caracterizada por duas falhas principais: a redução da secreção de insulina pelo pâncreas e o aumento da resistência do corpo à ação desse hormônio. Embora os tratamentos atuais consigam melhorar a glicose no sangue em muitos pacientes, apenas cerca de 55% deles atingem as metas de controle a longo prazo. Por isso, é fundamental compreender mais profundamente os fatores que interferem nesses dois mecanismos.

Entre os hormônios que influenciam o metabolismo da glicose, o cortisol e a aldosterona vêm ganhando destaque. Este estudo, realizado por pesquisadores da Toho University Ohashi Medical Center no Japão, buscou investigar como esses hormônios estão associados à secreção de insulina e à resistência à insulina em pacientes recém-diagnosticados com diabetes tipo 2 que ainda não haviam iniciado tratamento.

O papel do cortisol na secreção de insulina

Ao analisar 121 pacientes, o estudo revelou uma relação clara: níveis mais elevados de cortisol estavam associados a uma menor capacidade de secreção de insulina. Em outras palavras, quanto maior a concentração de cortisol no sangue, menor era a função das células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina.

Esse efeito negativo do cortisol pode ser explicado por vários mecanismos já conhecidos. O excesso de cortisol pode:

  • Reduzir a eficácia do cálcio dentro das células beta, prejudicando o processo de liberação da insulina.
  • Aumentar a atividade de enzimas como a glicose-6-fosfatase, que desvia a glicose do processo de secreção de insulina.
  • Promover alterações nos receptores de glicocorticoides nas células beta, reduzindo ainda mais sua capacidade funcional.

Portanto, mesmo em uma dieta considerada saudável ou com baixo teor de carboidratos, níveis elevados de cortisol podem prejudicar a secreção de insulina, contribuindo para o agravamento do diabetes.

Além disso, é importante destacar que o cortisol é um hormônio associado à resposta ao estresse. Assim, situações de estresse crônico podem levar ao aumento persistente dos níveis de cortisol, comprometendo o controle glicêmico mesmo em pessoas que seguem uma alimentação adequada.

O impacto da aldosterona na resistência à insulina

Outro achado importante deste estudo foi a associação entre níveis elevados de aldosterona e maior resistência à insulina. A aldosterona, conhecida principalmente por seu papel na regulação do sal e da pressão arterial, também pode interferir na ação da insulina de diversas formas:

  • Reduz a captação de glicose pelas células musculares e adiposas.
  • Promove inflamação, que por sua vez inativa proteínas envolvidas na sinalização da insulina.
  • Diminui a expressão de proteínas críticas para o transporte de glicose, como o GLUT4.

Essa relação sugere que o excesso de aldosterona pode agravar a resistência à insulina, aumentando a dificuldade do corpo em usar a glicose como fonte de energia, o que é um componente central do diabetes tipo 2.

Como mitigar os efeitos do cortisol elevado

Considerando os dados apresentados, algumas estratégias práticas podem ajudar a reduzir os níveis de cortisol e proteger a função pancreática:

  • Gerenciamento do estresse: Práticas como meditação, mindfulness, terapia cognitivo-comportamental e técnicas de respiração profunda podem ajudar a modular a resposta do corpo ao estresse.
  • Atividade física regular: Exercícios aeróbicos e de resistência moderada ajudam a normalizar os níveis de cortisol e melhoram a sensibilidade à insulina.
  • Sono adequado: A privação do sono é um potente estímulo para a elevação do cortisol. Garantir de 7 a 9 horas de sono de qualidade por noite é fundamental.
  • Exposição à luz natural: Passar algum tempo ao ar livre, principalmente pela manhã, ajuda a regular o ritmo circadiano e o cortisol.

Embora intervenções medicamentosas específicas para reduzir o cortisol diretamente não sejam recomendadas de forma ampla, cuidar da saúde mental e física de maneira holística pode ser uma ferramenta poderosa no manejo do diabetes tipo 2.

Considerações finais

Este estudo reforça que, mesmo em pacientes com diabetes tipo 2 recém-diagnosticado e não tratado, fatores hormonais como o cortisol e a aldosterona desempenham um papel relevante na progressão da doença. Isso evidencia que o tratamento eficaz do diabetes vai além do controle alimentar e pode se beneficiar de abordagens que também atuem na gestão do estresse e na função hormonal.

Além disso, a identificação da aldosterona como um fator relacionado à resistência à insulina levanta a possibilidade de que medicamentos que bloqueiam a ação da aldosterona possam ter um papel no futuro no tratamento da resistência à insulina, embora mais estudos sejam necessários para confirmar essa hipótese.

Compreender esses mecanismos oferece novos caminhos para estratégias mais completas e personalizadas no cuidado ao paciente com diabetes tipo 2.

Fonte: https://doi.org/10.1186/s13098-025-01706-8

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