Avaliação da ingestão e qualidade de proteína em veganos


No contexto de uma crescente adesão às dietas baseadas em plantas, a pesquisa conduzida por Soh et al. (2025) oferece uma análise aprofundada sobre a ingestão e qualidade das proteínas consumidas por veganos na Nova Zelândia, lançando luz sobre aspectos muitas vezes negligenciados nas dietas veganas: os perfis de aminoácidos e a digestibilidade das proteínas vegetais.

O estudo, realizado com 193 participantes veganos de longo prazo, utilizou um diário alimentar de quatro dias e ajustou os dados para digestibilidade ileal verdadeira (TID) — um parâmetro fundamental para avaliar a real disponibilidade dos aminoácidos após a digestão. Embora a ingestão média de proteína tenha se mostrado tecnicamente adequada com base nos valores de referência (EAR), a análise revelou um quadro preocupante: quando ajustados para digestibilidade, cerca de metade dos participantes não alcançava as quantidades mínimas diárias de aminoácidos essenciais como lisina e leucina.

Esses dois aminoácidos foram identificados como os mais limitantes nas dietas analisadas, representando um ponto crítico para a manutenção da saúde muscular e metabólica. Mesmo entre os indivíduos que consumiam proteína suficiente em gramas por quilo de peso corporal, muitos falharam em atender às necessidades de lisina e leucina, devido à baixa qualidade proteica intrínseca de várias fontes vegetais. Leguminosas como lentilhas, feijões e soja contribuíram significativamente para o aporte de proteína e lisina, destacando-se como alimentos estratégicos. No entanto, sua digestibilidade e proporção no conjunto da dieta nem sempre foram suficientes para compensar as deficiências.

Outro dado importante do estudo foi a associação entre baixa ingestão de proteínas de alta qualidade e excesso de gordura corporal. Indivíduos com ingestão insuficiente de lisina e leucina apresentaram, em sua maioria, excesso de gordura corporal e maior índice de massa corporal (IMC), mesmo com menor ingestão calórica, sugerindo possível subrelato alimentar ou dietas com baixa densidade proteica — um risco comum em dietas veganas mal planejadas.

A análise ainda apontou que aumentar simplesmente o consumo total de proteína não garante a adequação de todos os aminoácidos essenciais. A distribuição inadequada de cereais e leguminosas, fontes complementares entre si, pode comprometer o perfil aminoacídico total da dieta. Estratégias que incluem a combinação específica de alimentos vegetais em cada refeição — respeitando as proporções e formas de preparo que otimizem a digestão — foram sugeridas como caminhos promissores para melhorar a qualidade proteica.

Os autores ressaltam que, apesar de a população vegana na Nova Zelândia representar uma minoria (menos de 1%), a relevância científica do estudo extrapola fronteiras geográficas. Em tempos de incentivo à alimentação sustentável, compreender como garantir a qualidade nutricional de dietas estritamente vegetais é essencial, principalmente no que tange à ingestão de aminoácidos indispensáveis que o corpo não consegue produzir.

O estudo conclui que considerar apenas o total de proteína ingerido, sem avaliar sua qualidade e digestibilidade, pode levar a uma superestimação da adequação proteica em dietas veganas. Recomenda-se, portanto, que orientações nutricionais voltadas a veganos priorizem não apenas a quantidade, mas a combinação estratégica de alimentos vegetais ricos em aminoácidos essenciais, especialmente lisina e leucina.

Fonte: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0314889

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