Proteína e envelhecimento: como manter força e autonomia

Por que a proteína ganha importância com a idade

À medida que a idade avança, ocorrem mudanças fisiológicas que dificultam a manutenção de massa magra e função muscular: anabolismo pós-prandial mais “resistente”, menor estímulo da via mTOR por aminoácidos, alterações digestivas/absortivas, inflamação crônica de baixo grau e imunossenescência. Esses fatores elevam o risco de sarcopenia e fragilidade, com impacto em quedas, fraturas e perda de autonomia. A revisão destaca que a proteína dietética é um eixo terapêutico central para mitigar essas perdas, especialmente quando combinada a vitamina D e carga mecânica nos ossos/músculos (exercício de resistência). Fonte: revisão Nutrients 2025.

Quantos gramas por dia? Faixas por condição clínica

A recomendação padrão (RDA) para adultos é 0,8 g/kg/dia, mas o conjunto de evidências em idosos aponta metas acima desse valor para otimizar síntese proteica muscular (muscle protein synthesis MPS) e preservar massa magra:

  • Envelhecimento saudável: 1,0–1,2 g/kg/dia.
  • Doença crônica, convalescença, risco de fragilidade ou inflamação: 1,2–1,5 g/kg/dia.
  • Situações mais graves (desnutrição, doença aguda importante): até 2,0 g/kg/dia sob supervisão profissional.

Essas faixas refletem a resistência anabólica típica do envelhecimento e a maior necessidade de aminoácidos como substrato e sinal metabólico.

Distribuição ao longo do dia: 25–30 g por refeição

Além do total diário, a distribuição importa: a revisão sintetiza que 25–30 g de proteína por refeição (≈ 0,4 g/kg) tende a maximizar a MPS em idosos, especialmente quando esse patamar é alcançado em todas as refeições principais. Esse arranjo ajuda ainda a contornar a saciedade precoce comum nessa faixa etária e, na prática, eleva o total diário ao longo do dia.

Leucina: o “gatilho” do músculo

A leucina, aminoácido essencial, é destacada como chave para ativar a via mTOR e iniciar a MPS. Em idosos, a sensibilidade a esse sinal está atenuada, motivo pelo qual refeições que atinjam cerca de 2,8–3,0 g de leucina aumentam a chance de ultrapassar o limiar necessário para uma resposta anabólica robusta. Alimentos/proteínas com alto teor de leucina (ex.: laticínios, carnes, whey/caseína) tendem a ser particularmente eficazes.

Proteína antes de dormir

A revisão aponta evidências de que ~40 g de proteína pré-sono (p. ex., caseína) podem sustentar a MPS durante a noite, sobretudo quando combinadas a exercícios de resistência realizados mais cedo. Em ambiente hospitalar, esse hábito também aumentou a ingestão diária total de energia e proteína. 

Fontes: animal e vegetal — como combinar

  • Proteínas animais costumam apresentar perfil completo de aminoácidos, maior biodisponibilidade e teores mais altos de leucina, favorecendo a MPS e manutenção de força (ex.: carne bovina, peixes, ovos, laticínios, whey/caseína).
  • Proteínas vegetais (leguminosas, nozes e sementes, em especial) trazem benefícios anti-inflamatórios e podem ser protetoras renais quando comparadas a cortes processados/ricos em gordura saturada. Combinações adequadas (p. ex., leguminosas + sementes) ajudam a completar o espectro de aminoácidos essenciais.

Para onívoros, a revisão sugere diversificar: priorizar fontes animais de alto valor biológico (com atenção à qualidade do corte e processamento) e elevar a cota de vegetais ricos em proteína (feijões, lentilhas, grão-de-bico, nozes, sementes).

Doença renal crônica (DRC): quando reduzir

O documento discute nuances em DRC: dietas hipoproteicas podem retardar progressão e reduzir proteinúria em estágios específicos e perfis clínicos, ao passo que ingestas muito baixas podem piorar desfechos globais (ex.: mortalidade) pela perda de massa magra. Em idosos com DRC não dialítica, recomendações clássicas variam de 0,55–0,8 g/kg/dia, mas a decisão é clínica e individualizada, considerando estágio da doença, estado nutricional e riscos de catabolismo. Ajustes devem ser feitos com médico/nutricionista.

Barreiras reais — e como contornar

  • Custo: alimentos proteicos podem pesar no orçamento. Estratégias de custo-efetividade citadas incluem ovos, laticínios e planejamento com refeições prontas/proteicas caseiras.
  • Dentição e deglutição: perdas dentárias são comuns e dificultam mastigação. Texturização (carnes moídas, cozimento lento, patês, iogurtes, queijos macios) facilita atingir metas.
  • Apetite reduzido: fracionar em 3 refeições + 1 lanche proteico, priorizar primeiro a proteína do prato e usar bebidas/cremes proteicos podem ajudar a “bater a meta” diária.

Checklist prático

  1. Calcule a meta diária: 1,0–1,2 g/kg (saudáveis) ou 1,2–1,5 g/kg (doença/risco); considerar até 2,0 g/kg em casos selecionados sob supervisão.
  2. Distribua em 25–30 g/ refeição (≈0,4 g/kg), com 3 refeições e, se possível, 1 lanche proteico.
  3. Garanta leucina suficiente em cada refeição (alimentos ricos ou suplementos quando indicado).
  4. Considere 40 g pré-sono (caseína/whey/alimento proteico), sobretudo nos dias com treino de força.
  5. Diversifique as fontes: animais e vegetais (dar ênfase a leguminosas, nozes e sementes no grupo vegetal).
  6. Ajuste para DRC e condições específicas com equipe de saúde.
  7. Adapte textura e custo: ovos, laticínios, carnes cozidas lentamente, patês e opções acessíveis.

Lacunas e próximos passos

A revisão identifica campos que ainda pedem melhor definição: impacto da proteína em respostas vacinais (e quais aminoácidos estratégicos otimizam a imunidade em idosos), melhor fonte para o pré-sono, e alvos específicos por doença (cardiovascular, AVC, câncer, osteoporose) em protocolos nutricionais nuançados por condição. Até que novas diretrizes granulares sejam publicadas, prevalece o princípio de individualização com monitoramento funcional (força de preensão, desempenho físico), composição corporal e função renal.

Conclusão

A mensagem central da revisão é pragmática: idosos se beneficiam de metas proteicas superiores à RDA, distribuídas ao longo do dia, com atenção especial à leucina e ao pré-sono, combinadas a exercício de resistência e escolhas de boa qualidade (animais e vegetais). Essa abordagem reduz o declínio músculos-osso, sustenta a imunocompetência e preserva a independência, sempre com adaptações para comorbidades e limitações individuais.

Fonte: https://doi.org/10.3390/nu17152461

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