O efeito da dieta cetogênica sobre agressividade e violência em pacientes com transtornos mentais graves: uma revisão sistemática


A crescente busca por abordagens terapêuticas não farmacológicas na psiquiatria levou pesquisadores a investigarem estratégias nutricionais que possam influenciar sintomas comportamentais severos. A dieta cetogênica, tradicionalmente utilizada no manejo da epilepsia refratária, tem emergido como candidata promissora no tratamento de condições neuropsiquiátricas. Dentro deste contexto, o estudo “The Effect of the Ketogenic Diet on Aggression and Violence in Patients with Severe Mental Illness: A Systematic Review”, conduzido por Eleanor Rees e Gurpreet Kaler, teve como objetivo examinar o impacto da dieta cetogênica sobre comportamentos agressivos e violentos em indivíduos com transtornos mentais graves.

Objetivo da revisão

A proposta do estudo foi explorar a literatura existente sobre a influência da dieta cetogênica na agressividade e na violência em pacientes psiquiátricos graves. Partindo da hipótese de que essa intervenção alimentar poderia reduzir tais comportamentos, os autores buscaram identificar possíveis mecanismos envolvidos e reunir evidências que fundamentassem essa associação.

Metodologia empregada

A revisão seguiu as diretrizes do PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses) e incluiu buscas sistemáticas em diversas bases de dados biomédicas, como MEDLINE, PsycINFO, Scopus, Web of Science, Cochrane Library, PubMed e Open Grey. Foram definidos critérios rigorosos de inclusão e exclusão, e a avaliação da qualidade dos estudos foi realizada por meio das ferramentas da Joanna Briggs Institute.

Ao todo, 32 fontes foram incluídas na revisão final. Embora nem todas investigassem diretamente a agressividade, 26 delas apresentaram resultados que, por associação, indicavam uma potencial redução da agressividade e da violência em pacientes submetidos à dieta cetogênica.

Principais achados

Os autores identificaram três mecanismos principais pelos quais a dieta cetogênica poderia exercer efeitos benéficos sobre o comportamento agressivo:

  • Aumento do β-hidroxibutirato (BHB): Este corpo cetônico, principal marcador metabólico da cetose, possui propriedades anti-inflamatórias e neuromoduladoras. Estudos indicam que níveis elevados de BHB podem modular neurotransmissores excitatórios e inibitórios, contribuindo para maior estabilidade emocional.
  • Aumento do ácido gama-aminobutírico (GABA): A dieta cetogênica parece favorecer a síntese e a atividade do GABA, neurotransmissor inibitório associado à redução de impulsividade e agressividade.
  • Aumento do fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF): O BDNF é essencial para a plasticidade sináptica e a estabilidade das redes neurais. Níveis aumentados de BDNF foram observados em pacientes que seguiram a dieta cetogênica, o que pode favorecer o equilíbrio emocional e o controle do comportamento.

Ainda que os estudos incluídos não tenham sido conduzidos exclusivamente com foco em agressividade, os autores identificaram relatos consistentes de redução de comportamentos impulsivos e violentos em pacientes com esquizofrenia, transtorno bipolar e epilepsia refratária, entre outros quadros neurológicos e psiquiátricos.

Conclusão e perspectivas

Embora a literatura disponível ainda seja limitada e baseada em grande parte em inferências e associações indiretas, a revisão sugere que a dieta cetogênica possui potencial terapêutico na modulação de comportamentos agressivos em contextos psiquiátricos. No entanto, os autores ressaltam a necessidade urgente de estudos clínicos randomizados, tanto em ambientes ambulatoriais quanto hospitalares, com foco específico em agressividade e violência. Tais investigações poderiam consolidar a dieta cetogênica como ferramenta complementar no manejo de pacientes com transtornos mentais graves, reduzindo a necessidade de intervenções farmacológicas ou contenções físicas.

Fonte: https://doi.org/10.1192/bjo.2025.10213

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