Os abacates são frequentemente promovidos como alimentos benéficos para a saúde cardiovascular devido ao seu alto teor de ácidos graxos monoinsaturados (MUFA), fibras, potássio e compostos bioativos. No entanto, os efeitos reais de seu consumo sobre os fatores de risco cardiovascular permanecem controversos. Para esclarecer essa questão, um grupo de pesquisadores conduziu uma meta-análise rigorosa de ensaios clínicos randomizados (ECRs), avaliando os efeitos do consumo de produtos derivados do abacate sobre diferentes parâmetros metabólicos e cardiovasculares em adultos.
Estrutura e Metodologia da Revisão
A pesquisa, publicada na revista Food Science & Nutrition em 2025, seguiu os critérios PRISMA e incluiu 10 ECRs com 2.354 participantes. Foram analisados os seguintes desfechos clínicos:
- Perfil lipídico (colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos)
- Glicemia de jejum
- Proteína C-reativa (PCR)
- Pressão arterial (sistólica e diastólica)
- Índice de massa corporal (IMC)
Os estudos variaram de 4 a 24 semanas de duração e incluíram adultos saudáveis, obesos e portadores de síndrome metabólica. A dose de abacate variou de 25g a 300g por dia.
Principais Resultados
1. LDL (colesterol de baixa densidade)
Houve uma redução estatisticamente significativa de -3,75 mg/dL nos níveis de LDL com o consumo de abacate (p < 0,001). O efeito foi mais evidente:
- Em participantes com LDL basal ≥ 100 mg/dL
- Com duração da intervenção superior a 6 semanas
- Em indivíduos obesos (IMC > 30)
2. Pressão Arterial Sistólica (PAS)
Foi observada uma redução modesta porém significativa na PAS (-1,15 mmHg; p = 0,03), principalmente em estudos com duração superior a 6 semanas e PAS basal elevada.
3. Colesterol Total, HDL, Triglicerídeos e Glicemia
Esses marcadores não sofreram alterações significativas com o consumo de abacate. A qualidade da evidência foi considerada baixa para triglicerídeos e colesterol total, e alta para glicemia.
4. Proteína C-Reativa (PCR)
Houve uma redução discreta, mas não significativa (p = 0,06). Contudo, análises de sensibilidade sugerem que a exclusão de certos estudos alteraria este resultado para estatisticamente significativo.
5. Índice de Massa Corporal (IMC)
Não foram observadas mudanças significativas no IMC com a suplementação de abacate (p = 0,31).
Qualidade da Evidência (GRADE)
A avaliação GRADE revelou:
- Alta qualidade de evidência para os efeitos sobre LDL, PCR, glicemia e IMC.
- Moderada a baixa qualidade para HDL, pressão diastólica, colesterol total e triglicerídeos, devido à inconsistência entre os estudos e imprecisão nos resultados.
Considerações e Limitações
Embora o estudo confirme efeitos benéficos modestos na redução de LDL e pressão sistólica, os autores alertam para limitações importantes:
- Alto grau de heterogeneidade entre os estudos, especialmente para colesterol total e triglicerídeos.
- Pequenos tamanhos amostrais em alguns ensaios.
- Ausência de registro prévio do protocolo da revisão.
Além disso, os benefícios observados são mais consistentes com intervenções prolongadas (> 6 semanas) e doses moderadas a altas de abacate.
Conclusão
O consumo regular de abacate pode oferecer benefícios cardiovasculares modestos, especialmente na redução de LDL e pressão arterial sistólica. No entanto, não há evidência robusta de impacto sobre outros marcadores como triglicerídeos, colesterol total, HDL, glicemia de jejum ou IMC.
Esses dados reforçam a importância do abacate como parte de uma dieta equilibrada, mas não sustentam seu uso isolado como ferramenta terapêutica para controle de múltiplos fatores de risco cardiovascular. Ensaios clínicos mais longos, com maior rigor metodológico e populações diversas, são necessários para elucidar melhor esses efeitos.
