A obesidade tornou-se um problema de saúde pública de proporções globais, com previsões alarmantes: estima-se que, entre 2030 e 2035, metade da população mundial esteja acima do peso ou obesa. Associada a múltiplas doenças, desde condições cardiometabólicas até certos tipos de câncer, a obesidade representa um grande desafio clínico e social. Tradicionalmente, a principal recomendação dietética para tratar a obesidade tem sido a dieta mediterrânea (MedDiet), conhecida pelos seus benefícios cardiovasculares quando associada à restrição calórica.
No entanto, novas estratégias alimentares vêm ganhando destaque. Entre elas estão a dieta cetogênica (KD), que reduz drasticamente o consumo de carboidratos; a alimentação com restrição de tempo (TRE), que limita o período diário de ingestão de alimentos; e o jejum alternado modificado (mADF), que intercala dias de jejum parcial e alimentação normal. O estudo conduzido por Martínez-Montoro e colaboradores buscou justamente comparar esses métodos com a MedDiet tradicional, avaliando qual intervenção seria mais eficaz na redução de peso em adultos obesos.
Estrutura do estudo
O ensaio clínico randomizado, realizado no Hospital Universitário Virgen de la Victoria (Espanha), incluiu 160 adultos com obesidade, dos quais 70% eram mulheres e cuja média de idade foi de aproximadamente 46 anos. Os participantes foram distribuídos em cinco grupos:
- MedDiet restrita em calorias (grupo controle)
- Dieta cetogênica (KD)
- TRE precoce (eTRE, janela de alimentação entre 8h e 16h)
- TRE tardio (lTRE, janela de alimentação entre 14h e 22h)
- Jejum alternado modificado (mADF)
Todos os grupos receberam planos alimentares personalizados para gerar um déficit calórico de cerca de 600 kcal/dia, com acompanhamento próximo por nutricionistas e monitoramento semanal da cetonemia.
Principais resultados
Após três meses, todos os grupos apresentaram perda significativa de peso, mas as reduções foram mais expressivas em alguns regimes. Os dados revelaram que:
- MedDiet: média de perda de 8,4 kg
- KD: perda média de 11,9 kg
- eTRE: perda média de 9,4 kg
- lTRE: perda média de 10,6 kg
- mADF: perda média de 11,8 kg
Quando comparados diretamente à MedDiet, as dietas KD, mADF e lTRE se destacaram com perdas adicionais de peso de aproximadamente 3,78 kg, 3,14 kg e 2,27 kg, respectivamente, após três meses. Já a eTRE não demonstrou diferença estatisticamente significativa em relação à MedDiet.
Além da perda de peso, foram observadas reduções na massa gorda em todos os grupos, com destaque para eTRE e mADF, que apresentaram maiores diminuições em comparação ao grupo controle. A massa magra, porém, manteve-se estável entre os grupos.
Em termos de marcadores cardiometabólicos (glicose, colesterol, pressão arterial e outros), não houve diferenças significativas entre as intervenções ao final do período, sugerindo que os benefícios foram majoritariamente atribuídos à redução de peso em si.
Considerações sobre segurança e adesão
O estudo não relatou eventos adversos graves ou óbitos relacionados às intervenções. A adesão foi considerada boa, com 87,5% dos participantes completando o protocolo de três meses. No entanto, como limitações, os autores destacaram o curto período de acompanhamento e a ausência de ferramentas de auto-relato alimentar mais rigorosas, que poderiam ter aumentado a precisão dos dados.
Reflexões e implicações
Os achados sugerem que abordagens como a dieta cetogênica, o jejum alternado e a alimentação com restrição de tempo no período noturno podem ser estratégias eficazes e viáveis para a perda de peso no curto prazo, superiores à MedDiet tradicional mesmo com restrição calórica. Um dado interessante foi a associação entre maior perda de peso e aumento dos níveis de cetonas, levantando hipóteses sobre o papel da cetose nutricional como mecanismo adicional de emagrecimento.
Contudo, os autores recomendam cautela: faltam estudos longitudinais para avaliar a eficácia e a segurança dessas intervenções no longo prazo, além de sua viabilidade para manutenção da perda de peso e adesão a longo prazo. Além disso, questões individuais, como preferências alimentares, rotina e condições de saúde específicas, devem ser consideradas na escolha da estratégia dietética.
Conclusão
A pesquisa reforça que não existe uma única abordagem para todos. Estratégias personalizadas, baseadas em evidências, continuam sendo fundamentais no manejo da obesidade. Os dados do estudo de Martínez-Montoro et al. representam um avanço relevante ao demonstrar que dietas de maior potencial cetogênico ou baseadas em jejum podem ser alternativas úteis, desde que acompanhadas por profissionais e inseridas em um contexto de restrição calórica controlada.
