O mito das frutas proteicas


Nos últimos anos, revistas e portais de saúde têm dado grande destaque a manchetes como “A fruta tropical rica em proteína que nutricionistas querem que você coma mais”. A reportagem recente da Women’s Health sobre o maracujá é um exemplo claro dessa tendência — sugerindo que frutas podem ser fontes expressivas de proteína ou mesmo alternativas equivalentes a alimentos de origem animal.

Mas, ao olhar com atenção os números e o papel real dos nutrientes na fisiologia humana, a conclusão é outra: vegetais e frutas não são essenciais para atingir metas proteicas nem para garantir a totalidade de micronutrientes necessários ao funcionamento do organismo.

O que realmente há no maracujá

Segundo o USDA FoodData Central, 100 g de maracujá cru contêm cerca de 2,2 g de proteína, e uma xícara (~236 g) fornece aproximadamente 5 g. À primeira vista, isso pode parecer alto — até que se entenda o contexto.

A meta mínima de proteína recomendada pela International Society of Sports Nutrition (ISSN) para adultos ativos varia entre 1,4 e 2,0 g/kg de peso corporal por dia.

Isso significa que:

  • uma pessoa de 70 kg precisa de cerca de 100 g de proteína/dia;
  • para atingir esse valor apenas com maracujá, seriam necessários aproximadamente 4,6 kg de polpa — o equivalente a quase 40 frutas médias por dia.

Em termos calóricos e práticos, isso é inviável. O volume seria altíssimo, o custo nutricional elevado em açúcares e fibras, e o teor proteico ainda insuficiente para sustentar síntese muscular, reparo tecidual ou manutenção hormonal adequados.

Comparação com alimentos de origem animal

A diferença entre alimentos vegetais e produtos de origem animal é marcante:

Alimento Quantidade Proteína (g)
Carne bovina cozida 100 g 26 g
Frango grelhado 100 g 31 g
Ovo inteiro 1 unidade (53 g) 7 g
Peixe (salmão, tilápia) 100 g 22–25 g
Iogurte natural 200 g 10 g

Enquanto 100 g de carne ou frango fornecem entre 5 e 6 vezes mais proteína do que uma xícara de maracujá, esses alimentos também entregam nutrientes fundamentais que são inexistentes ou limitados em vegetais — como vitamina B12, ferro heme, zinco altamente biodisponível, creatina, carnosina e taurina, além de aminoácidos essenciais em proporções ideais.

Esses compostos exercem funções vitais em energia celular, metabolismo neural e imunidade, e não podem ser obtidos em quantidades fisiologicamente adequadas apenas com vegetais. A deficiência cumulativa desses micronutrientes é documentada em dietas estritamente vegetais sem suplementação.

Por que vegetais e frutas não são essenciais para atingir metas nutricionais

Apesar de fornecerem fibras e alguns compostos antioxidantes, vegetais e frutas têm densidade proteica e mineral muito baixa. Mesmo suas vitaminas mais citadas — como a vitamina C — podem ser facilmente obtidas a partir de fígado, rins, ovos e carnes frescas, que contêm não apenas antioxidantes, mas também nutrientes essenciais que os vegetais não possuem.

A ideia de que vegetais são indispensáveis se consolidou mais por tradição cultural e marketing nutricional do que por evidência fisiológica. Populações que vivem com dietas baseadas em alimentos animais — como inuítes, masais e mongóis — apresentaram boa saúde metabólica por séculos sem acesso a frutas ou vegetais frescos, o que demonstra que os nutrientes essenciais à vida humana estão presentes em alimentos de origem animal.

Portanto, a inclusão de frutas deve ser uma escolha de prazer ou variedade, não uma exigência fisiológica.

O papel opcional das frutas na dieta

Comer frutas pode ser agradável e complementar: o maracujá, por exemplo, oferece pequenas quantidades de vitamina C, potássio e fibras, o que pode contribuir para digestão e sabor das refeições. Contudo, esses benefícios são marginais quando comparados à importância estrutural das proteínas, gorduras e micronutrientes encontrados em carnes, ovos e laticínios.

Em outras palavras, quem deseja incluir frutas deve fazê-lo porque gosta do sabor, e não porque acredita que são indispensáveis para saúde.

A maioria das orientações que elevam frutas e vegetais ao status de alimentos obrigatórios ignora que a base nutricional do corpo humano é construída a partir de proteínas completas e gorduras animais, não de carboidratos fibrosos e antioxidantes vegetais.

Conclusão

O caso do maracujá ilustra bem como o discurso nutricional moderno muitas vezes distorce proporções e relevâncias. Embora a fruta seja saborosa e contenha alguns nutrientes úteis, apresentá-la como uma “fonte de proteína” é enganoso do ponto de vista biológico.

Uma dieta centrada em alimentos animais — carnes, ovos, vísceras, peixes e laticínios — fornece todos os aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais em formas biodisponíveis, o que torna possível atingir as metas proteicas e nutricionais completas sem necessidade de suplementação.

Já uma dieta sem alimentos de origem animal dificilmente alcança esses parâmetros sem recorrer a suplementos artificiais de B12, ferro, zinco, creatina e até mesmo aminoácidos isolados.

Assim, se alguém deseja adicionar frutas à alimentação, que o faça por prazer ou diversidade, não como substituto ou base nutricional. O ideal é tratá-las como complementos ocasionais, e não como “superalimentos” essenciais — como muitas manchetes sugerem.

Fonte: https://www.womenshealthmag.com/uk/food/healthy-eating/a68995012/high-protein-tropical-fruit/

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