O estudo analisou algo simples e prático: beber diferentes quantidades de carboidratos durante um jogo de futebol com prorrogação (120 minutos) melhora o desempenho físico, técnico ou mental dos jogadores?
A recomendação comum é consumir 30–60 g de carboidratos por hora em jogos de 90 minutos. Porém, ninguém tinha comparado diretamente diferentes doses durante um jogo prolongado. Por isso, os autores investigaram três situações:
- Sem carboidrato
- Carboidrato moderado
- Carboidrato alto (além das recomendações)
O foco era entender se, na prática, mais carboidrato durante o jogo realmente faz diferença, considerando que todos os atletas chegaram bem alimentados com carboidratos antes da partida.
Como o estudo foi feito
- Participantes: 12 jogadores competitivos (≈24 anos).
- Protocolo: cada jogador realizou 3 simulações completas de jogo, com 120 minutos, incluindo prorrogação.
- Consumiram bebidas em momentos estratégicos (antes do jogo, intervalo, fim do tempo normal e entre as prorrogações).
- Bebidas testadas:
- Placebo (0 g)
- Moderado (~54 g/h de maltodextrina)
- Alto (~82 g/h maltodextrina+frutose)
- Antes de cada sessão, todos seguiram a mesma alimentação rica em carboidratos para iniciar o jogo com glicogênio adequado.
Foram avaliados:
- Desempenho físico: tiros de 15 m e salto vertical.
- Técnica: teste de passes LSPT.
- Cognição: tempo de reação e tarefas tipo Stroop.
- Sintomas gastrointestinais, glicemia, lactato, percepção de esforço.
Resultados principais (explicados de forma simples)
1. Desempenho físico
- Todos os jogadores ficaram mais lentos nos sprints na prorrogação.
- Nenhuma das estratégias de carboidrato evitou essa queda.
- Saltos também não melhoraram com carboidratos.
- Conclusão: mais carboidrato não preservou força nem velocidade.
2. Habilidade técnica (passes)
- O tempo total para completar o teste não mudou entre os grupos.
- Apenas um detalhe: o grupo de dose alta cometeu menos penalidades do que a dose moderada.
- Mas isso não foi melhor do que o placebo.
- Conclusão: não houve melhoria técnica relevante.
3. Desempenho cognitivo
- Os tempos de reação melhoraram ao longo do jogo, provavelmente por efeito de prática, não pelos carboidratos.
- Não houve diferenças entre os grupos.
4. Glicemia e tolerância
- A glicemia ficou mais alta nos grupos com carboidratos, como esperado.
- Nenhuma diferença significativa de desconforto gastrointestinal.
- Conclusão: doses altas foram toleradas, mas não trouxeram benefícios de desempenho.
Interpretação geral
O estudo mostra que, quando os atletas chegam bem abastecidos com carboidratos antes do jogo, tomar mais carboidrato durante um jogo de 120 minutos:
- não melhora sprints,
- não melhora saltos,
- não melhora cognição,
- tem efeito mínimo sobre habilidade técnica,
- não evita a queda de desempenho na prorrogação.
Ou seja, o mais importante é a estratégia nutricional antes do jogo. Durante a partida, ingerir carboidrato ajuda a manter a glicemia, mas não produz ganhos de performance quando o pré-jogo já está adequado.
Conclusão
Para jogos longos ou com prorrogação, este estudo mostra que a chave é começar o jogo com reservas de energia bem preenchidas. Diferentes quantidades de carboidratos durante o jogo não alteraram o desempenho físico ou cognitivo dos jogadores. A dose mais alta pode ajudar um pouco no controle de penalidades no teste de passe, mas isso ainda não é conclusivo.
Em termos práticos: o pré-jogo importa mais do que o que se bebe durante o jogo.
