Estimativa dos efeitos da metformina sobre o diabetes e suas complicações no estudo Diabetes Prevention Program Outcomes Study


O estudo Diabetes Prevention Program Outcomes Study (DPPOS) acompanhou, por mais de 20 anos, mais de dois mil adultos com prediabetes, isto é, pessoas com glicose mais alta do que o normal, mas ainda sem diagnóstico de diabetes tipo 2.

O objetivo era descobrir se o uso prolongado da metformina, um medicamento amplamente utilizado para controlar o açúcar no sangue, poderia prevenir ou retardar o diabetes e reduzir as complicações associadas à doença.

O DPPOS é uma continuação do estudo Diabetes Prevention Program (DPP), iniciado em 1996. Naquela fase inicial, os participantes foram divididos em três grupos:

  1. Um grupo recebeu metformina;
  2. Outro grupo recebeu placebo (uma pílula sem efeito medicinal);
  3. Um terceiro grupo foi orientado a fazer mudanças intensivas no estilo de vida, com foco em alimentação equilibrada e prática regular de atividade física.

Após três anos, os resultados mostraram que tanto a metformina quanto as mudanças no estilo de vida reduziram significativamente o risco de desenvolver diabetes tipo 2, com destaque para o grupo de estilo de vida, que teve uma redução de 58% na incidência da doença, enquanto o grupo da metformina teve 31% de redução em relação ao placebo.

O que aconteceu nas décadas seguintes

Com o tempo, os pesquisadores quiseram entender se a metformina poderia proteger contra complicações do diabetes, como doenças nos rins, no coração, câncer ou aumento da mortalidade.

No entanto, conforme os anos passaram, muitos participantes do grupo placebo passaram a tomar metformina por indicação médica ao desenvolver diabetes, enquanto parte dos que usavam metformina parou o medicamento.

Essas mudanças dificultaram as comparações diretas entre os grupos, já que as condições de tratamento se misturaram.

Mesmo com métodos estatísticos sofisticados para corrigir essas diferenças — como análise por intenção de tratar, análise conforme o tratamento, variável instrumental e ponderação por probabilidade inversa de censura —, os resultados principais permaneceram os mesmos:

  • A metformina reduziu de forma consistente o risco de desenvolver diabetes tipo 2 em pessoas com prediabetes.
  • Não houve evidência sólida de que o uso prolongado do medicamento reduza complicações cardiovasculares, câncer, doenças renais ou mortalidade.
  • A eficácia preventiva da metformina diminuiu ao longo do tempo, especialmente após o diagnóstico de diabetes e a introdução de outros medicamentos.

O que o estudo nos ensina

O DPPOS confirma algo importante: a metformina funciona bem para prevenir o diabetes em pessoas com risco elevado, mas seus benefícios além da prevenção são limitados.

Os autores também mostraram que, em estudos longos, é difícil manter os participantes exatamente nos tratamentos originais — o que torna a análise mais complexa e os resultados menos conclusivos sobre efeitos de longo prazo.

Ainda assim, a pesquisa reforça o valor da metformina como ferramenta segura e acessível na prevenção do diabetes tipo 2.

Mas, de forma igualmente importante, ela destaca que o grupo que apenas mudou o estilo de vida — com perda de peso e atividade física regular — teve resultados ainda melhores na prevenção da doença, sem depender de medicamentos.

Reflexão final

Os medicamentos como a metformina são excelentes aliados no tratamento e prevenção do diabetes, especialmente quando usados com acompanhamento médico e em situações específicas.

No entanto, nenhum remédio substitui os benefícios duradouros de uma alimentação adequada, do controle do peso e da prática regular de exercícios.

Para alcançar uma saúde realmente otimizada, o foco principal deve estar em mudanças sustentáveis de estilo de vida, nas quais a alimentação exerce papel central — e os medicamentos entram como suporte, não como substitutos, dessas escolhas.

Fonte: https://doi.org/10.2337/dci25-0032

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