Dieta com baixo teor de carboidratos, excesso de peso e incontinência urinária em mulheres: resultados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos EUA


A incontinência urinária é um problema muito comum entre mulheres, capaz de afetar a autoestima, a vida social e até a saúde mental. Ela se manifesta de diferentes formas: algumas mulheres perdem urina ao tossir, rir ou levantar peso (chamada incontinência de esforço), outras sentem vontade urgente de urinar e não conseguem segurar (de urgência), e há aquelas que apresentam as duas situações (mista). O estudo conduzido por Wei Lv, Xiaoli Zhao e Lidan Liu, publicado em 2025 no periódico BMC Women’s Health, analisou como a alimentação pode influenciar esse quadro, especialmente entre mulheres com sobrepeso e obesidade.

Contexto do estudo

Pesquisas anteriores já mostravam que o excesso de peso aumenta a pressão sobre o abdômen e o assoalho pélvico, elevando o risco de incontinência. Além disso, o acúmulo de gordura corporal pode causar inflamação, alterar hormônios e piorar o controle da bexiga. Diante disso, os autores decidiram investigar se uma dieta com menos carboidratos — e, portanto, com maior proporção de proteínas e gorduras — poderia amenizar esse impacto.

Como o estudo foi feito

Os pesquisadores utilizaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos (NHANES), abrangendo o período de 2007 a 2018, com um total de 13.733 mulheres acima de 18 anos. Elas foram divididas conforme o Índice de Massa Corporal (IMC) em três grupos: peso normal, sobrepeso e obesidade. A partir de recordatórios alimentares de 24 horas, foi calculado um “escore de dieta pobre em carboidratos”. As participantes foram classificadas em dois grupos: baixo escore de carboidratos (maior consumo de carboidratos) e alto escore (menor consumo de carboidratos e maior ingestão de proteínas e gorduras).

As perguntas usadas para identificar a incontinência foram simples: se a mulher havia perdido urina durante esforços (como tossir ou se exercitar) e se havia perdido urina por urgência (vontade súbita de urinar). Assim, os pesquisadores puderam identificar os tipos principais: incontinência de esforço (SUI), de urgência (UUI), mista (MUI) e qualquer tipo de incontinência (UI).

Resultados principais

O estudo revelou que mulheres com sobrepeso ou obesidade apresentavam maior risco de incontinência urinária, independentemente da dieta. No entanto, quanto menor o consumo de carboidratos, menor foi o impacto do excesso de peso sobre a incontinência. Em outras palavras, a dieta com menos carboidratos reduziu parcialmente o risco de perda urinária associada ao excesso de peso.

  • Em mulheres com IMC acima de 30 kg/m², o risco de incontinência de esforço e mista foi significativamente maior.
  • Contudo, entre as mulheres que seguiam uma dieta com baixo teor de carboidratos, essa associação foi mais fraca, indicando efeito protetor da dieta.
  • O mesmo padrão se repetiu para os outros tipos de incontinência (urgência e mista), mostrando que quanto maior o escore de dieta com menos carboidratos, menor o risco geral.

Esses resultados foram observados tanto em mulheres na pré-menopausa quanto na pós-menopausa, sugerindo que o efeito não depende exclusivamente da idade ou do status hormonal.

Interpretação dos achados

Os autores explicam que uma dieta com menos carboidratos pode ajudar de várias formas. Primeiro, ela tende a reduzir o peso corporal, o que por si só diminui a pressão sobre a bexiga. Além disso, esse tipo de alimentação melhora a sensibilidade à insulina, controla a glicose e reduz a inflamação, fatores todos implicados na saúde do trato urinário. Estudos anteriores já haviam sugerido que a dieta cetogênica — uma versão mais restrita em carboidratos — poderia melhorar sintomas urinários em pessoas com obesidade.

Limitações do estudo

Apesar dos resultados promissores, o trabalho tem limitações. Por ser um estudo observacional e transversal, ele mostra apenas uma associação, e não uma relação de causa e efeito. Além disso, os dados alimentares e de sintomas urinários foram autorrelatados, o que pode gerar erros de memória ou interpretação. Outro ponto é que a amostra representa mulheres dos Estados Unidos, o que pode limitar a generalização dos achados para outras populações.

Conclusão

O estudo indica que adotar uma dieta com menos carboidratos pode reduzir o impacto do sobrepeso e da obesidade na incontinência urinária feminina. Essa estratégia parece oferecer proteção adicional ao assoalho pélvico, possivelmente ao promover melhor controle metabólico e perda de peso. Embora novas pesquisas sejam necessárias para confirmar a relação causal, as evidências sugerem que reduzir carboidratos e priorizar proteínas e gorduras saudáveis pode ser uma abordagem útil para mulheres que sofrem de incontinência urinária associada ao excesso de peso.

Fonte: https://doi.org/10.1186/s12905-025-04012-7

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