O estudo conduzido por Miho Suzuki e colegas da Universidade de Yamagata, no Japão, analisou a relação entre o consumo frequente de macarrão tipo ramen e o risco de morte por diversas causas em adultos japoneses. Publicado no Journal of Nutrition, Health and Aging em 2025, o trabalho faz parte de uma ampla pesquisa populacional conhecida como Yamagata Cohort Study, que acompanha milhares de moradores da região para investigar hábitos alimentares e desfechos de saúde ao longo do tempo.
Contexto
O ramen é uma refeição popular no Japão, composta por macarrão de trigo servido em caldo salgado, acompanhado de carnes, vegetais e algas. Segundo dados do Ministério de Assuntos Internos e Comunicações, entre 2021 e 2023 o gasto médio anual com ramen por domicílio foi superior ao de outros tipos de macarrão, como soba e udon.
Apesar de ser culturalmente importante, o ramen contém altas quantidades de sódio. Cada tigela pode ultrapassar facilmente o limite diário de sal recomendado pelas diretrizes japonesas — menos de 7,5 g para homens e 6,5 g para mulheres. No entanto, levantamentos nacionais mostram que a população japonesa consome, em média, 9,8 g de sal por dia, valor bem acima do ideal.
O excesso de sódio está associado a doenças como hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC) e câncer gástrico. Estudos anteriores já haviam demonstrado que regiões japonesas com maior número de restaurantes de ramen também apresentavam taxas mais altas de mortes por AVC, mas até agora faltavam dados sobre o consumo individual e sua relação com a mortalidade.
Como o estudo foi conduzido
Foram analisados 6.725 participantes com 40 anos ou mais, acompanhados de forma contínua até dezembro de 2023. Cada pessoa respondeu a um questionário sobre a frequência com que comia ramen:
- menos de 1 vez por mês,
- 1–3 vezes por mês,
- 1–2 vezes por semana,
- 3 vezes por semana ou mais.
Além disso, o estudo perguntou quanto do caldo era ingerido, já que grande parte do sal do prato está no líquido. Os participantes também forneceram informações sobre idade, peso, tabagismo, consumo de álcool e presença de doenças como diabetes, hipertensão e dislipidemia.
Durante o período de acompanhamento (média de 4,5 anos), 145 pessoas morreram — 100 por câncer e 29 por doenças cardiovasculares.
Os pesquisadores utilizaram análises estatísticas (modelo de riscos proporcionais de Cox) para verificar se a frequência de consumo estava relacionada ao risco de morte, ajustando os resultados para fatores como idade, sexo, tabagismo e comorbidades.
Principais resultados
A frequência de consumo foi distribuída da seguinte forma:
- 18,9% comiam menos de 1 vez por mês,
- 46,7% de 1 a 3 vezes por mês,
- 27% de 1 a 2 vezes por semana,
- 7,4% 3 vezes por semana ou mais.
Os que consumiam ramen com maior frequência apresentavam, em geral, índice de massa corporal mais alto, eram mais jovens, fumavam mais, bebiam mais álcool e tinham mais casos de diabetes e hipertensão.
Após ajustar os dados, o grupo que comia ramen 3 vezes por semana ou mais mostrou um risco 52% maior de mortalidade em comparação com o grupo de referência (1–2 vezes por semana), embora o resultado não tenha sido estatisticamente significativo para toda a população.
Entretanto, em subgrupos específicos, o risco foi mais evidente:
- Homens tiveram aumento significativo no risco de morte.
- Pessoas com menos de 70 anos apresentaram risco duas vezes maior.
- Aqueles que bebiam mais da metade do caldo também tiveram mortalidade mais elevada.
- Em quem consumia álcool regularmente, o risco foi quase três vezes maior.
Esses achados sugerem que o impacto negativo do ramen depende fortemente do contexto de consumo, especialmente da quantidade de caldo ingerido e do estilo de vida associado (como bebida alcoólica e tabagismo).
Interpretação dos pesquisadores
Os autores ressaltam que o ramen é uma das principais fontes de sódio na dieta japonesa, especialmente entre homens jovens. A combinação de excesso de sal, álcool e hábito de fumar pode criar um terreno propício para hipertensão, AVC e câncer gástrico, aumentando a mortalidade.
Eles também observam que quem come ramen com menos frequência (menos de 1 vez por mês) apresentou risco mais alto em alguns grupos, o que pode estar relacionado a condições pré-existentes — por exemplo, pessoas com doenças crônicas que já evitavam sal por orientação médica.
Entre as limitações, o estudo destaca:
- ausência de dados sobre a quantidade exata de ramen por porção ou o tipo de caldo (tonkotsu, miso, shoyu etc.);
- uso de questionário autodeclarado, sujeito a erros de memória;
- falta de informações sobre atividade física, estado socioeconômico e ingestão de outros alimentos.
Conclusão
O estudo conclui que o consumo frequente de ramen está associado a um maior risco de mortalidade em homens, pessoas com menos de 70 anos e consumidores que ingerem grande parte do caldo e álcool.
Embora não prove uma relação direta de causa e efeito, a pesquisa sugere que moderar a frequência e evitar o consumo do caldo pode reduzir os riscos relacionados ao excesso de sódio.
Para a população em geral, a mensagem é clara: o ramen deve ser visto como um prato ocasional, especialmente para quem tem histórico de pressão alta ou problemas cardiovasculares.
