O Papel dos Alimentos na Saúde: Como a Escolha dos Nutrientes Impacta o Corpo Humano (1891)


No final do século XIX, médicos e farmacêuticos começaram a organizar manuais que reuniam recomendações de dieta e medicamentos para diversas doenças. Um desses documentos foi publicado em 1891 pela casa Reed & Carnrick, nos Estados Unidos, sob o título An abstract of the symptoms, with the latest dietetic and medicinal treatment of various diseased conditions: the food products, digestion and assimilation.

Embora tivesse um claro caráter promocional de produtos industriais da própria empresa, o texto oferece uma visão histórica sobre a maneira como a ciência médica daquele tempo entendia a nutrição e o papel dos alimentos de origem animal. Ele combina instruções dietéticas para doenças comuns, descrições químico-fisiológicas da digestão e tabelas comparativas de alimentos.

Para quem lê hoje, esse documento é valioso não como guia prático de conduta clínica, mas como retrato de uma época em que médicos reconheciam que carne, ovos, leite e gorduras animais eram fundamentos da saúde humana.

Classificação dos nutrientes

Um dos trechos mais marcantes do compêndio é a divisão dos alimentos em três grandes grupos:

  1. Substâncias inorgânicas — água e minerais, fundamentais para reações químicas e equilíbrio do corpo, mas que não fornecem energia nem participam da construção direta de tecidos.
  2. CHO (carboidratos e gorduras vegetais) — englobando açúcar, amido e óleos vegetais. Forneciam energia rápida, mas eram vistos como facilmente excessivos, podendo sobrecarregar o organismo e provocar fermentações anormais no intestino, acúmulo de gordura no sangue e desequilíbrios metabólicos.
  3. CHNOS (proteínas e gorduras animais) — compostos presentes em carnes, ovos, leite e frutos do mar. Eram considerados os mais importantes, pois forneciam a base para a formação de músculos, órgãos e secreções digestivas. Também eram vistos como melhor aproveitados pelo corpo, sem os efeitos nocivos atribuídos ao excesso de carboidratos.

Esse raciocínio já sugeria que uma dieta rica em proteínas e gorduras animais era mais eficiente para sustentar a saúde e recuperar doentes, enquanto carboidratos em excesso poderiam fragilizar o equilíbrio metabólico.

O papel dos alimentos de origem animal

Leite e derivados

O leite era considerado um alimento essencial. Aparecia como primeira opção em dietas de pessoas debilitadas, com distúrbios digestivos ou em recuperação. Quando havia dificuldade de digestão, recomendava-se o “leite peptonizado”, já parcialmente digerido por enzimas, para reduzir o esforço do estômago.

Produtos industriais derivados do leite, como Carnrick’s food e lacto-preparata, eram promovidos como alternativas práticas ao leite fresco. Já o Kumysgen, bebida fermentada semelhante ao kefir, era recomendado pela fácil digestão e por seu efeito estimulante em estados de fraqueza.

Ovos

Os ovos surgiam como etapa seguinte na progressão alimentar, após o paciente suportar líquidos. Eram descritos como alimento de boa digestibilidade, capazes de fornecer material plástico para a reconstrução dos tecidos sem sobrecarregar o sistema digestivo.

Carnes

A carne recebia atenção especial. O manual diferenciava carne magra, carne gorda e carne média, atribuindo a cada uma teores distintos de proteína e gordura. As tabelas comparativas mostravam, por exemplo, que a carne magra continha quase 20% de proteínas de alta qualidade.

Ao calcular dietas-modelo, os autores concluíam que a dieta exclusivamente carnívora fornecia todos os elementos necessários para a vida — proteínas, gorduras e até certa quantidade de carboidratos sob forma de glicogênio. Afirmavam ainda que a chamada “dieta animal de W. H. Porter” rendia o mesmo que uma dieta mista, tornando claro que a carne podia sustentar plenamente o organismo.

Gordura animal

A gordura de carnes e laticínios era valorizada não apenas como fonte de energia, mas também como elemento de lubrificação e como parte do funcionamento das secreções digestivas. O texto alertava que dietas muito ricas em carboidratos sobrecarregavam o organismo, enquanto gorduras e proteínas animais forneciam energia mais estável e melhor aproveitada.

Queijos e manteiga

Os queijos eram descritos como concentrados em proteínas e sais minerais, úteis mas exigentes em termos de digestão. A manteiga, por sua vez, era considerada fonte de gordura facilmente assimilável e indicada como reforço energético em períodos de convalescença.

Dietas-modelo

As tabelas do compêndio comparavam dietas compostas de:

  • Carne magra e batata
  • Carne e lentilhas
  • Carne comum isolada

O resultado da análise era claro: embora misturas com vegetais pudessem equilibrar carboidratos e proteínas, quase sempre havia excesso de substâncias CHO (açúcares e amidos). A exceção era a combinação carne com lentilhas. Mesmo assim, a dieta baseada apenas em carne comum foi destacada como completa, capaz de oferecer todos os nutrientes essenciais em proporções adequadas.

Relevância em doenças

O manual descreve o uso de alimentos de origem animal em várias condições:

  • Dispepsia gástrica: recomendava-se iniciar com preparações líquidas e leite, depois passar para ovos e, por fim, carnes magras.
  • Dispepsia intestinal e hepática: sugeria-se reduzir o volume de carboidratos e valorizar proteínas de fácil digestão, como leite fermentado, ovos e carne leve.
  • Estados de fraqueza, febre ou convalescença: leite peptonizado, caldos de carne e ovos eram vistos como formas de nutrição pronta para ser absorvida.
  • Anemias e desnutrição: alimentos animais eram indispensáveis para fornecer ferro, proteínas e gorduras de boa qualidade.

Essas recomendações reforçam a ideia de que, para a medicina da época, os alimentos de origem animal eram não apenas importantes, mas essenciais no processo de recuperação da saúde.

Conclusão

O compêndio de 1891 mostra que já no século XIX havia uma distinção clara entre o papel dos diferentes grupos de nutrientes. Enquanto água e minerais eram auxiliares indispensáveis e carboidratos funcionavam como combustível rápido, as proteínas e gorduras animais eram vistas como a base verdadeira da saúde.

Carnes, ovos, leite, manteiga e queijos ocupavam posição central em dietas de tratamento. Eles forneciam nutrição completa, sustentavam a construção dos tecidos e garantiam melhor aproveitamento metabólico do que carboidratos vegetais.

Assim, o documento ilustra como, mesmo em um contexto de forte influência industrial, a ciência médica do período reconhecia que uma alimentação baseada em produtos de origem animal atendia de forma mais eficiente às necessidades do corpo humano, promovendo força, recuperação e equilíbrio.

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