A endometriose é uma doença inflamatória crônica que compromete a saúde e a qualidade de vida de cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva. Os sintomas mais comuns são cólicas menstruais intensas, dor pélvica persistente, dor durante as relações sexuais e infertilidade. Embora o tratamento tradicional envolva medicamentos hormonais e cirurgias, a recorrência da doença continua sendo um desafio. Nesse contexto, a nutrição surge como uma estratégia complementar, com potencial de reduzir a inflamação, modular hormônios e aliviar sintomas.
O artigo publicado em Current Obesity Reports (2025) avaliou diferentes padrões alimentares, suplementos e o papel do nutricionista no manejo clínico da endometriose e obesidade. Entre as abordagens discutidas, a dieta cetogênica recebeu destaque devido aos resultados promissores em estudos recentes.
Benefícios da dieta cetogênica
A dieta cetogênica, caracterizada por alta ingestão de gorduras, consumo moderado de proteínas e baixo teor de carboidratos, leva o corpo a entrar em cetose nutricional, estado no qual os corpos cetônicos tornam-se a principal fonte de energia. Essa mudança metabólica trouxe benefícios descritos nos estudos:
- Redução da inflamação: O corpo produz β-hidroxibutirato, um corpo cetônico que bloqueia moléculas inflamatórias (como IL-1β, TNF-α e IL-6). Esse efeito é importante porque a endometriose é sustentada por inflamação crônica.
- Melhora no equilíbrio hormonal: A dieta cetogênica reduz glicose e insulina no sangue, o que diminui a produção excessiva de estrogênio. Como o estrogênio alimenta as lesões da endometriose, essa regulação hormonal é central para o controle da doença.
- Controle da dor: Além de atuar na inflamação, a cetogênica pode influenciar mecanismos de dor ligados ao sistema nervoso, reduzindo a sensibilidade e melhorando o bem-estar.
- Impacto positivo em mulheres com obesidade: A perda de gordura abdominal reduz a produção de estrogênio no tecido adiposo e melhora a inflamação geral do corpo, o que pode aliviar os sintomas da endometriose.
Evidências científicas do estudo
O artigo reuniu dados de diferentes pesquisas e destacou um ensaio clínico randomizado de 12 semanas. Nesse estudo, mulheres com endometriose foram divididas em dois grupos:
- Grupo controle: seguiu apenas o tratamento padrão.
- Grupo intervenção: seguiu o tratamento padrão associado a uma dieta cetogênica modificada com triglicerídeos de cadeia média (TCM).
Os resultados mostraram que as mulheres do grupo cetogênico tiveram:
- redução significativa da dor durante as relações sexuais (dispareunia),
- redução da dor intestinal (disquesia),
- e tendência de melhora na dor pélvica geral, mesmo sem mudanças relevantes no peso ou em parâmetros bioquímicos.
Esses achados reforçam que os benefícios da dieta cetogênica não se limitam à perda de peso, mas também à modulação de processos inflamatórios e hormonais diretamente envolvidos na endometriose.
Conclusão
O estudo mostra que a dieta cetogênica pode ser uma ferramenta valiosa no manejo da endometriose, especialmente em mulheres com obesidade ou resistência à insulina. Entre os principais pontos positivos estão:
- redução da inflamação,
- melhora do equilíbrio hormonal,
- alívio da dor,
- e benefícios metabólicos relevantes.
Contudo, os autores reforçam que a dieta deve ser usada por com supervisão profissional, já que exige controle rigoroso dos nutrientes e pode trazer riscos se conduzida sem orientação. Uma estratégia interessante pode ser a combinação da cetogênica com elementos da dieta mediterrânea, unindo os efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios desta com a eficácia metabólica da primeira.
Assim, a nutrição se confirma como parte fundamental de um tratamento integrado, no qual médicos e nutricionistas trabalham juntos para oferecer às mulheres com endometriose mais qualidade de vida e melhores resultados clínicos.
Fonte: https://doi.org/10.1007/s13679-025-00662-8
