Esta pesquisa publicada na revista Scientific Reports, da Nature, trouxe um resultado que chama atenção: comer carne vermelha dentro de uma dieta de alta qualidade pode melhorar a nutrição do cérebro e não atrapalha a saúde intestinal. O estudo foi feito por cientistas da South Dakota State University e analisou dados de mais de 3.600 adultos americanos que participaram do American Gut Project, o maior banco de informações sobre microbiota intestinal do mundo.
O que os pesquisadores queriam saber
Durante anos, a carne vermelha tem sido vista como um alimento que precisa ser limitado, especialmente por causa de sua gordura saturada. Mas esse estudo quis olhar a questão de outra forma: o problema está na carne ou na qualidade geral da dieta?
Para isso, os cientistas compararam pessoas que comiam ou não carne vermelha, mas levaram em conta a qualidade total da alimentação, medida pelo Índice de Alimentação Saudável (Healthy Eating Index — HEI), um sistema usado para avaliar se a dieta segue as recomendações oficiais dos Estados Unidos.
Como o estudo foi feito
Os voluntários responderam questionários sobre o que comiam e também forneceram amostras de fezes para análise da microbiota — o conjunto de microrganismos que vive no intestino.
Eles foram divididos em quatro grupos:
- Dieta saudável com carne vermelha.
- Dieta saudável sem carne vermelha.
- Dieta de baixa qualidade com carne vermelha.
- Dieta de baixa qualidade sem carne vermelha.
Assim, foi possível descobrir se os efeitos vinham da carne em si ou do padrão alimentar como um todo.
O que foi descoberto
1. Nutrientes cerebrais em destaque
As pessoas que comiam carne vermelha dentro de uma dieta equilibrada tinham níveis mais adequados de nutrientes essenciais para o cérebro, como vitamina B12, zinco, selênio, colina e vitamina D. Esses nutrientes ajudam na memória, concentração e prevenção de doenças neurológicas. Mesmo quem comia carne em dietas de pior qualidade teve mais desses micronutrientes, embora o benefício fosse maior nas dietas bem organizadas.
2. Sem impacto negativo no humor
Os pesquisadores também avaliaram dados sobre saúde mental, como depressão, ansiedade, transtorno bipolar e enxaqueca. O resultado foi claro: a qualidade geral da dieta é o que faz diferença, não a carne em si. As pessoas que comiam bem — com ou sem carne — tinham menor risco de sintomas mentais.
3. Intestino mais equilibrado
A análise da microbiota mostrou que as pessoas com dieta saudável e carne vermelha tinham maior diversidade de bactérias intestinais, algo considerado positivo para a imunidade e o metabolismo.
Ou seja, dentro de um padrão alimentar equilibrado, a carne não reduz a diversidade microbiana — ao contrário, pode até ajudar a mantê-la.
O que o estudo ensina
- A qualidade da dieta vem antes de qualquer alimento isolado. Não é a carne vermelha que faz mal, mas sim o contexto de uma alimentação pobre em nutrientes e rica em ultraprocessados.
- Carne pode ser parte de uma dieta saudável. Quando combinada com boas escolhas alimentares, ela contribui com vitaminas e minerais que são difíceis de obter apenas com vegetais.
- Microbiota saudável depende do conjunto. O equilíbrio do intestino é mais influenciado pela variedade e densidade nutricional da dieta do que pela presença ou ausência de carne.
Limitações e cuidados
Os autores lembram que este foi um estudo observacional, ou seja, mostra associações, mas não prova causa e efeito. Além disso, os dados vieram de pessoas que participaram voluntariamente do projeto, o que pode não representar toda a população. Mesmo assim, os resultados reforçam que o contexto alimentar é o ponto mais importante: não é preciso eliminar a carne para ter uma dieta saudável — o essencial é cuidar da qualidade global do que se come.
Conclusão
O trabalho da South Dakota State University traz uma mensagem simples e prática:
Carne vermelha, quando inserida em uma alimentação nutritiva, ajuda a atingir níveis adequados de nutrientes para o cérebro e não prejudica a microbiota intestinal.
Ou seja, o foco deve ser comer bem como um todo, e não culpar um alimento específico.
A verdadeira diferença para a saúde está no padrão alimentar, não na exclusão da carne.
