A Era da Musculação como Atividade Essencial para a Saúde de Crianças e Adolescentes


Por muito tempo, pais e professores ouviram que crianças não podiam fazer musculação. A ideia de que pegar peso “atrapalharia o crescimento” foi repetida por décadas, mesmo sem base científica sólida. Hoje, os estudos mais recentes mostram exatamente o contrário: quando bem orientada, a musculação—também chamada de treinamento contra a resistência—é segura, saudável e necessária para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.

Um artigo de opinião publicado na revista Sports Medicine em 2025 reuniu as principais evidências sobre o tema e defendeu que já é hora de atualizar as recomendações de atividade física: a musculação deve ser colocada no centro do planejamento de exercícios para jovens, sem deixar de lado corridas, jogos e esportes, mas reconhecendo que a base de força precisa vir primeiro.

O que a ciência mostra sobre musculação para jovens

1) Mais força, mais saúde.
A musculação aumenta força, potência e resistência muscular. Isso se traduz em menos risco de lesão, melhor composição corporal (menos gordura, mais músculos), melhora da sensibilidade à insulina e até impacto positivo na condição cardiorrespiratória. Ou seja: além de fortalecer músculos e ossos, a musculação também ajuda o coração e o metabolismo.

2) Ossos mais fortes desde cedo.
O crescimento ósseo depende de estímulos de impacto e força. Saltos, corridas rápidas e exercícios de musculação feitos corretamente são fundamentais para que a criança atinja o chamado pico de massa óssea. É nesse período da vida que os ossos “aprendem” a ficar fortes para o futuro.

3) Benefícios além do físico.
A prática regular de musculação em crianças e adolescentes melhora a autoestima, aumenta a energia, ajuda no humor e, em alguns casos, até favorece o desempenho escolar. Para jovens com sobrepeso, levantar pesos costuma ser mais prazeroso do que correr longas distâncias, o que aumenta a chance de manter a rotina.

4) Menos lesões nos esportes.
Ao desenvolver força, equilíbrio e coordenação, a musculação reduz o número e a gravidade de lesões em esportes escolares e atividades de lazer. Isso acontece porque melhora a postura, a estabilidade das articulações e os padrões de movimento.

Por que começar cedo faz diferença

Pesquisadores alertam para um problema chamado “dinapenia pediátrica”, que é a perda precoce de força e potência em jovens. Isso acontece por causa do sedentarismo e do excesso de tempo em frente às telas. Quem não desenvolve força na infância e adolescência tende a ser menos ativo, ter mais dificuldade em esportes e apresentar pior saúde ao longo da vida.

A musculação, quando introduzida desde cedo, ajuda a quebrar esse ciclo, tornando a criança mais segura para brincar, competir e se movimentar.

Mas é seguro mesmo?

Sim. A musculação em crianças é segura quando três pontos são respeitados:

  1. Técnica correta: aprender o movimento vem antes de aumentar a carga.
  2. Progressão gradual: começar leve e avançar aos poucos.
  3. Supervisão qualificada: sempre acompanhada por profissionais de educação física preparados.

Quando esses cuidados existem, os riscos são mínimos, e os benefícios são enormes. Os acidentes relatados em hospitais costumam acontecer por falta de orientação ou brincadeiras sem supervisão.

Como pode ser feita na prática

  • Crianças menores (7–10 anos): exercícios com o peso do próprio corpo (agachamentos, flexões, corridas curtas), jogos de empurrar e puxar, elásticos leves.
  • Pré-adolescentes: introdução a aparelhos e pesos livres leves, mantendo foco na técnica.
  • Adolescentes: progressão para treinos mais estruturados, com séries, repetições e até pliometria (saltos), sempre com orientação.

O importante não é transformar crianças em “atletas de academia”, mas sim ensinar padrões de movimento corretos que servirão para toda a vida.

Por que mudar as recomendações oficiais

Hoje, as diretrizes de atividade física para crianças e adolescentes falam em 60 minutos de atividade por dia, com destaque quase total para exercícios aeróbios, como correr ou pedalar. A musculação aparece apenas como complemento.

O novo artigo defende que essa lógica deve ser revista: é preciso colocar a musculação no centro do programa semanal, como a atividade que prepara o corpo para todas as outras. Corridas, esportes e brincadeiras continuam importantes, mas é a musculação que garante a base de força, ossos fortes e menor risco de lesões.

Conclusão

A musculação não é perigosa para crianças—o perigo está em não praticá-la e deixar que cresçam sem força suficiente para enfrentar os desafios da vida. Com técnica, supervisão e progressão adequada, ela se torna uma ferramenta de saúde, autoestima e proteção contra doenças no futuro.

O momento de incluir a musculação na vida de crianças e adolescentes é agora.

Fonte: https://doi.org/10.1007/s40279-025-02240-3

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