O estudo KetoSAge investigou o que acontece quando mulheres jovens, saudáveis e acostumadas a uma dieta cetogênica deixam de produzir corpos cetônicos por um período curto, passando a consumir carboidratos em quantidade maior. O objetivo foi observar mudanças no metabolismo e no fígado, medindo substâncias simples de rotina, como glicose, insulina e enzimas hepáticas.
A questão central era entender se essa interrupção da cetose poderia provocar sinais precoces de sobrecarga no fígado, mesmo em pessoas sem doenças aparentes.
Como o estudo foi feito
Participaram 10 mulheres jovens, magras e saudáveis, todas mantendo cetose nutricional havia quase 4 anos em média. O desenho do estudo foi dividido em três fases:
- Fase 1: rotina habitual em dieta cetogênica, com corpos cetônicos presentes no sangue.
- Fase 2: supressão da cetose por 21 dias, com ingestão alta de carboidratos (cerca de 267 g/dia, incluindo pães, massas, arroz e frutas).
- Fase 3: retorno à dieta cetogênica.
Em cada fase, as voluntárias fizeram jejum de 12 horas antes da coleta de sangue. Também mediram corpos cetônicos (β-hidroxibutirato) várias vezes ao dia.
O que foi medido
Os exames incluíram:
Enzimas do fígado:
- TGP (Transaminase Glutâmico-Pirúvica, ALT)
- TGO (Transaminase Glutâmico-Oxalacética, AST)
- Gama-GT (GGT)
- Fosfatase Alcalina (FA)
- Proteínas sanguíneas: albumina, proteínas totais e bilirrubinas.
- CK (Creatina Quinase)
- Ferro
- Glicose e insulina de jejum
- HOMA-IR (estimativa de resistência à insulina)
- IGK (Índice Glicose-Cetona), que combina glicose e corpos cetônicos no sangue.
Resultados principais
Durante os 21 dias sem cetose, apareceram mudanças claras:
- IGK: aumentou cerca de 22 vezes, mostrando glicose mais alta e ausência de cetonas. Voltou ao normal com a retomada da cetose.
- HOMA-IR: dobrou, sinalizando aumento da resistência à insulina; também voltou ao normal na Fase 3.
- TGP (ALT): aumentou quase duas vezes.
- Gama-GT: subiu cerca de 30%.
- Razão TGP/TGO (ALT/AST): ficou mais alta, indicando sobrecarga no fígado relacionada à insulina.
- FA, albumina, bilirrubinas, proteínas totais, ferro e CK não mostraram mudanças importantes.
Todos os valores retornaram ao padrão inicial após a volta à dieta cetogênica.
O que isso significa
Mesmo em mulheres jovens e saudáveis, três semanas comendo mais carboidratos foram suficientes para aumentar sinais de resistência à insulina e provocar alterações em exames do fígado, mesmo dentro dos limites considerados “normais” em laboratório.
A rápida normalização dos exames quando a cetose foi retomada sugere que o fígado responde de forma dinâmica e que esse tipo de alteração é reversível.
Segundo os autores, isso mostra que exames simples como TGP, TGO e Gama-GT podem ser usados como alertas precoces de estresse metabólico no fígado, antes de surgirem alterações mais graves, como glicose alta persistente ou aumento de hemoglobina glicada.
Conclusão
O estudo indica que, em mulheres adaptadas à cetose, a interrupção desse estado por apenas 21 dias elevou glicose, insulina e enzimas do fígado, mas que tudo voltou ao normal com a retomada da dieta cetogênica.
Esses achados reforçam que o fígado pode dar sinais precoces de desequilíbrio metabólico através de exames de rotina. Monitorar tendências, e não apenas valores isolados, pode ser útil para prevenção de problemas relacionados à insulina e ao fígado.
Fonte: https://doi.org/10.3390/livers5030041
