O País Selvagem – Uma história dos homens da North West Company e das terras que eles conquistaram (1960)


Na obra The Savage Country, publicada em 1960 por Walter O’Meara, o leitor é transportado para a vastidão das florestas e lagos da América do Norte nos séculos XVII e XVIII. Nesse período, o comércio de peles movimentava aventureiros europeus e povos indígenas em um cenário marcado por isolamento, incertezas e desafios impostos pela natureza. O romance não se limita às aventuras individuais, mas revela, com minúcia, como a sobrevivência dependia quase integralmente de alimentos de origem animal.

O ambiente e a necessidade da carne

A narrativa acompanha exploradores e comerciantes que percorrem territórios inóspitos, enfrentando invernos rigorosos, rios congelados e a ameaça constante da fome. Nesse contexto, a carne de caça — como cervo, alce, búfalo e aves aquáticas — e os peixes dos grandes lagos não eram apenas parte da dieta: constituíam a base alimentar. O’Meara demonstra que nenhuma expedição poderia subsistir sem esses recursos.

O saber indígena e o pemmican

O autor destaca a sabedoria acumulada pelos povos indígenas, que já dominavam técnicas de caça e de preservação de alimentos em condições extremas. Entre essas práticas, uma das mais notáveis era a produção do pemmican: carne seca misturada com gordura animal derretida, resultando em um alimento de alta densidade energética, fácil de transportar e de longa duração. Para os recém-chegados europeus, aprender a valorizar a gordura e confiar nesse tipo de alimento foi questão de vida ou morte.

Escassez e aproveitamento total do animal

O romance também descreve momentos de privação. Quando a caça escasseava, personagens precisavam racionar carne e consumir partes menos valorizadas dos animais. Ossos eram fervidos para extrair os últimos traços de gordura, reforçando o valor absoluto da proteína e da gordura em um ambiente onde vegetais quase inexistiam. Nessas situações, a carne não era apenas alimento: era também moeda de troca e elemento central para manter força física em longas jornadas.

O contraste com os alimentos do Velho Mundo

Mesmo nos contatos com entrepostos comerciais, os suprimentos continuavam majoritariamente de origem animal. Grãos como trigo ou cevada tinham baixa adaptação ao clima severo do norte. Já peixe seco, carne salgada, gordura armazenada e órgãos de animais garantiam nutrição adequada e sustentação. Essa realidade refletia a impossibilidade de desenvolver agricultura estável em terras cobertas de neve por grande parte do ano.

Dimensão social da carne

O’Meara não retrata a dieta apenas como uma questão biológica, mas também como prática social e cultural. Em torno de fogueiras improvisadas, a partilha da carne abatida fortalecia alianças, reduzia tensões e simbolizava alívio diante do frio e da exaustão. Para povos indígenas e exploradores europeus, dividir carne e peixe significava compartilhar sobrevivência e hospitalidade.

Carne como imposição ambiental

Em toda a narrativa, a alimentação animal não aparece como escolha ou preferência cultural, mas como imposição inevitável do ambiente. Sem carne, peixe e gordura, não haveria como resistir aos ventos gelados, caminhar longas distâncias ou manter expedições de comércio em andamento.

Conclusão

The Savage Country oferece ao leitor mais do que um relato de aventuras. O romance é um testemunho histórico-literário da centralidade dos alimentos de origem animal na vida de homens e povos que ousaram avançar pelos territórios selvagens da América do Norte. A carne, em suas diversas formas de preparo, era combustível, defesa contra o frio e ponte cultural entre europeus e nativos. Walter O’Meara mostra que, naquele cenário, a terra não oferecia alternativas: a subsistência só era possível pela caça, pela pesca e pela gordura que sustentava jornadas e moldava destinos.

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