Por que o tempo parece passar mais rápido à medida que envelhecemos?


Quando somos crianças, o tempo parece se arrastar. Férias escolares duram uma eternidade, a espera pelo recreio ou pelo sinal de saída parece infinita. No entanto, com o passar dos anos, muitos relatam a sensação de que os dias, meses e até anos começam a voar. Por que isso acontece, se o tempo objetivo – os minutos e as horas – continua exatamente igual?

Essa percepção subjetiva do tempo é um fenômeno estudado por cientistas há décadas. Uma das explicações mais influentes foi proposta pelo psicólogo Robert Ornstein, cujas experiências nos anos 1960 lançaram luz sobre como processamos o tempo com base nos estímulos que recebemos.

Experimentos com percepção de tempo

Ornstein conduziu dois experimentos clássicos. No primeiro, mostrou a voluntários dois desenhos: um com formas simples e outro mais complexo. Ambos foram exibidos pelo mesmo intervalo de tempo. No entanto, os participantes sistematicamente indicaram que o desenho mais complexo pareceu durar mais tempo.

No segundo teste, usou gravações de sons — cliques e ruídos cotidianos. Algumas eram simples; outras, repletas de sons em sequência rápida. Os ouvintes afirmaram que os áudios mais complexos pareciam mais longos, mesmo com duração idêntica.

Ornstein concluiu que experiências mais ricas e com mais informações novas parecem se estender no tempo. Isso ocorre porque o cérebro precisa de mais recursos para processar novidades. Quanto mais estímulo novo, mais tempo o cérebro sente que passou.

Infância: um mundo de novidades

Essa descoberta ajuda a explicar por que o tempo parece andar mais devagar na infância. Os primeiros anos de vida são repletos de experiências inéditas: aprender a andar, falar, escrever, conhecer lugares e pessoas novas. Tudo é novidade e complexidade.

Essas vivências exigem grande esforço de processamento cerebral, o que contribui para a sensação de um tempo mais dilatado. Em comparação, a vida adulta é muitas vezes pautada por rotinas e repetição. Sem tantos estímulos novos, o cérebro gasta menos tempo analisando os eventos diários, e a percepção é de que o tempo está acelerado.

Mudanças neurológicas com o envelhecimento

Mesmo adultos que buscam novidades podem continuar sentindo o tempo correr. Isso pode ser explicado por alterações biológicas no cérebro. À medida que envelhecemos, nossos neurônios e receptores tornam-se maiores e menos eficientes. A velocidade de condução de sinais pelo sistema nervoso também diminui.

O resultado? Um cérebro menos eficiente em capturar e armazenar detalhes do que está ao redor. Uma experiência vivida por um jovem de 15 anos e um adulto de 65 anos pode ser percebida de maneira totalmente diferente. O jovem tende a lembrar mais detalhes — como se visse uma cena em câmera lenta. O adulto pode reter menos informação, fazendo parecer que aquele mesmo intervalo de tempo passou muito rápido.

A teoria da proporcionalidade

Outra explicação possível é a chamada teoria proporcional do tempo. Ela sugere que a percepção de duração é influenciada pela quantidade de tempo já vivido. Para uma criança de 10 anos, um ano representa 10% de sua vida. Já para alguém com 50 anos, esse mesmo ano representa apenas 2%.

Com o passar do tempo, cada nova unidade temporal corresponde a uma fração menor da vida total da pessoa, reduzindo subjetivamente sua importância e sua duração percebida.

É possível desacelerar o tempo?

Embora não possamos controlar a passagem objetiva do tempo, podemos influenciar sua percepção subjetiva. Pesquisadores indicam que experiências novas e enriquecedoras ajudam a “alongar” a sensação do tempo. Isso pode incluir:

  • Aprender um novo idioma
  • Visitar lugares desconhecidos
  • Fazer atividades físicas desafiadoras
  • Conhecer novas pessoas
  • Mudar a rotina, mesmo que de forma simples (como frequentar outro mercado ou restaurante)

Essas ações obrigam o cérebro a sair do piloto automático e a prestar mais atenção. Assim, aumentamos o número de detalhes capturados e, por consequência, nossa memória do tempo vivido torna-se mais rica — o que gera a impressão de um tempo mais “lento”.

Conclusão

A aceleração do tempo com o envelhecimento é, até certo ponto, inevitável, mas não é incontrolável. Buscar ativamente a diversidade de experiências e manter a mente engajada são estratégias que podem nos ajudar a recuperar, ainda que em parte, a sensação da infância: a de dias cheios, longos e significativos. A chave para “retardar” o tempo está em permanecer curioso diante da vida, mesmo quando ela já nos é bastante familiar.

Fonte: https://interestingfacts.com/why-time-moves-faster-as-you-age/

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