O artigo revisado analisa profundamente as bases bioenergéticas do câncer, partindo da Hipótese de Warburg e avançando para a Teoria Metabólica Mitocondrial (TMM), propondo novas formas de entender e abordar o metabolismo tumoral. Vamos explicar de forma prática e acessível, com exemplos ligados à alimentação e estratégias dietéticas.
1. O que Warburg observou e o papel dos macronutrientes
Warburg observou que células cancerosas tendem a utilizar glicose (carboidratos) de forma predominante para gerar energia, mesmo quando o oxigênio está presente. Isso significa que essas células produzem mais lactato, sugerindo um defeito no uso da via mais eficiente: a fosforilação oxidativa nas mitocôndrias.
Em termos de nutrição:
- Carboidratos são rapidamente usados como energia, mas estimulam picos de glicose e insulina, que podem favorecer o crescimento tumoral.
- Gorduras e corpos cetônicos exigem mitocôndrias saudáveis para serem utilizados eficientemente como combustível.
- Proteínas são necessárias principalmente para manutenção e reparo tecidual, com papel secundário na produção de energia.
2. Nova visão: mitocôndrias e dependência da glicose
A Teoria Metabólica Mitocondrial atual mostra que o problema principal no câncer não é apenas “usar mais glicose”, mas sim a incapacidade das mitocôndrias de oxidar eficientemente ácidos graxos e cetonas. Isso faz com que as células cancerosas fiquem dependentes de glicose e glutamina.
Exemplo prático:
Uma célula tumoral é como um carro cujo motor principal (mitocôndrias) está quebrado: ela precisa usar combustível alternativo (glicose), enquanto as células normais continuam capazes de usar tanto glicose quanto gordura/cetonas.
3. Dieta cetogênica como estratégia terapêutica
A dieta cetogênica (DC), ao reduzir drasticamente carboidratos e aumentar gordura de qualidade, induz a produção de corpos cetônicos, que são uma fonte de energia excelente para células normais, mas inúteis para células cancerosas.
Além disso, a DC permite monitoramento com o índice glicose/cetona (GKI), que pode orientar a eficácia terapêutica da dieta.
4. Dietas ricas em proteína, como a dieta carnívora, e câncer
Importante:
A revisão não trata especificamente da dieta carnívora, mas a lógica bioquímica descrita no artigo permite entender que dietas ricas em proteína e pobres em carboidratos (como a carnívora) não representam um risco aumentado para câncer, quando comparadas a dietas ocidentais padrão (ricas em açúcar e alimentos ultraprocessados).
A razão:
- Proteína não gera excesso de glicose de forma rápida: mesmo com a gliconeogênese (processo de produção de glicose a partir de proteínas), o impacto glicêmico é muito menor e mais controlado do que o consumo direto de carboidratos refinados.
- Alimentos de origem animal têm densidade nutricional superior e baixo impacto insulinêmico.
- Ausência de carboidratos refinados reduz estímulos que favorecem ambientes metabólicos que sustentam o crescimento tumoral, como hiperinsulinemia crônica e inflamação sistêmica.
Estudos observacionais sugerem que dietas ricas em proteínas de origem animal, em contexto de baixo consumo de carboidratos, não aumentam o risco de câncer. Ao contrário, o ambiente metabólico resultante (baixo nível de insulina, cetose nutricional) é menos favorável ao crescimento tumoral.
Portanto, uma dieta carnívora — caracterizada por alto teor de proteína, gordura animal e virtualmente nenhum carboidrato — cria um ambiente nutricional semelhante à dieta cetogênica terapêutica, sendo desfavorável para o metabolismo energético das células cancerosas.
5. Marcadores limitados e necessidade de análise cuidadosa
O artigo reforça que medidas simples como glicemia e lactato não explicam todo o metabolismo tumoral, pois tumores podem apresentar consumo variável de oxigênio e substratos. O olhar clínico precisa considerar o estado mitocondrial e o perfil completo de substratos disponíveis.
Conclusão prática para alimentação
Em resumo, tanto a dieta cetogênica bem estruturada quanto a dieta carnívora (rica em proteína e gordura animal, sem carboidratos):
- Não trazem risco aumentado para câncer.
- Podem ajudar a criar um ambiente metabólico desfavorável para células tumorais.
- Protegem células normais ao oferecer substratos energéticos limpos e estáveis, desde que acompanhadas de adequada densidade nutricional.
