A dieta cetogênica de muito baixo carboidrato (DC) tem sido amplamente utilizada para emagrecimento, mas seu impacto em esportes que visam o ganho de massa muscular ainda gera debates. O estudo conduzido por Paoli et al. (2021) buscou analisar de forma rigorosa como essa estratégia alimentar influencia a composição corporal, força muscular, área muscular e diversos parâmetros bioquímicos em fisiculturistas naturais durante dois meses.
O estudo foi realizado com 19 atletas do sexo masculino, com média de 27 anos de idade, todos com experiência mínima de cinco anos em treinamento e participação em competições de fisiculturismo natural. Os participantes foram divididos em dois grupos: um seguiu a dieta cetogênica (carboidratos <5% das calorias diárias, cerca de 43g/dia) e outro, uma dieta ocidental padrão (carboidratos ~55% das calorias diárias, cerca de 488g/dia). Ambas as dietas eram isocalóricas e com alta ingestão proteica (2,5g/kg de peso corporal). A adesão à DC foi monitorada semanalmente por meio da dosagem de beta-hidroxibutirato no sangue.
Após oito semanas, observou-se que apenas o grupo da DC apresentou redução significativa na massa gorda, com perda média de 1,44kg de gordura, enquanto a massa magra se manteve estável. Já o grupo com dieta ocidental apresentou aumento da massa magra (~2,2kg) sem alteração relevante na massa gorda. A força muscular (avaliada por testes de 1 repetição máxima em supino e agachamento) aumentou em ambos os grupos de forma semelhante, mostrando que a DC não prejudicou o desempenho de força.
Nos parâmetros sanguíneos, a DC promoveu redução significativa nos triglicerídeos (-17%), glicemia e insulina de jejum, além de aumento no HDL. Também houve redução das citocinas inflamatórias IL-6 e TNF-α no grupo cetogênico, sugerindo um efeito anti-inflamatório. O BDNF, marcador associado à saúde cerebral e ao humor, aumentou significativamente apenas na DC, o que pode indicar benefícios para o bem-estar psicológico dos atletas.
Por outro lado, a DC foi associada à redução de hormônios anabólicos, como testosterona total (-10%) e IGF-1 (-16%), o que pode explicar a menor resposta hipertrófica observada nesse grupo. Apesar da preservação da massa magra, o estudo destaca que a DC pode não ser a estratégia mais indicada para fases de ganho muscular em fisiculturistas, mas sim para fases de redução de gordura corporal e melhora de marcadores metabólicos e inflamatórios.
Os autores reforçam que a dieta cetogênica não deve ser adotada de forma indiscriminada por atletas, sendo essencial o acompanhamento profissional para ajustes individualizados. Além disso, o estudo reconhece limitações, como a impossibilidade de padronização completa do treinamento dos participantes e o foco exclusivo em fisiculturistas naturais, o que restringe a generalização para outras populações.
Em conclusão, o estudo sugere que a dieta cetogênica de muito baixo carboidrato pode ser eficaz como ferramenta para redução de gordura corporal e melhora de indicadores metabólicos e inflamatórios em fisiculturistas naturais, sem prejuízo para a força muscular, mas com potencial de atenuar o ganho de massa muscular. A adoção desse tipo de dieta deve ser cuidadosamente planejada, sobretudo em fases específicas do treinamento, como o período de definição pré-competição.
Fonte: https://doi.org/10.3390/nu13020374
