Efeitos da Suplementação com Proteína de Carne Bovina em Triatletas de Elite do Sexo Masculino: Um Estudo Randomizado, Controlado, Duplo-Cego e Cruzado

A pesquisa conduzida por Valenzuela e colaboradores investigou os efeitos da suplementação com proteína de carne bovina em triatletas de elite do sexo masculino, com o objetivo de avaliar se esse tipo de suplemento poderia promover ganhos em massa muscular e influenciar parâmetros hematológicos e hormonais. O estudo foi publicado no Journal of the American College of Nutrition em 2020 e envolveu atletas da seleção espanhola de triatlo.

Contexto e Objetivo do Estudo

Com o aumento do interesse por suplementos proteicos derivados de carne bovina devido ao seu potencial anabólico e possível impacto em variáveis hematológicas, os autores buscaram analisar se a ingestão diária de 25 g de proteína de carne bovina poderia gerar benefícios adicionais em relação a um suplemento isoenergético de carboidrato. O foco era entender os efeitos na composição corporal (área muscular da coxa e espessura do músculo vasto lateral), no perfil hormonal (relação testosterona/cortisol) e em marcadores hematológicos (ferro, ferritina, hemoglobina e hematócrito).

Metodologia

O estudo seguiu um desenho duplo-cego, cruzado e controlado. Seis triatletas de elite, com idade média de 21 anos e VO₂máx de aproximadamente 71,5 ml·kg⁻¹·min⁻¹, participaram de duas fases de intervenção: uma com proteína de carne bovina (BEEF) e outra com carboidratos (CHO), cada uma com duração de 8 semanas, separadas por um período de washout de 5 semanas.

Os suplementos foram ingeridos após o treino ou antes do café da manhã em dias sem treino. Os atletas mantiveram suas rotinas habituais de treino e alimentação, sem uso de outros suplementos.

Principais Resultados

  • Massa muscular: A suplementação com proteína bovina resultou em aumento significativo na área transversal da coxa (3,02% em relação ao CHO; p=0,028; efeito grande, d=1,22) e um aumento modesto na espessura do músculo vasto lateral. Em contrapartida, a condição com carboidrato levou a uma redução na área da coxa.
  • Perfil hormonal: Houve um aumento significativo na relação testosterona/cortisol com o uso do suplemento de carne bovina (37% maior que o CHO; p=0,028; efeito grande, d=1,29), sugerindo um ambiente anabólico mais favorável.
  • Parâmetros hematológicos: Não foram observadas diferenças significativas nos níveis de ferro, ferritina, hemoglobina ou hematócrito entre os grupos. Isso pode ser explicado pela ingestão já elevada de ferro dos participantes ao longo do estudo (>25 mg/dia).

Discussão

Os resultados reforçam a ideia de que a suplementação com proteína de carne bovina pode contribuir para a preservação ou aumento da massa muscular em atletas de endurance, além de melhorar o perfil anabólico por meio de uma relação testosterona/cortisol mais favorável. Isso é especialmente relevante, considerando que esportes de endurance frequentemente induzem ao catabolismo muscular devido ao alto volume de treino e ao aumento da oxidação de proteínas como fonte de energia.

Por outro lado, o estudo não encontrou benefícios hematológicos adicionais, provavelmente porque os atletas já possuíam um bom status de ferro antes da intervenção. Vale destacar que o estudo apresentou limitações, como o pequeno número de participantes (n=6), o que exige cautela na generalização dos resultados.

Conclusão

A ingestão de 25 g/dia de proteína de carne bovina durante 8 semanas ajudou a manter ou aumentar a massa muscular em triatletas de elite do sexo masculino e promoveu um perfil hormonal mais anabólico em comparação ao suplemento de carboidrato. No entanto, não houve impacto nos parâmetros hematológicos. Os autores recomendam que esses achados sejam confirmados em estudos com maior número de participantes.

Fonte: https://doi.org/10.1080/07315724.2020.1727377

Postagem Anterior Próxima Postagem
Rating: 5 Postado por: