Como minha dieta carnívora se refletiu nos meus níveis de testosterona ao longo dos anos


Eu sigo uma dieta carnívora desde setembro de 2017. Antes disso, fazia uma dieta paleo/low carb desde 2015 e, antes dessa fase, minha alimentação era ocidental padrão, recheada de ultraprocessados e óleos vegetais. Ao longo desse tempo, acompanhei meus exames de testosterona total em diferentes momentos da vida adulta. Em paralelo, fui estudando a literatura científica sobre dieta, obesidade, inflamação e hormônios masculinos, e publicando traduções e resumos neste site.

O objetivo aqui não é transformar meu caso em “prova científica”, e sim mostrar como a minha trajetória laboratorial se encaixa – ou não – no que os melhores estudos vêm mostrando sobre:

  • impacto da obesidade e da disfunção metabólica na queda da testosterona
  • efeito de dietas com pouco carboidrato e mais alimentos de origem animal
  • papel de dietas com pouca gordura na redução da testosterona em homens

Tudo que vou comentar abaixo está apoiado em estudos já apresentados em artigos do meu site, como:

Minha linha do tempo: evolução da testosterona total

Abaixo está um quadro com os principais exames de testosterona total que fiz desde 2016, sempre em jejum e em laboratório clínico. 

Todos os valores estão em ng/dL (soro), método de quimioluminescência.

Data (ano/mês) Idade aproximada Padrão alimentar predominante Testosterona total (ng/dL)
2016-04 38 anos Low carb 152,5
2016-11 38 anos Low carb 560,3
2018-03 40 anos Carnívora 573,0
2019-02 40 anos Carnívora 641,0
2022-03 44 anos Carnívora 667,0
2025-08 47 anos Carnívora 698,0
2025-12 47 anos Carnívora 750,0

O que esses números significam para mim

  • 2016 – o ponto mais baixo (152,5 ng/dL)

    • Em abril de 2016, ainda em um contexto de dieta low carb, mas com histórico anterior de peso maior, estresse crônico e rotinas menos organizadas, meu exame registrou 152,5 ng/dL – um valor claramente abaixo dos intervalos de referência para homens adultos.
    • Foi um sinal de alerta importante e um dos gatilhos para repensar não só macronutrientes, mas qualidade do sono, nível de estresse, composição corporal e consistência na alimentação.
  • Transição dentro da low carb (2016-11)
    • Em novembro de 2016, ainda antes da dieta carnívora, o valor já estava em 560,3 ng/dL, dentro da faixa de referência.
    • Isso bate com evidências de que perda de gordura corporal e melhora da resistência à insulina, mesmo sem carnívora, já podem elevar a testosterona. No artigo sobre a queda da masculinidade, são discutidos dados do NHANES mostrando que IMC mais alto se associa fortemente a testosterona mais baixa, e que a perda de gordura tende a reverter esse quadro.
  • Depois de adotar a dieta carnívora (a partir de 2017)
    • Em setembro de 2017 ingressei na dieta carnívora e, a partir daí, todos os exames passaram a refletir um padrão alimentar exclusivo de alimentos de origem animal.
    • Em 2018 (573,0 ng/dL), 2019 (641,0 ng/dL), 2022 (667,0 ng/dL), 2025-08 (698,0 ng/dL) e 2025-12 (750,0 ng/dL), os níveis permaneceram na faixa considerada normal, com tendência de manutenção em valores relativamente altos para a faixa etária.
    • Isso é particularmente relevante porque, segundo o Baltimore Longitudinal Study of Aging, comorbidades e piora metabólica costumam acompanhar a queda da testosterona com o passar dos anos. No meu caso, caminhando para os 50 anos, não houve essa queda progressiva; ao contrário, os valores atuais são superiores aos do início da série.

Do ponto de vista clínico, eu interpreto esses dados como compatíveis com:

  • redução sustentada de gordura corporal
  • melhora da sensibilidade à insulina
  • menor carga inflamatória alimentar
  • predominância de proteínas e gorduras de origem animal, que fornecem matéria-prima para síntese de hormônios esteroides

Sem confundir isso com “prova” de que a dieta carnívora por si só é a causa, vejo coerência entre minha evolução laboratorial e o que a literatura discute para padrões alimentares de baixo carboidrato, com boa densidade nutricional e perda de peso.

O que os estudos mostram sobre dieta e testosterona

1. Obesidade, comorbidades e queda da testosterona

No artigo “A masculinidade está desaparecendo e está devastando a saúde dos homens”, estão resumidos estudos baseados no NHANES mostrando que:

  • a testosterona média dos homens vem caindo ao longo das gerações
  • o IMC mais alto aparece como o fator mais fortemente associado à baixa testosterona
  • homens com mais doenças crônicas (diabetes, depressão, problemas metabólicos) tendem a apresentar testosterona mais baixa

Além disso, ensaios de intervenção com perda de peso mostram que, quando homens com sobrepeso/obesidade reduzem significativamente a gordura corporal, a testosterona sobe, muitas vezes sem necessidade de reposição hormonal. Esse padrão é coerente com o que aconteceu comigo a partir da mudança de estilo de vida: perda de gordura e melhora de marcadores metabólicos precederam a estabilização da testosterona em patamares mais confortáveis.

2. Dieta pobre em gordura e testosterona mais baixa

No artigo “Dietas com pouca gordura e testosterona em homens: revisão sistemática e meta-análise”, é apresentada uma síntese de estudos que avaliaram o efeito de dietas com pouco teor de gordura sobre a testosterona masculina.

De forma resumida, a meta-análise mostra que:

  • dietas com baixo teor de gordura se associam a reduções modestas, mas consistentes, na testosterona total
  • padrões alimentares com mais gordura, especialmente gorduras naturais, tendem a preservar melhor os níveis de testosterona

Isso reforça a ideia de que, para um homem que já tem risco de queda hormonal com a idade, insistir em dietas cronicamente pobres em gordura pode não ser a melhor estratégia se o objetivo for manter a produção endógena de testosterona.

Quando comparo esse cenário com minha trajetória, vejo que:

  • migrei para um padrão com alta ingestão de gorduras naturais de origem animal, sem medo controlado de colesterol
  • e, mesmo envelhecendo, minha testosterona se manteve estável ou em leve ascensão, dentro da faixa de referência

3. Dieta cetogênica e low carb em homens com hipogonadismo

No artigo “O estado cetogênico melhora os níveis de testosterona em homens hipogonadais com síndrome metabólica”, é descrito um ensaio clínico randomizado que comparou uma dieta pobre em carboidratos com um grupo controle em homens hipogonadais com síndrome metabólica.

Os resultados mostraram que:

  • o grupo com dieta pobre em carboidratos teve aumento significativo da testosterona total e livre
  • houve melhora dos escores de sintomas de hipogonadismo e da função erétil
  • as mudanças vieram acompanhadas de redução de peso, circunferência abdominal e melhora de pressão arterial

No meu caso, não entrei na dieta carnívora para tratar hipogonadismo grave, mas para otimizar saúde metabólica e composição corporal. Ainda assim, observo um padrão coerente com o estudo:
à medida que consolidei um padrão alimentar essencialmente cetogênico (carne, ovos, vísceras, gordura animal, jejum intermitente), minha testosterona permaneceu em níveis adequados para a idade, sem indicação de queda progressiva.

4. Proteína em excesso e equilíbrio entre proteína e gordura

No artigo “Dietas ricas em proteínas e testosterona”, está resumida uma meta-análise de Whittaker & Harris (2022) que avaliou dietas com pouco carboidrato e teor muito alto de proteína.

Os autores observaram que:

  • quando a ingestão de proteína ultrapassava aproximadamente 3,4 g/kg/dia em dietas com pouco carboidrato, havia tendência de queda da testosterona
  • já em dietas pobres em carboidratos com moderado teor de proteína, esse efeito negativo não foi observado

Na prática, isso reforça um ponto importante da dieta carnívora bem estruturada:

  • não se trata de comer apenas proteína magra
  • é fundamental respeitar uma proporção adequada de gordura, permitindo boa produção hormonal e manutenção de energia

Na minha rotina, isso se traduz em:

  • cortes de carne com gordura aparente
  • uso de ovos inteiros, não apenas claras
  • uso de gordura de origem animal para cozinhar

Esse cuidado é coerente com os achados da meta-análise e, na minha experiência, está alinhado com a manutenção de testosterona em faixa adequada para minha idade.

5. Dieta inflamatória, comida ultraprocessada e deficiência de testosterona

Nos textos que abordam a relação entre dieta inflamatória e testosterona – como o artigo sobre “dieta inflamatória ligada à deficiência de testosterona” e outros resumos sobre padrão alimentar e função sexual – aparecem alguns pontos em comum:

  • dietas ricas em açúcares refinados, farinhas, óleos vegetais refinados e ultraprocessados tendem a se associar a maior risco de hipogonadismo
  • padrões alimentares com melhor densidade nutricional e menor carga inflamatória se associam a níveis hormonais mais favoráveis

A dieta carnívora, quando bem planejada, elimina esses alimentos do dia a dia. Na minha realidade, isso significou:

  • retirada quase completa de açúcares adicionados, farináceos e óleos vegetais
  • foco em carne, ovos, vísceras, peixes gordurosos e alguns laticínios selecionados

Esse conjunto de mudanças casa bem com a literatura que discute dieta, inflamação crônica de baixo grau e testosterona.

A relação entre a minha dieta carnívora e meus níveis de testosterona

Resumindo a minha leitura como paciente que acompanha os dados de perto:

  • Eu saí de um ponto claramente baixo (152,5 ng/dL em 2016) para uma faixa de testosterona estável e adequada para a minha idade, em um contexto de:

    • perda e controle de gordura corporal
    • melhora de marcadores metabólicos
    • sono e rotina mais estruturados
    • prática regular de exercício contra a resistência
  • A literatura que venho compilando aponta na mesma direção:
    • excesso de peso, dietas inflamatórias e pouco densas em nutrientes estão ligados à queda progressiva da testosterona
    • dietas com pouco carboidrato, com boa oferta de gordura natural e proteína suficiente, podem ajudar a elevar a testosterona em homens com síndrome metabólica ou hipogonadismo leve/moderado
    • dietas com pouca gordura tendem a reduzir modestamente a testosterona em homens, o que é relevante para quem já está em faixa limítrofe
  • A dieta carnívora, na forma como eu a pratico, é compatível com esses achados:
    • alta densidade nutricional (proteína completa, zinco, ferro, vitamina D, vitamina A, colesterol e outros nutrientes necessários à produção hormonal)
    • baixa carga glicêmica, favorecendo sensibilidade à insulina
    • sem exposição a alimentos ultraprocessados e óleos vegetais industriais

Eu não posso dizer que “a dieta carnívora aumenta a testosterona em todo homem” – isso exigiria ensaios clínicos robustos e de longo prazo, que ainda não existem em número suficiente. O que posso afirmar, com base nas referências apresentadas e na minha própria trajetória, é que:

  • um padrão alimentar baseado em alimentos de origem animal, com baixa carga de carboidratos refinados e boa quantidade de gordura natural, está alinhado com o que os estudos mostram como favorável à saúde hormonal masculina
  • no meu caso específico, esse padrão coincidiu com a manutenção e melhora da testosterona total ao longo dos anos, ao contrário da queda progressiva frequentemente observada em homens da mesma faixa etária com pior saúde metabólica

Esse tipo de relato não substitui diretrizes clínicas nem consulta médica, mas ajuda a ilustrar, com dados reais, como as tendências descritas na literatura podem aparecer na prática – inclusive em alguém que está envelhecendo, mas escolheu apostar em uma alimentação centrada em alimentos de origem animal, redução de inflamação e controle de gordura corporal.

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