1. Por que diretrizes oficiais sobre low carb são importantes para a prática clínica?
Durante décadas, a mensagem predominante em saúde pública foi baseada em dietas ricas em carboidratos e com restrição de gorduras. Nesse cenário, qualquer proposta de redução marcante de carboidratos – incluindo dietas com baixo teor de carboidratos ou mesmo muito baixo teor de carboidratos – foi frequentemente tratada como abordagem marginal.
Entretanto, o aumento global de obesidade, pré-diabetes, diabetes tipo 2 e síndrome metabólica obrigou sociedades científicas a reavaliar esse modelo. Hoje, diversos documentos oficiais reconhecem que:
- Não existe um único padrão alimentar ideal para todas as pessoas.
- Dietas com menor teor de carboidratos podem ser uma opção terapêutica válida, com evidência consistente para melhora de peso, glicemia e outros marcadores cardiometabólicos.
- O foco deve ser a individualização, o acompanhamento profissional e o uso de alimentos densos em nutrientes, e não a imposição de uma única “dieta oficial”.
Esse entendimento aparece em documentos da American Diabetes Association (ADA), da Diabetes Canada, da Diabetes UK, da Dietitians Australia, da British Dietetic Association (BDA), de serviços regionais do NHS e das diretrizes clínicas da Society of Metabolic Health Practitioners (SMHP), além de consensos recentes como o publicado em 2024 na revista Frontiers in Nutrition.
O conjunto desses documentos fornece uma base robusta para que profissionais de saúde possam defender, com referências formais, o uso de dietas com baixo ou muito baixo teor de carboidratos em contextos clínicos adequados.
2. Como as diretrizes definem “dieta com baixo carboidrato”?
Nem todas as entidades usam os mesmos cortes numéricos, mas há convergência em alguns pontos.
O posicionamento da Diabetes UK descreve “lower carb diets” como aquelas que fornecem aproximadamente 50–130 g de carboidratos por dia em adultos com diabetes tipo 2 e excesso de peso. Esse intervalo é usado em documento conjunto com o Scientific Advisory Committee on Nutrition (SACN), que conclui que essas dietas podem ser uma opção eficaz em curto prazo para controle da glicose e do peso em adultos com diabetes tipo 2 com sobrepeso ou obesidade.
No consenso internacional de 2024 em Frontiers in Nutrition, padrões alimentares “com menor teor de carboidratos” são apresentados como uma variação estruturalmente comparável às dietas usuais das diretrizes, mas com redução clara da fração de carboidratos e aumento proporcional de proteínas e gorduras de boa qualidade. O documento destaca que um padrão low carb bem estruturado pode ser nutricionalmente adequado, inclusive em fibras, potássio, cálcio e vitamina D, desde que construído com alimentos densos em nutrientes. [Frontiers in Nutrition 2024]
Ou seja, nas diretrizes:
- “Baixo carboidrato” costuma significar redução importante em relação às recomendações tradicionais, muitas vezes na faixa de dezenas a pouco mais de cem gramas de carboidratos por dia.
- Dietas muito baixas em carboidratos (por exemplo, cetogênicas) são vistas como uma subcategoria, com potencial terapêutico maior, mas que requer monitorização mais rigorosa de medicamentos e de parâmetros clínicos.
3. American Diabetes Association (ADA): consenso em terapia nutricional
3.1. Não existe uma “única dieta ideal” para diabetes
O relatório de consenso da ADA, “Nutrition Therapy for Adults With Diabetes or Prediabetes: A Consensus Report”, publicado em 2019 no periódico Diabetes Care, tem como objetivo fornecer orientação baseada em evidências para individualizar a terapia nutricional em adultos com diabetes e pré-diabetes. [Diabetes Care 2019]
Esse documento afirma explicitamente que:
- Não há um único padrão alimentar recomendado para todas as pessoas com diabetes.
- Vários padrões são aceitáveis (mediterrâneo, pobre em gordura, com baixo teor de carboidratos etc.), desde que:
- Ajudem a atingir metas de hemoglobina glicada (HbA1c).
- Favoreçam perda ou manutenção de peso saudável, quando necessário.
- Melhorem fatores de risco cardiovascular.
3.2. Reduzir carboidratos: a estratégia com maior base de evidências para glicemia
O texto de consenso da ADA destaca que a redução da quantidade total de carboidratos na alimentação possui a maior base de evidências para melhorar o controle glicêmico em pessoas com diabetes. [PMC7011201]
Esse ponto é central:
- Entre todas as manipulações dietéticas testadas em ensaios clínicos, reduzir carboidratos é consistentemente associado à melhora de HbA1c e à redução da necessidade de medicamentos anti-hiperglicemiantes.
- Dietas com baixo ou muito baixo teor de carboidratos são explicitamente discutidas como opções possíveis, desde que:
- Sejam individualizadas.
- Contem com supervisão adequada, sobretudo em pessoas que usam insulina ou agentes com risco de hipoglicemia.
3.3. Standards of Care da ADA: low carb como opção viável
Nas Standards of Medical Care in Diabetes (edições recentes), a ADA reforça que:
Padrões alimentares com baixo e muito baixo teor de carboidratos podem ser adotados por adultos com diabetes tipo 2, especialmente quando:
- O controle glicêmico não é alcançado com padrões convencionais.
- Há desejo de reduzir doses de medicamentos.
- Planos muito baixos em carboidratos exigem:
- Ajuste cuidadoso de doses de insulina e outros fármacos.
- Monitorização próxima de glicemia para evitar hipoglicemia.
Em outras palavras, a principal entidade de referência em diabetes nos Estados Unidos:
- Reconhece formalmente dietas low carb e muito low carb como abordagens terapêuticas viáveis.
- Não as descreve como “modismo” ou “sem evidência”, mas como parte de um conjunto de estratégias válidas, a serem escolhidas conforme o perfil de cada paciente.
4. Diabetes Canada: low carb como padrão alimentar saudável possível
A Diabetes Canada publicou em 2020 um posicionamento específico, “Diabetes Canada Position Statement on Low-Carbohydrate Diets for Adults With Diabetes: A Rapid Review”, acompanhado de um resumo técnico. [PDF – Position Statement]
No resumo distribuído a profissionais, a entidade destaca que:
- Alimentações saudáveis com baixo ou muito baixo teor de carboidratos podem ser consideradas um dos padrões alimentares saudáveis para adultos com diabetes.
- Há evidência de que, em adultos com diabetes tipo 2:
- Dietas low carb podem melhorar o controle da glicose (HbA1c).
- Auxiliam na perda de peso.
- Podem permitir redução da necessidade de medicamentos, em alguns casos. [Resumo Diabetes Canada]
Para diabetes tipo 1, a Diabetes Canada aponta:
- Evidência limitada e de qualidade moderada ou baixa.
- Possíveis benefícios em controle glicêmico e variabilidade, mas com maior risco potencial de hipoglicemia e cetoacidose se o ajuste de insulina não for adequado.
A conclusão é clara:
- Low carb não é a única abordagem válida, mas é reconhecida como opção legítima, que deve ser considerada dentro de um processo de decisão compartilhada entre paciente e equipe de saúde.
5. Diabetes UK: recomendação explícita de low carb em adultos com DM2 e excesso de peso
A Diabetes UK publicou, em 2021, o documento “Low carb diets for people with diabetes – Position statement”.
Nesse posicionamento, a entidade informa, em linguagem direta, que:
- Em conjunto com o Scientific Advisory Committee on Nutrition (SACN), recomenda dietas com menor teor de carboidratos (50–130 g/dia) como opção eficaz em curto prazo para adultos com diabetes tipo 2 que apresentam sobrepeso ou obesidade. [Position Statement 2021]
- Essas dietas podem:
- Ajudar na perda de peso.
- Melhorar o controle da glicose.
- Reduzir fatores de risco associados à doença cardiovascular.
O documento reforça que:
- Low carb não deve ser a única estratégia oferecida, mas pode ser recomendada para “alguns adultos” com diabetes tipo 2 e excesso de peso.
- O acompanhamento por profissionais qualificados é necessário para:
- Monitorar efeitos na glicemia.
- Ajustar, se necessário, a farmacoterapia.
- Garantir qualidade nutricional (proteínas, gorduras, fibras, micronutrientes).
Assim, uma das principais entidades de diabetes do Reino Unido aceita explicitamente dietas low carb como abordagem terapêutica indicada para um segmento bem definido de pacientes (adultos com DM2 e excesso de peso), com base em evidência revisada.
6. Dietitians Australia: quando o nutricionista pode recomendar low carb
A organização profissional Dietitians Australia mantém um documento de orientação intitulado “Low-carbohydrate diets for people with type 1 and type 2 diabetes”.
Nesse material, a entidade afirma que:
- Alguns profissionais de nutrição podem recomendar uma dieta com baixo teor de carboidratos para pessoas com diabetes tipo 2, especialmente quando existe sobrepeso ou obesidade, como uma das estratégias para alcançar metas de saúde.
- Seguir uma dieta low carb por determinado período pode:
- Melhorar a glicemia de jejum.
- Melhorar a HbA1c.
- Reduzir triglicérides.
Ao mesmo tempo, o documento ressalta que:
- Em horizontes de 12–24 meses, não há diferenças consistentes em risco de doença cardiovascular entre dietas low carb e dietas com teor moderado a alto de carboidratos.
- Para pessoas com diabetes tipo 1, não há evidência forte suficiente para recomendar rotineiramente dietas low carb, havendo preocupação com risco de hipoglicemia e outros desfechos se a abordagem for mal conduzida. [PDF – Dietitians Australia]
A posição da Dietitians Australia é alinhada às demais diretrizes:
- Low carb é um instrumento possível na prática clínica, sobretudo em DM2 com excesso de peso.
- O papel do nutricionista é avaliar cada caso, pesar benefícios e riscos, e orientar a montagem de um padrão alimentar completo, em vez de apenas “cortar carboidratos” de forma desorganizada.
7. British Dietetic Association (BDA) – Pediatria e diabetes tipo 1
No contexto pediátrico, a British Dietetic Association (BDA) publicou um posicionamento específico sobre o uso de dietas com baixo teor de carboidratos em crianças e adolescentes com diabetes tipo 1. O documento completo está disponível em formato PDF. [BDA – Position Statement]
De forma resumida, esse posicionamento enfatiza que:
- As evidências sobre eficácia e segurança de dietas low carb e very low carb em crianças e jovens com diabetes tipo 1 são extremamente limitadas e de baixa qualidade.
- Por esse motivo, dietas com baixo carboidrato não são recomendadas rotineiramente nesse grupo.
- Existem preocupações adicionais, como:
- Potencial impacto no crescimento.
- Risco de deficiências nutricionais.
- Risco de hipoglicemia e cetoacidose, caso insulina e ingestão de carboidratos não sejam cuidadosamente ajustadas.
Em artigo correlato, dedicado a crianças e jovens com diabetes, autores ligados à prática clínica em pediatria reforçam que não há evidência suficiente para apoiar ou refutar o uso rotineiro de dietas low carb em pediatria, indicando necessidade de mais estudos primários de curto e longo prazo. [Hanson et al., 2019]
Esse conjunto de documentos deixa claro que:
- Em pediatria, a prudência é maior.
- Dietas low carb podem aparecer em contextos específicos, mas não são consideradas padrão de tratamento para crianças e adolescentes com diabetes, até que existam dados mais robustos.
8. Position statements e diretrizes regionais do NHS (Reino Unido)
No sistema público de saúde britânico, há exemplos de posições formais em nível regional. O documento “Somerset Position Statement on Low Carb Diets”, disponível no site do NHS Somerset, é um dos mais citados.
Esse posicionamento afirma que:
Dietas com baixo teor de carboidratos podem ser usadas como uma das abordagens para o manejo do diabetes tipo 2, mas:
- Não devem ser promovidas como a única estratégia.
- Devem integrar um plano personalizado, desenvolvido em parceria entre a pessoa com diabetes e o profissional de saúde.
- O cuidado deve ser centrado na pessoa, considerando:
- Circunstâncias sociais.
- Cultura.
- Crenças.
- Outras condições de saúde e medicamentos em uso. [Somerset Position Statement]
O próprio site do NHS Somerset inclui material específico ligando o uso de dietas low carb a esquemas de medicação para diabetes tipo 2, reforçando que a redução de carboidratos pode exigir ajuste da dose de fármacos, especialmente os que apresentam risco de hipoglicemia. [NHS Somerset – Diabetes]
Em síntese, serviços do NHS:
- Reconhecem low carb como opção válida.
- Enfatizam a necessidade de:
- Planejamento individualizado.
- Acompanhamento multiprofissional.
- Não exclusão de outras estratégias (atividade física, cessação do tabagismo, sono adequado etc.).
9. Society of Metabolic Health Practitioners (SMHP): diretriz clínica para restrição terapêutica de carboidratos
A Society of Metabolic Health Practitioners (SMHP) publicou as “Clinical Guidelines for Therapeutic Carbohydrate Restriction”, hoje na versão 1.3.9. [Guidelines]
Essas diretrizes:
- Apresentam um protocolo geral para implementação de restrição terapêutica de carboidratos em ambiente hospitalar ou ambulatorial.
- Descrevem a restrição de carboidratos como intervenção clínica eficaz para ajudar pacientes a atingir metas terapêuticas em condições específicas (por exemplo, diabetes tipo 2, síndrome metabólica, obesidade).
- Organizam a aplicação da abordagem em:
- “Protocolos gerais” (como no documento citado).
- “Protocolos específicos por condição”, em que a ingestão de carboidratos é ajustada conforme doença de base, medicamentos e metas clínicas.
O texto afirma, logo na introdução, que a restrição de carboidratos é um recurso terapêutico que deve complementar a experiência clínica e não substituí-la. A diretriz enfatiza ainda:
A necessidade de:
- Avaliação inicial completa (dados clínicos, laboratoriais e medicamentos em uso).
- Monitorização próxima, especialmente nas primeiras semanas de intervenção.
- Redução ou retirada de fármacos hipoglicemiantes, anti-hipertensivos e outros, conforme melhora dos parâmetros.
9.1. Posição da SMHP sobre diabetes tipo 1
Além da diretriz geral, a SMHP publicou o artigo “The SMHP™ position statement on therapeutic carbohydrate reduction for type 1 diabetes mellitus”, no Journal of Metabolic Health. [Journal of Metabolic Health – SMHP]
Nesse documento, a entidade:
- Apresenta sua posição sobre o uso de redução terapêutica de carboidratos (TCR) em diabetes tipo 1.
- Discorre sobre:
- Potenciais benefícios em variabilidade glicêmica e necessidade de insulina.
- Riscos particulares (hipoglicemia, cetose, cetoacidose) se a abordagem não for bem planejada.
- Ressalta que intervenções desse tipo devem ser conduzidas por equipes com experiência específica em TCR e manejo avançado de insulina, e não aplicadas de forma generalizada.
Assim, no conjunto, a SMHP:
- Consolida a restrição de carboidratos como estratégia terapêutica estruturada.
- Fornece um nível de detalhamento prático útil para profissionais que atuam diretamente em saúde metabólica e manejo nutricional intensivo.
10. Revisões e consensos que resumem e integram essas diretrizes
10.1. Consenso internacional em Frontiers in Nutrition (2024)
O artigo “Expert consensus on nutrition and lower-carbohydrate dietary patterns: An evidence- and equity-based approach to dietary guidance”, publicado em 2024, sintetiza grande volume de evidências clínicas sobre dietas com menor teor de carboidratos. [Frontiers in Nutrition 2024]
Esse consenso conclui que:
- Há um corpo substancial de evidência clínica sustentando efeitos benéficos de padrões com menor teor de carboidratos sobre fatores de risco associados à resistência à insulina e às doenças cardiovasculares em adultos.
- Padrões low carb bem formulados são:
- Consistentes com a fisiologia humana normal.
- Comparáveis em segurança e eficácia a outros padrões alimentares em desfechos como:
- Percentual de gordura corporal.
- Gordura ectópica.
- Massa magra.
- A evidência disponível indica que dietas low carb:
- Não estão associadas de forma consistente a piora de função renal, saúde óssea ou risco de deficiências de micronutrientes, quando bem planejadas.
- Podem contribuir para reduzir a alta prevalência de obesidade, pré-diabetes, síndrome metabólica e diabetes tipo 2, sendo candidatas a constar como padrão oficialmente aceito em diretrizes populacionais, como as Dietary Guidelines for Americans (DGA). [PubMed – Volek et al., 2024]
Dessa forma, o consenso atua como um “elo de ligação” entre:
- Diretrizes específicas de diabetes (ADA, Diabetes Canada, Diabetes UK).
- Diretrizes de prática de nutricionistas (Dietitians Australia, BDA).
- Diretrizes regionais (NHS Somerset).
- Diretrizes clínicas de TCR (SMHP).
10.2. Outros documentos de síntese
Além do consenso da Frontiers in Nutrition, destacam-se:
- O próprio relatório de consenso da ADA em terapia nutricional, que é em si uma revisão extensa da literatura com foco em diabetes, apresentando low carb como uma das principais estratégias para controle glicêmico. [Diabetes Care 2019]
- A revisão rápida da Diabetes Canada, que reavalia o conjunto de estudos clínicos sobre dietas low carb em adultos com diabetes, sintetizada no position statement e no resumo técnico distribuído a profissionais. [Can J Diabetes 2020]
Esses documentos demonstram que:
A discussão sobre low carb não se baseia em estudos isolados, e sim em:
- Ensaios clínicos randomizados.
- Meta-análises.
- Revisões sistemáticas e narrativas.
- Documentos de consenso de sociedades profissionais.
11. Síntese prática para profissionais de saúde
Com base nos documentos citados, é possível fazer algumas afirmações objetivas, úteis em defesas técnicas e pareceres:
Existem diretrizes oficiais que reconhecem dietas com menor teor de carboidratos como opção terapêutica legítima em diabetes tipo 2.
- ADA, Diabetes Canada, Diabetes UK, Dietitians Australia e SMHP colocam low carb como estratégia válida, especialmente em adultos com diabetes tipo 2 e excesso de peso ou síndrome metabólica.
- A redução da ingestão de carboidratos é destacada por diretrizes de alto nível como uma das estratégias com mais evidência para melhorar a glicemia.
- O consenso da ADA em terapia nutricional afirma isso de forma explícita, ao comparar diferentes abordagens dietéticas.
- As principais entidades não tratam low carb como “dieta da moda”, mas como padrão alimentar possível, a ser escolhido com base em preferências, riscos, benefícios e evidência.
- Low carb é apresentado como “uma entre várias opções” em todos os documentos, não como solução única, nem como estratégia proibida.
- Existem posicionamentos específicos para grupos de maior risco (crianças com DM1, adultos com DM1, pessoas em uso de certos medicamentos), que pedem cautela adicional.
- BDA em pediatria e Dietitians Australia deixam claro que faltam dados robustos em crianças e em DM1, o que justifica prudência e monitorização intensiva.
- Consensos recentes apontam que padrões low carb bem formulados são comparáveis em segurança a outros padrões dietéticos.
- O consenso de 2024 em Frontiers in Nutrition ressalta que, nas áreas de maior preocupação (perfil lipídico, rins, ossos, micronutrientes), dietas low carb bem planejadas não se mostram inferiores às dietas convencionais.
- Diversos documentos enfatizam a necessidade de monitorização e ajuste de medicamentos ao adotar low carb.
- ADA, Diabetes Canada, NHS Somerset e SMHP salientam que a queda de glicemia e de pressão arterial pode exigir redução de doses de insulina, secretagogos e anti-hipertensivos.
Em conjunto, esse corpo de evidências e diretrizes oferece uma base sólida para que profissionais de saúde defendam, em pareceres técnicos, conselhos profissionais ou discussões com conselhos de classe, que:
- Dietas com baixo ou muito baixo teor de carboidratos não são práticas sem respaldo científico.
- Pelo contrário, são abordagens reconhecidas por sociedades de referência em diabetes, nutrição e saúde metabólica, quando devidamente individualizadas e monitorizadas.
- A decisão sobre usar ou não low carb deve permanecer no âmbito da autonomia profissional responsável, apoiada em evidências e adaptada à realidade clínica de cada paciente, e não ser desqualificada a priori como falta de embasamento.
| Organização / Sociedade | Frase-chave sobre low-carb |
|---|---|
| American Diabetes Association (ADA), 2019 – Nutrition Therapy for Adults With Diabetes or Prediabetes: A Consensus Report | Afirma que reduzir o total de carboidratos na alimentação é a estratégia com a maior base de evidências para melhorar a glicemia em pessoas com diabetes, e que padrões com baixo teor de carboidratos podem ser utilizados como opção válida de terapia nutricional, desde que individualizados e monitorados. |
| American Diabetes Association (ADA), 2025 – Standards of Care in Diabetes (capítulo sobre alimentação/comportamentos de saúde) | Reconhece padrões alimentares com baixo e muito baixo teor de carboidratos como opções viáveis para adultos com diabetes tipo 2, capazes de reduzir HbA1c e necessidade de medicamentos, enfatizando que ingestões muito baixas de carboidratos exigem ajustes de fármacos e supervisão clínica. |
| Diabetes Canada, 2020 – Position Statement on Low-Carbohydrate Diets for Adults With Diabetes | Declara que alimentações saudáveis com baixo ou muito baixo teor de carboidratos podem ser consideradas um dos padrões alimentares saudáveis para adultos com diabetes, especialmente em diabetes tipo 2, com potenciais benefícios em HbA1c, peso corporal e redução de medicamentos, quando bem acompanhadas. |
| Diabetes Australia, 2018/2019 – Low carbohydrate eating for people with diabetes – Position Statement | Informa que o posicionamento se baseia nas evidências mais recentes e oferece orientações práticas para pessoas com diabetes que consideram um plano alimentar com baixo teor de carboidratos, indicando que, para diabetes tipo 2, há evidência confiável de que essa abordagem pode ser segura e útil para reduzir a glicose média e o peso corporal em curto prazo. |
| Diabetes UK, 2021 – Low carb diets for people with diabetes – Position statement | Em conjunto com o SACN, recomenda dietas com menor teor de carboidratos (aprox. 50–130 g/dia) como opção eficaz em curto prazo para alguns adultos com diabetes tipo 2 e sobrepeso/obesidade, podendo ajudar na perda de peso e no controle da glicose, desde que com orientação profissional. |
| Dietitians Australia, 2023 – Low-carbohydrate diets for people with type 1 and type 2 diabetes | Afirma que alguns nutricionistas podem recomendar uma dieta com baixo teor de carboidratos para pessoas com diabetes tipo 2, pois seguir esse padrão por certo período pode melhorar glicemia de jejum, HbA1c e triglicérides; ressalta que low-carb é uma entre várias opções e exige avaliação caso a caso. |
| British Dietetic Association (BDA), 2019 – Low Carbohydrate Diets for Children and Young People with Type 1 Diabetes – Position Statement | Reconhece que dietas com baixo teor de carboidratos vêm sendo usadas em crianças e jovens com diabetes tipo 1, mas conclui que as evidências sobre eficácia e segurança são muito limitadas, motivo pelo qual não recomenda low-carb como abordagem padrão em pediatria, sugerindo cautela e mais pesquisa. |
| NHS Somerset (Reino Unido), ~2018/2019 – Somerset Position Statement on Low Carb Diets in Type 2 Diabetes | Declara que dietas com baixo teor de carboidratos são uma das abordagens possíveis para o manejo do diabetes tipo 2, devendo ser oferecidas como opção dentro de um cuidado centrado na pessoa, com atenção para o ajuste de medicamentos e para o contexto social e clínico individual. |
| Society of Metabolic Health Practitioners (SMHP), 2022 – Clinical Guidelines for Therapeutic Carbohydrate Restriction | Apresenta diretrizes clínicas específicas para “restrição terapêutica de carboidratos”, descrevendo low-carb e very-low-carb como intervenções eficazes para melhorar controle glicêmico, peso e marcadores cardiometabólicos em condições como diabetes tipo 2, síndrome metabólica e obesidade, com protocolos de monitorização e redução de fármacos. |
| SMHP, 2024 – Position statement on therapeutic carbohydrate reduction for type 1 diabetes mellitus | Expõe o posicionamento da SMHP de que a redução terapêutica de carboidratos pode ser utilizada em diabetes tipo 1, com potencial de melhorar variabilidade glicêmica e necessidade de insulina, mas ressalta que isso deve ser feito apenas sob supervisão de equipes experientes, devido a riscos de hipoglicemia e complicações se mal conduzido. |
| Volek et al., 2024 – Expert consensus on nutrition and lower-carbohydrate dietary patterns (Frontiers in Nutrition) | Conclui que há um corpo substancial de evidência clínica a favor dos efeitos benéficos de padrões com menor teor de carboidratos sobre resistência à insulina, peso, triglicérides, HDL-colesterol e outros fatores de risco cardiometabólico, e que padrões low-carb bem formulados são comparáveis em segurança a outros padrões alimentares e deveriam ser incluídos nas diretrizes populacionais. |
| National Lipid Association, 2019 – Review of current evidence and clinical recommendations on low- and very-low-carbohydrate diets | Declara que a revisão fornece uma análise abrangente das evidências sobre dietas com baixo e muito baixo teor de carboidratos, mostrando que elas podem reduzir peso corporal, melhorar controle glicêmico e modificar favoravelmente o perfil lipídico em diversos contextos, oferecendo recomendações práticas para uso clínico. |
| StatPearls / NCBI Bookshelf, atualização 2023 – capítulo Low-Carbohydrate Diet | Resume que dietas com baixo teor de carboidratos mostram superioridade em perda de peso nos primeiros 6–12 meses em vários ensaios, além de melhorar triglicérides, HDL-colesterol e marcadores de controle glicêmico, e define como objetivo clínico prescrever e monitorar essas dietas de forma baseada em evidências em pacientes selecionados. |
| Teicholz et al., 2025 – Myths and Facts Regarding Low-Carbohydrate Diets (Nutrients) | Argumenta, com base em revisão da literatura, que dietas com baixo teor de carboidratos foram amplamente pesquisadas e não podem mais ser consideradas “dietas da moda”, mostrando que, em indivíduos adequadamente acompanhados, não há evidência de que provoquem, por si, piora da função renal ou aumento de risco de doença cardiovascular. |
| MDPI Encyclopedia, 2019/2020 – verbete Low Carbohydrate Diet | Ao sintetizar diretrizes como as da Diabetes Australia, afirma que, para pessoas com diabetes tipo 2, há evidência confiável de que uma alimentação com menor teor de carboidratos pode ser segura e útil para reduzir, em curto prazo, a glicose média no sangue, além de auxiliar na redução de peso e no manejo de fatores de risco como pressão arterial elevada. |
