Durante a infância, as escolhas alimentares não são feitas apenas pelo sabor ou pela aparência dos alimentos. Elas também dependem muito de quem ensina e de quem dá o exemplo. Um estudo recente analisou como crianças de 4 a 6 anos confiam em diferentes pessoas para decidir se um alimento, como uma fruta com mofo, pode ou não ser comido. A pesquisa observou se as crianças distinguem quem tem mais conhecimento — uma especialista em frutas, uma agricultora ou uma pessoa comum — e como reagem quando a fala desse adulto entra em conflito com o que elas já acreditam.
O que o estudo fez
Foram avaliadas 180 crianças chinesas. Elas viram imagens de frutas frescas e frutas com sinais de estrago. Em seguida, tinham que responder:
- Dar a opinião inicial sobre se a fruta podia ser comida.
- Escolher a quem perguntar: especialista, agricultora ou pessoa comum.
- Decidir em quem confiar quando havia opiniões diferentes.
- Confirmar ou mudar a escolha depois de ouvir os adultos.
Dessa forma, os pesquisadores conseguiram entender em quem as crianças confiam mais e como revisam suas crenças.
O que as crianças mostraram
- Reconhecimento da experiência – Desde cedo, as crianças já sabem que vale a pena ouvir quem entende do assunto. Por isso, deram mais atenção à especialista e à agricultora do que à pessoa comum.
- Desconfiança diante do risco – Quando a especialista dizia algo que parecia perigoso (como “o fruto mofado pode ser comido”), muitas crianças desconfiaram. Apenas uma parte delas mudou de ideia, o que mostra prudência natural diante de sinais de perigo.
- Diferença da idade – As crianças de 6 anos foram mais capazes de perceber que a especialista tinha mais conhecimento do que a agricultora, mostrando que a noção de níveis diferentes de especialização vai se desenvolvendo com a idade.
O que isso significa
O estudo mostra que, ainda muito pequenas, as crianças já combinam três fatores para tomar decisões: o que acreditam, quem fala e o risco envolvido. Elas tendem a respeitar a autoridade de especialistas, mas não deixam totalmente de lado seus próprios sinais de alerta, como o aspecto de uma fruta estragada. Essa cautela ajuda a protegê-las contra erros que poderiam causar problemas de saúde.
Reflexão final
Os resultados destacam um ponto importante para os adultos: as crianças aprendem não só pelo que ouvem, mas também pelo que veem. Quando pais e cuidadores fazem escolhas alimentares seguras e equilibradas, transmitem mais do que informações; transmitem confiança e exemplo prático. Uma criança que observa os pais rejeitando alimentos estragados ou valorizando alimentos nutritivos entende, na prática, como cuidar da própria saúde. Em outras palavras, cada decisão alimentar dos adultos é também uma lição silenciosa para os pequenos.
Fonte: https://doi.org/10.1016/j.appet.2025.108321
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