Repensando o vegetarianismo: diferenças entre vegetarianos e não vegetarianos na adesão a valores humanos básicos


O estudo publicado na PLOS ONE em 2025 investigou como vegetarianos e não vegetarianos diferem na adesão a valores humanos básicos. Embora a pesquisa busque compreender o vegetarianismo como uma expressão de identidade social, os resultados trazem implicações que podem ser interpretadas de forma crítica. A seguir, serão destacados aspectos negativos ou contraditórios observados nos achados.

Menor valorização de princípios sociais fundamentais

Um dos resultados mais marcantes foi que vegetarianos atribuíram menor importância a valores como:

  • Benevolência: preservação do bem-estar das pessoas próximas.
  • Segurança: estabilidade e harmonia social.
  • Conformidade: respeito a normas e expectativas sociais.
  • Tradição: valorização de costumes e crenças transmitidas culturalmente.

Essa tendência pode ser vista como fragilidade social, já que tais valores são essenciais para a coesão e a confiança dentro das comunidades.

Ênfase em poder e realização pessoal

Outro ponto problemático é que vegetarianos, em todas as amostras, atribuíram maior importância relativa a:

  • Poder: domínio sobre pessoas e recursos.
  • Realização: sucesso pessoal segundo padrões sociais.
  • Estimulação: busca de novidade e desafio.

Isso sugere que, em vez de refletir altruísmo ou preocupação coletiva, a identidade vegetariana estaria mais próxima de valores ligados à autoafirmação, ambição e individualismo.

Contradição com o discurso público

Enquanto o vegetarianismo costuma ser promovido como expressão de empatia, harmonia social e cuidado ambiental, os dados mostraram que:

  • Benevolência foi menor entre vegetarianos, indicando que o cuidado com pessoas próximas não se traduziu em valores centrais.
  • Universalismo (tolerância, proteção do ambiente) só foi mais alto nos EUA, não nas amostras polonesas, mostrando que o suposto vínculo com a causa ambiental não é consistente globalmente.
  • Os próprios autores destacam que vegetarianos podem ser percebidos como “mais femininos” ou mais orientados ao coletivo, mas o estudo revelou um perfil mais próximo da valorização de poder e conquista, associado culturalmente ao masculino.

Distanciamento da norma social e risco de marginalização

A menor adesão a Tradição e Conformidade pode ser interpretada como rejeição explícita às normas alimentares majoritárias. Esse afastamento, segundo a literatura citada no artigo, gera reações negativas entre onívoros, resultando em fenômenos como a “ameaça vegetariana”, em que vegetarianos são vistos como um risco à coesão social.

Limitações

  • Causalidade indefinida: não está claro se valores levam ao vegetarianismo ou se a dieta molda valores posteriores.
  • Diferenças culturais inconsistentes: por exemplo, Autodireção foi maior em vegetarianos na Polônia, mas menor nos EUA.
  • Exploratórios inconclusivos: distinções entre veganos, vegetarianos, pescetarianos e onívoros ocasionais não mostraram padrões sólidos.

Essas inconsistências minam a ideia de que o vegetarianismo seja universalmente associado a valores nobres ou estáveis.

Conclusão crítica

Em síntese, o estudo mostra que o vegetarianismo não corresponde ao estereótipo de maior empatia, harmonia e altruísmo. Pelo contrário, associa-se a menor valorização de benevolência, tradição, segurança e conformidade — pilares que sustentam a vida comunitária. Ao mesmo tempo, cresce a ênfase em poder, realização e estimulação, traços que podem ser vistos como individualistas e competitivos.

Assim, ao invés de confirmar a imagem positiva frequentemente divulgada, os resultados sugerem contradições e possíveis fragilidades sociais associadas à identidade vegetariana.

Fonte: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0323202

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