Redução terapêutica de carboidratos no lipedema: diretrizes para uma abordagem holística centrada na paciente


O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo desproporcional de gordura, dor persistente e alterações no tecido subcutâneo, que atinge principalmente mulheres. Por muito tempo, acreditou-se que nenhuma estratégia alimentar poderia alterar sua evolução. No entanto, evidências recentes indicam que a redução de carboidratos, especialmente em padrões cetogênicos, pode trazer benefícios consistentes no alívio dos sintomas, na mobilidade e na qualidade de vida.

A proposta central do estudo

O artigo publicado em Recent Progress in Nutrition defende que o manejo nutricional do lipedema deve ser personalizado e centrado na paciente, incorporando quatro dimensões:

  • Física: avaliação da gravidade dos sintomas, perfil metabólico e comorbidades;
  • Emocional: impacto de experiências prévias com dietas e da estigmatização;
  • Social: suporte familiar, fatores culturais e condições socioeconômicas;
  • Psicológica: presença de ansiedade, depressão ou transtornos alimentares.

Essa visão amplia o cuidado para além da perda de peso, valorizando o controle da dor, do edema, da fadiga e da funcionalidade.

Recomendações de macronutrientes

O estudo sugere faixas de ingestão como ponto de partida:

  • Carboidratos: menos de 50 g/dia (nível cetogênico) até 130 g/dia (moderação).
  • Gorduras: mínimo de 30 g/dia, ajustado conforme a redução de carboidratos.
  • Proteínas: ao menos 1,2–1,5 g/kg de peso ideal por dia, distribuídas ao longo do dia.

Evidências clínicas e mecanismos

Pesquisas recentes e relatos clínicos mostram que dietas com baixo teor de carboidratos reduzem dor, edema, gordura visceral e melhoram o perfil metabólico. Curiosamente, a melhora da dor muitas vezes ocorre mesmo sem perda de peso expressiva. A normalização da insulina, com consequente redução da retenção de sódio e água, pode explicar parte desse efeito. Além disso, a cetose nutricional favorece a função mitocondrial e reduz o estresse oxidativo.

Questões práticas

  • Níveis de cetose: ainda não está definido qual intensidade é ideal, mas a monitorização pode ajudar a ajustar a dieta.
  • Alimentos ultraprocessados: devem ser evitados, pois podem aumentar a inflamação e a ingestão calórica.
  • Restrição calórica: o artigo sugere que dietas com redução de carboidratos podem ser eficazes sem necessidade de contagem rígida de calorias.
  • Segurança de longo prazo: o acompanhamento clínico é fundamental para monitorar colesterol, função hepática, renal e possíveis deficiências de micronutrientes.

Pontos de atenção adicionais

Pacientes com lipedema frequentemente apresentam hipotireoidismo, doenças autoimunes e sintomas gastrointestinais, o que exige ajustes finos na dieta e, em alguns casos, suplementação direcionada. A deficiência de vitamina D e selênio é recorrente e deve ser monitorada. Questões emocionais, como alimentação compulsiva ou o histórico de dietas malsucedidas, também precisam ser consideradas no plano terapêutico.

Conclusão

A redução terapêutica de carboidratos representa uma ferramenta promissora e cada vez mais reconhecida para o manejo do lipedema. Integrada a uma abordagem holística e centrada na paciente, pode melhorar sintomas, reduzir inflamação e trazer ganhos duradouros em saúde e qualidade de vida. O acompanhamento multidisciplinar, com personalização das metas nutricionais e suporte contínuo, é a chave para a sustentabilidade dos resultados.

Fonte: https://doi.org/10.21926/rpn.2503019

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