Pesquisadores publicaram na revista Nature Metabolism uma descoberta relevante sobre a relação entre bebidas açucaradas e a progressão do câncer colorretal. Até então, já se sabia que o consumo dessas bebidas elevava o risco de desenvolver a doença. O novo estudo mostra que, em fases mais avançadas, a ingestão de líquidos contendo glicose e frutose combinadas pode favorecer a metástase, ou seja, a disseminação do tumor para outros órgãos, especialmente o fígado.
Quais bebidas foram estudadas
O termo utilizado pelos autores foi bebidas adoçadas com açúcar (sugar-sweetened beverages SSBs, na sigla em inglês). Nesse grupo entram:
- Refrigerantes.
- Bebidas energéticas.
- Chás gelados e sucos industrializados adoçados.
- Sucos concentrados com adição de açúcar.
Essas bebidas têm em comum o uso de sacarose ou xarope de milho rico em frutose, ambos formados por glicose e frutose em proporções próximas de 1:1. O estudo enfatiza que esse tipo de mistura é o que cria um ambiente favorável à metástase.
É importante destacar que sucos de frutas naturais, sem adição de açúcar, não foram o foco da pesquisa. O que se analisou foram bebidas processadas ou concentradas, em que a presença de frutose e glicose é mais intensa e comparável à dos refrigerantes.
O que foi observado nos experimentos
Os cientistas avaliaram o efeito de glicose isolada, frutose isolada e a combinação dos dois açúcares:
- Somente frutose: não houve crescimento relevante das células tumorais.
- Somente glicose: o tumor manteve o padrão já esperado.
- Glicose + frutose: houve aumento marcante da capacidade de migração e invasão celular, sem crescimento maior do tumor primário, mas com elevação significativa de metástases hepáticas em camundongos.
Isso significa que não é o tumor inicial que cresce mais rápido, mas sim sua habilidade de se espalhar quando os dois açúcares estão presentes em conjunto, como ocorre após o consumo de bebidas adoçadas.
O mecanismo identificado
O estudo demonstrou que a combinação de glicose e frutose ativa uma enzima chamada sorbitol desidrogenase (SORD), que passa a trabalhar de forma invertida. Esse processo:
- Aumenta a razão NAD⁺/NADH, liberando o fluxo da glicólise.
- Mantém o fornecimento de energia e carbono para o ciclo do TCA.
- Ativa a via do mevalonato, que sustenta modificações celulares associadas à capacidade de invasão e disseminação tumoral.
Além disso, a análise de tecidos humanos mostrou que tumores colorretais expressam níveis elevados da enzima SORD, reforçando a relevância desse mecanismo.
Relevância clínica e prática
- O estudo não é um ensaio clínico em humanos, mas seus achados trazem implicações importantes:
- Para pacientes com câncer colorretal, o consumo de bebidas adoçadas com glicose + frutose pode favorecer metástase.
- Recomendações dietéticas que ainda incluem energéticos ou sucos concentrados devem ser revistas, já que eles atuam metabolicamente como refrigerantes.
- Em termos terapêuticos, surgem três possíveis alvos:
- Inibir a SORD.
- Reduzir a razão NAD⁺/NADH.
- Bloquear a via do mevalonato, onde já existem fármacos como as estatinas.
Embora esses caminhos ainda necessitem de validação em ensaios clínicos, o estudo oferece bases sólidas para futuros tratamentos.
Conclusão
A pesquisa fornece evidências robustas de que bebidas adoçadas com açúcar, incluindo refrigerantes, energéticos e sucos concentrados, podem acelerar a metástase do câncer colorretal. O risco não se deve apenas ao excesso de calorias ou ao aumento de peso, mas a um mecanismo bioquímico específico que favorece a mobilidade tumoral.
Assim, a mensagem prática é clara: evitar o consumo de bebidas adoçadas com glicose e frutose combinadas pode ser uma medida relevante de proteção, especialmente para pessoas já diagnosticadas com câncer colorretal.
Fonte: https://doi.org/10.1038/s42255-025-01368-w
