Em 2025, uma revisão sistemática publicada na revista Lipids analisou 45 estudos para compreender como dietas vegetarianas influenciam o estado dos ácidos graxos poli-insaturados n-3 (PUFAs), especialmente EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosa-hexaenoico). Esses nutrientes são essenciais para funções cerebrais, visuais, cardiovasculares e inflamatórias.
Apesar de vegetarianos consumirem mais ALA (ácido alfa-linolênico, precursor vegetal), a revisão mostrou que esse aumento não corrige a falta de EPA e DHA dietéticos. O corpo humano converte ALA em EPA/DHA de forma limitada, e esse processo é ainda mais prejudicado pela alta ingestão de LA (ácido linoleico, n-6), comum em dietas ricas em óleos vegetais.
Achados principais
- Deficiência persistente de EPA e DHA: Vegetarianos e veganos apresentam, de forma consistente, níveis mais baixos de EPA e DHA em sangue, eritrócitos, leite materno e outros tecidos. Essa insuficiência não é resolvida mesmo com maior ingestão de ALA.
- Risco aumentado em gestação e lactação: Gestantes e lactantes vegetarianas/veganas têm menor DHA circulante e no leite humano. Essa limitação reduz o aporte para o bebê em períodos críticos de desenvolvimento cerebral e visual, comprometendo reservas em fases em que a demanda é elevada.
- Excesso de n-6 (LA): A alta ingestão de ácido linoleico — característica de padrões vegetarianos ricos em óleos vegetais — compete metabolicamente com o ALA, reduzindo ainda mais a formação de EPA e DHA. Esse desequilíbrio favorece um perfil inflamatório e piora o quadro de deficiência.
- Risco de deficiências múltiplas: Além da carência de n-3, vegetarianos e veganos estão sujeitos a deficiências de vitamina B12, vitamina D, cálcio, ferro, iodo e zinco. Essas carências, somadas, podem impactar processos metabólicos e agravar a incapacidade de manter níveis adequados de EPA e DHA.
- Impactos em tecidos e funções biológicas: Níveis reduzidos de EPA e DHA em eritrócitos, placenta e esperma indicam risco de prejuízos funcionais em processos celulares, reprodutivos e cardiovasculares. O índice ômega-3, usado para avaliar saúde cardiovascular, aparece consistentemente mais baixo em vegetarianos.
Suplementação e limitações
A revisão mostrou que a única estratégia eficaz para corrigir o déficit é a suplementação com DHA derivado de microalgas. Essa intervenção normalizou os níveis de DHA no sangue e no leite materno e, em alguns estudos, aumentou EPA por retroconversão.
Sem suplementação, o estado de EPA e DHA permaneceu inadequado em todas as populações avaliadas. Isso significa que, na prática, dietas vegetarianas e veganas sem suplementação expõem indivíduos a déficits nutricionais contínuos.
Os autores destacaram, ainda, limitações metodológicas: amostras pequenas, heterogeneidade entre estudos e viés de autorrelato. Mesmo assim, o padrão de deficiência foi consistente em diferentes contextos e países.
Conclusão
A revisão sistemática de 2025 conclui que dietas vegetarianas, especialmente veganas, apresentam efeitos negativos claros sobre o estado de ácidos graxos n-3:
- Níveis persistentemente baixos de EPA e DHA.
- Maior vulnerabilidade em gestação, lactação e infância.
- Competição metabólica agravada pelo excesso de LA.
- Risco simultâneo de múltiplas deficiências nutricionais.
- Dependência de suplementação com DHA de microalgas para corrigir o déficit.
Sem esse cuidado, a adequação nutricional de EPA e DHA em vegetarianos e veganos não é alcançada, o que pode trazer consequências para a saúde metabólica, neurológica e cardiovascular.
