Pesquisadores da Universidade Médica de Tianjin (China) analisaram como a duração de vida das hemácias interfere no exame de hemoglobina glicada (HbA1c), utilizado para avaliar o controle do diabetes tipo 2. O trabalho, publicado na Frontiers in Endocrinology, acompanhou 681 pessoas e buscou criar fórmulas que tornassem o resultado mais confiável em pacientes com vida média das hemácias mais curta do que o esperado.
Por que isso é importante
O exame de HbA1c mostra a média da glicose no sangue nos últimos 2 a 3 meses. Ele funciona porque a glicose se liga à hemoglobina dentro das hemácias ao longo da vida dessas células. Se a hemácia dura menos tempo, tem menos chance de acumular glicose, e o valor medido de HbA1c fica mais baixo do que deveria.
Esse resultado pode dar a falsa impressão de que o diabetes está bem controlado, mesmo quando os níveis de glicose continuam altos. Isso aumenta o risco de complicações como doenças do coração e danos nos nervos.
Como o estudo foi feito
- População: 516 pacientes do ambulatório de endocrinologia e 165 pessoas avaliadas em um programa comunitário de rastreamento de retinopatia diabética.
- Medições: glicose média medida por glicosímetro ou monitor contínuo, transformada em HbA1c estimada (eHbA1c); comparação com a HbA1c medida em laboratório.
- Vida média das hemácias: avaliada por um teste de respiração que mede o monóxido de carbono natural liberado pelo corpo.
- Índice de glicação (HGI): diferença entre a HbA1c medida e a HbA1c estimada.
Resultados principais
- O ponto de maior distorção ocorreu quando as hemácias viviam 66 dias ou menos.
- Pessoas com hemácias vivendo menos de 90 dias tiveram subestimação dos valores de HbA1c.
- Quase metade dos participantes (52,4%) apresentou vida média das hemácias abaixo de 90 dias.
- Nesse grupo, o risco de doença cardiovascular foi 86% maior e o de neuropatia periférica 60% maior.
Fórmulas de correção
Para tornar o exame mais fiel à realidade, os autores criaram equações diferentes conforme a vida média das hemácias:
- Hemácias ≤ 66 dias:
HbA1c corrigida = –0,05629 × (vida das hemácias em dias) + 1,127 × (HbA1c medida) + 3,178
- Hemácias 67–89 dias:
HbA1c corrigida = –0,004772 × (vida das hemácias em dias) + 0,7569 × (HbA1c medida) + 2,394
Essas fórmulas mostraram bom desempenho em todos os grupos estudados, aproximando o exame do valor real de glicose.
O que isso significa na prática
- Mais precisão no tratamento: aplicar a correção evita que o médico se baseie em resultados “enganosos”.
- Melhor prevenção de complicações: valores ajustados ajudam a identificar mais cedo quem realmente precisa de intensificação da terapia.
- Integração com monitoramento de glicose: a correção depende de medir a vida média das hemácias, algo possível por meio do teste de respiração, um método rápido e não invasivo.
Limitações e próximos passos
Ainda não está claro com que frequência deve ser medida a vida média das hemácias ou como fatores como anemia, doença renal e diferenças individuais de glicação influenciam o resultado. Também é necessário confirmar se as fórmulas funcionam em outras populações fora da China.
Conclusão
O estudo mostrou que a vida média das hemácias é um fator decisivo para a precisão do exame de HbA1c em pessoas com diabetes tipo 2. Quando as hemácias vivem menos de 90 dias, a HbA1c pode estar subestimada, mascarando um controle ruim da glicose. As fórmulas de correção desenvolvidas oferecem um caminho para avaliações mais seguras e podem ajudar a evitar complicações graves associadas ao diabetes.
Fonte: https://doi.org/10.3389/fendo.2025.1500660
