A compreensão do papel dos corpos cetônicos na saúde cardiovascular avançou significativamente nos últimos anos. Mais do que simples combustíveis alternativos, eles emergem como moléculas sinalizadoras que podem atuar diretamente sobre a vasculatura, tornando-se potenciais alvos terapêuticos no tratamento de doenças cardiovasculares.
1. Vasodilatação e Função Hemodinâmica
O β-hidroxibutirato (β-OHB) promove redução da resistência vascular sistêmica e pulmonar, resultando em maior débito cardíaco e melhor função ventricular. Esses efeitos são particularmente importantes em condições como hipertensão pulmonar e insuficiência cardíaca, onde a sobrecarga hemodinâmica compromete a circulação.
2. Preservação da Função Endotelial
O endotélio vascular é fundamental para a regulação do tônus vascular e da inflamação. Os corpos cetônicos atuam como protetores endoteliais, reduzindo a disfunção associada a hipertensão, infarto e insuficiência cardíaca. Essa preservação está relacionada tanto à diminuição do estresse oxidativo quanto à modulação de vias inflamatórias.
3. Ação Anti-inflamatória e Antioxidante
Um dos mecanismos mais importantes é a inibição do inflamassoma NLRP3 pelo β-OHB, o que reduz a ativação de processos inflamatórios crônicos ligados à aterosclerose e à fibrose cardíaca. Além disso, os corpos cetônicos diminuem a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e aumentam a expressão de genes antioxidantes, protegendo as células vasculares contra o dano oxidativo.
4. Estímulo à Angiogênese e Capilarização
Os corpos cetônicos estimulam a formação de novos vasos (angiogênese) e a densidade capilar, fenômenos essenciais para a recuperação após eventos isquêmicos, como o infarto, e para melhorar a oxigenação muscular e cardíaca.
5. Modulação Epigenética na Vasculatura
Além dos efeitos diretos, os corpos cetônicos funcionam como moduladores epigenéticos ao inibir histonas desacetilases (HDACs), promovendo a ativação de genes protetores contra inflamação, envelhecimento vascular e disfunção endotelial. Esse mecanismo abre novas perspectivas para terapias que atuam sobre a biologia vascular.
Conclusão
A vasculatura se apresenta como um alvo terapêutico estratégico para os corpos cetônicos. Suas ações vasodilatadoras, anti-inflamatórias, antioxidantes e epigenéticas tornam-nos candidatos promissores para novas intervenções em insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar, aterosclerose e doença coronariana. Ainda que os estudos clínicos em larga escala sejam necessários, as evidências já apontam para um papel relevante dos corpos cetônicos na proteção e regeneração vascular, consolidando seu potencial como agentes terapêuticos inovadores no campo cardiovascular.
