A deficiência do transportador de glicose tipo 1 (Glut1D) representa uma condição metabólica rara, tratada de maneira eficaz com dietas cetogênicas (KDT), especialmente em crianças e adolescentes. Este estudo multicêntrico e prospectivo acompanhou por 10 anos dez pacientes diagnosticados com Glut1D e tratados de forma contínua com dietas cetogênicas, buscando esclarecer dúvidas sobre possíveis riscos cardiovasculares associados à estratégia nutricional.
O acompanhamento rigoroso avaliou fatores cruciais para a saúde cardiovascular, como perfil lipídico, espessura da artéria carótida, índice de massa corporal (IMC) e pressão arterial. Os resultados obtidos ao longo de uma década destacam aspectos amplamente positivos, trazendo tranquilidade sobre a segurança da dieta cetogênica para essa população.
Principais pontos do estudo
1. Normalização do perfil lipídico
- Apesar de relatos anteriores apontarem aumento de lipídios sanguíneos nos primeiros meses ou anos de dieta cetogênica, o estudo demonstrou que essas alterações são temporárias e tendem a se normalizar com o passar do tempo.
- Após 10 anos de dieta, nenhum paciente apresentou dislipidemia. Um caso isolado de dislipidemia antes da dieta foi revertido durante o acompanhamento.
- Os valores de colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos, ao final do acompanhamento, estavam equiparados aos valores iniciais, demonstrando ausência de impacto negativo a longo prazo.
2. Saúde vascular preservada
- O exame ultrassonográfico da espessura íntima-média da artéria carótida (CIMT), reconhecido como marcador subclínico de aterosclerose, mostrou que os pacientes em dieta cetogênica apresentaram resultados semelhantes à população saudável, mesmo após uma década de seguimento.
- Não houve indícios de aumento do risco aterosclerótico ou de lesão vascular atribuível à dieta.
3. Pressão arterial estável
- Os valores de pressão arterial sistólica e diastólica permaneceram dentro da faixa considerada normal ao longo dos 10 anos, sem diferenças significativas em relação ao grupo de referência saudável.
- Não se observou aumento do risco de hipertensão.
4. Peso corporal adequado
- O IMC dos pacientes tratados com dieta cetogênica permaneceu estável e compatível com o de crianças e adolescentes saudáveis, sem tendência ao sobrepeso ou obesidade.
- Apenas um paciente estava com sobrepeso após 10 anos, percentual inferior ao da população saudável de referência.
5. Segurança e eficácia comprovadas
- O estudo reforça que, quando a dieta cetogênica é indicada e acompanhada por equipe especializada, ela pode ser mantida a longo prazo sem prejuízo cardiovascular.
- Os benefícios da dieta para o controle dos sintomas neurológicos da deficiência de Glut1D são preservados, sem custos à saúde do coração e dos vasos sanguíneos.
Resumo
O acompanhamento prolongado e rigoroso de pacientes submetidos à dieta cetogênica evidencia uma adaptação metabólica benéfica: o organismo tende a ajustar o perfil lipídico com o tempo, mantendo a integridade vascular, a pressão arterial e o peso corporal dentro de padrões saudáveis. Esses achados trazem segurança tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde, indicando que a dieta cetogênica pode ser empregada de forma segura e eficaz a longo prazo em casos de Glut1D.
