Ao longo das últimas décadas, a sucralose (identificada como E955) tornou-se um dos adoçantes artificiais mais utilizados no mundo. Inicialmente considerada segura para o consumo humano, sua popularidade cresceu devido ao sabor doce intenso, ausência de calorias e estabilidade em altas temperaturas. No entanto, uma nova revisão publicada na revista Nutrients levanta sérias preocupações quanto à sua segurança ambiental, celular e genética, com base em evidências acumuladas entre 2010 e 2025.
Persistência no ambiente e riscos ecológicos
A sucralose é um composto organoclorado estruturalmente semelhante a substâncias persistentes como os PFAS (substâncias perfluoroalquiladas). Essa similaridade química confere à sucralose alta estabilidade ambiental e baixa biodegradabilidade. Estudos demonstram que ela é amplamente detectável em corpos d’água urbanos, estações de tratamento de esgoto e até em poços artesianos, sendo considerada um marcador confiável de contaminação por esgoto doméstico.
Além disso, sua presença tem sido associada a mudanças na composição de comunidades microbianas em ambientes aquáticos e terrestres. Ainda que os níveis atuais de sucralose não apresentem toxicidade aguda para organismos aquáticos, sua acumulação progressiva pode ultrapassar os limites de segurança ambiental em futuro próximo.
Estresse oxidativo induzido pela sucralose
A sucralose tem sido associada a processos celulares de estresse oxidativo em modelos animais, vegetais e humanos. Diversos estudos demonstraram aumento de espécies reativas de oxigênio (ROS), inflamação e disfunções mitocondriais após a exposição à substância. Entre os efeitos identificados:
- Danos hepáticos e agravamento de esteatose hepática não alcoólica (NAFLD).
- Alterações neurocomportamentais em modelos animais, com impacto potencial em vias inflamatórias do sistema nervoso.
- Disfunção da barreira intestinal, com aumento de permeabilidade e risco de endotoxemia.
- Mudanças na microbiota intestinal, com favorecimento à disbiose e aumento da inflamação sistêmica.
- Promoção da transferência horizontal de genes de resistência antimicrobiana via mecanismos mediados por ROS.
É importante destacar que esses efeitos foram observados mesmo em concentrações ambientalmente relevantes, sugerindo que o consumo crônico pode representar risco mesmo em doses dentro dos limites regulamentares.
Estresse genômico: sucralose é genotóxica?
Apesar de estudos antigos não indicarem genotoxicidade, pesquisas mais recentes contradizem essa avaliação inicial. Foram observadas alterações significativas no DNA em modelos celulares e animais, incluindo:
- Formação de micronúcleos e aberrações cromossômicas em células vegetais e animais.
- Aumento de neoplasias hematopoiéticas em ratos expostos a altas doses.
- Fragmentação de DNA em culturas de células intestinais e hepáticas humanas.
- Modulação da expressão de genes associados à inflamação e metabolismo em seres humanos após consumo de refrigerantes com sucralose.
A genotoxicidade parece estar relacionada não apenas à sucralose pura, mas também a seus subprodutos, como o 6-acetil sucralose e o 6-cloro frutose, que são gerados durante o metabolismo intestinal ou por degradação térmica e fotoquímica.
Degradação térmica e risco de subprodutos tóxicos
A exposição da sucralose a altas temperaturas — como em processos de cozimento ou uso em cigarros eletrônicos — pode resultar na formação de compostos clorados tóxicos, incluindo dioxinas e clorobenzenos. Esses subprodutos têm efeito comprovado na indução de estresse oxidativo e genotoxicidade, levantando preocupações adicionais sobre seu uso culinário ou industrial.
Estratégias para mitigação e substituição
Devido à resistência à degradação e riscos ambientais associados, diversos métodos vêm sendo propostos para remoção da sucralose em estações de tratamento, como processos avançados de oxidação, catálise foto-Fenton, eletrodiálise e uso de biochar. No entanto, essas tecnologias ainda demandam validação para aplicação em larga escala, e muitas geram resíduos igualmente perigosos.
Alternativamente, a substituição da sucralose por adoçantes naturais tem sido proposta como estratégia mais segura. Entre os candidatos:
- Glicosídeos de esteviol (stevia): alta potência adoçante e propriedades anti-inflamatórias.
- Perilartina: extremamente doce (~2000x a sacarose), usado no Japão.
- Neohesperidina di-hidroxicalcona: derivada de cítricos, também com potencial antioxidante.
- Glicirrizina (alcaçuz), tagatose, e compostos fenólicos da alfarroba, com menor doçura mas perfil antioxidante favorável.
Considerações finais
Embora a sucralose continue aprovada por agências regulatórias, este extenso levantamento evidencia que seus impactos ambientais, celulares e genéticos foram subestimados. As evidências de estresse oxidativo, genotoxicidade e persistência ambiental apontam para a necessidade urgente de reavaliação do uso da sucralose em alimentos e bebidas, especialmente aqueles destinados a crianças, gestantes e lactantes.
Dada sua ampla distribuição ambiental, a sucralose também representa um desafio para políticas públicas de saúde ambiental e segurança alimentar. A substituição progressiva por adoçantes naturais com menor toxicidade e maior biodegradabilidade deve ser priorizada como medida de precaução.
A ciência avança, e cabe às autoridades sanitárias, à indústria de alimentos e à sociedade avaliar os riscos emergentes com base em evidências atualizadas, promovendo alternativas mais seguras e sustentáveis para o consumo humano e a preservação ambiental.
Fonte: https://doi.org/10.3390/nu17132199