Por décadas, o colesterol presente nos alimentos foi tratado como um inimigo da saúde cardiovascular. O ovo, por exemplo, tornou-se símbolo de um suposto risco: acreditava-se que seu consumo elevaria diretamente o colesterol no sangue, aumentando as chances de infarto. Essa visão moldou guias alimentares e o comportamento de milhões de pessoas. Entretanto, estudos científicos de alta qualidade mostram que essa interpretação estava equivocada.
Um ensaio clínico randomizado publicado em 2025 no American Journal of Clinical Nutrition avaliou 61 adultos submetidos a diferentes dietas, variando o consumo de colesterol e gordura saturada. O resultado foi claro: o colesterol da dieta não elevou os níveis de colesterol sérico (no sangue). Participantes que consumiram 2 ovos por dia tiveram níveis de LDL até mais baixos do que aqueles que seguiam uma dieta controle, sem ovos. Já uma dieta pobre em colesterol, mas rica em gordura saturada, não apresentou melhora relevante. Isso confirma que o corpo regula internamente sua produção de colesterol — mecanismo chamado de homeostase — equilibrando os níveis circulantes independentemente do quanto é ingerido pela alimentação.
O que realmente importa: qualidade das partículas
O colesterol não circula sozinho no sangue, mas em partículas chamadas lipoproteínas. O LDL, considerado marcador importante de risco cardiovascular, não é uma substância única, mas um conjunto de partículas de tamanhos diferentes.
- LDL grandes e menos densos: têm menor capacidade de se infiltrar nas artérias e oxidar, sendo menos prejudiciais.
- LDL pequenos e densos: são mais suscetíveis à oxidação, possuem maior penetração na parede arterial e estão mais fortemente associados ao desenvolvimento da aterosclerose.
Assim, não é apenas a quantidade de colesterol total ou de LDL que importa, mas sim o tipo e a qualidade das partículas.
O verdadeiro risco: oxidação do colesterol
O colesterol se torna especialmente perigoso quando sofre oxidação, processo que desencadeia inflamação e formação de placas nas artérias. A literatura científica demonstra que os principais fatores alimentares que promovem essa oxidação não são os ovos ou outros alimentos de origem animal, mas sim:
- Excesso de açúcares e carboidratos refinados: provocam picos de glicemia e insulina, favorecendo estresse oxidativo e o aparecimento de partículas pequenas e densas de LDL.
- Óleos vegetais refinados ricos em ômega-6 (soja, milho, canola, girassol): são altamente instáveis e oxidam facilmente, contribuindo para a oxidação das lipoproteínas.
- Alimentos ultraprocessados: combinam açúcar, farinhas refinadas e óleos vegetais, criando um ambiente metabólico favorável à oxidação lipídica e inflamação crônica.
Por outro lado, ovos contêm antioxidantes como luteína e zeaxantina, que ajudam a proteger contra a oxidação das lipoproteínas. Isso explica por que seu consumo, em contextos dietéticos equilibrados, não aumenta o risco cardiovascular e pode até oferecer benefícios adicionais à saúde.
Conclusão
As melhores evidências científicas disponíveis mostram que o colesterol da dieta não aumenta o colesterol no sangue. O que de fato influencia o risco cardiovascular é a qualidade das partículas de LDL e a propensão à oxidação, fortemente determinada por excesso de açúcares, carboidratos refinados e óleos vegetais industriais.
Portanto, restringir ovos e outros alimentos ricos em colesterol não traz benefícios comprovados. A ênfase deve estar em evitar padrões alimentares ultraprocessados e inflamatórios, priorizando uma dieta composta por alimentos naturais, com proteínas de origem animal, vegetais frescos, frutas de baixo índice glicêmico e gorduras estáveis como manteiga, azeite de oliva, banha ou sebo.
Em resumo: o colesterol que aparece no exame não vem do que você come, mas da forma como seu corpo regula e processa esse colesterol. O verdadeiro risco está na oxidação, e não na ingestão de colesterol da dieta.
Fonte: https://doi.org/10.1016/j.ajcnut.2025.05.001
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