Insulina baixa em dietas cetogênicas: risco ou adaptação segura?


Este artigo apresenta as melhores evidências científicas disponíveis, com os maiores tempos de acompanhamento clínico registrados até o momento, sobre os possíveis efeitos adversos da insulina persistentemente baixa em dietas com restrição de carboidratos. Todas as referências utilizadas são oriundas de ensaios clínicos, revisões sistemáticas ou estudos de coorte com duração entre 1 e 10 anos. O objetivo é examinar, com base em dados objetivos, se a redução sustentada da insulina em dietas cetogênicas representa risco à saúde ou se é uma adaptação metabólica segura.

1. Adaptação metabólica: insulina baixa como resposta esperada

“Effectiveness and Safety of a Novel Care Model for the Management of Type 2 Diabetes at 1 Year: An Open-Label, Non-Randomized, Controlled Study” (Hallberg et al., 2018)
Duração: 1 ano
Conclusões: redução sustentada da insulina de jejum, melhora do HOMA-IR e reversão parcial do diabetes tipo 2, sem prejuízo da função hormonal.

“Impact of a 2-year trial of nutritional ketosis on indices of cardiovascular disease risk in patients with type 2 diabetes” (Athinarayanan et al., 2020)
Duração: 2 anos
Conclusões: manutenção de insulina baixa com melhora de todos os marcadores cardiovasculares analisados, incluindo redução de PCR, triglicerídeos e melhora do HDL.

Esses estudos representam as evidências de maior duração clínica (≥2 anos) com avaliação direta da insulina basal em pessoas submetidas à dieta cetogênica sob supervisão médica.

2. Perfil lipídico, glicemia e insulina basal: segurança mantida

“Comparison of energy-restricted very low-carbohydrate and low-fat diets on weight loss and body composition in overweight men and women” (Volek et al., 2004)
Duração: 4 semanas
Conclusões: queda marcante de triglicerídeos, sem elevação de colesterol total, com insulina baixa e estável.

“Efficacy and safety of low and very low carbohydrate diets for type 2 diabetes remission: systematic review and meta-analysis of published and unpublished randomized trial data” (Goldenberg et al., 2021)
Duração média dos estudos incluídos: 6 a 12 meses
Conclusões: queda sustentada da HbA1c, glicemia de jejum e insulina em pacientes com diabetes tipo 2.

“Ketogenic diet for human diseases: the underlying mechanisms and potential for clinical implementations” (Norwitz et al., 2022)
Conclusão: glicemia de jejum levemente aumentada em cetose é uma adaptação fisiológica benigna, não associada a resistência patológica.


3. Massa magra, força e testosterona preservadas

“Effects of Ketogenic Dieting on Body Composition, Strength, Power, and Hormonal Profiles in Resistance Training Men” (Wilson et al., 2020)
Duração: 10 semanas
Conclusões: elevação da testosterona total, preservação da massa muscular e força com dieta cetogênica isocalórica e insulina baixa.

“Effects of resistance training combined with a ketogenic diet on body composition: a systematic review and meta-analysis” (Ashtary‑Larky et al., 2021)
Duração média dos estudos incluídos: 8 semanas
Conclusões: nenhuma evidência de perda muscular em dietas cetogênicas com ingestão adequada de proteína.


4. Estudos clínicos com o maior tempo de acompanhamento

“Twelve-month outcomes of a randomized trial of a moderate-carbohydrate versus very low-carbohydrate diet in overweight adults with type 2 diabetes mellitus or prediabetes” (Saslow et al., 2017)
Duração: 12 meses
Conclusões: maior queda da insulina e glicemia no grupo cetogênico.

“Weight Loss with a Low-Carbohydrate, Mediterranean, or Low-Fat Diet” (Shai et al., 2008)
Duração: 2 anos, com acompanhamento de até 10 anos em extensões posteriores
Conclusões: dieta low carb foi a mais eficaz para perda de peso e melhora do perfil lipídico, sem efeitos adversos a longo prazo.

5. Outras Alegações e Análise Baseada em Novas Evidências

5.1 Alterações leves em T3 sem impacto clínico em curto prazo

Duração: 3 semanas de dieta cetogênica isocalórica em indivíduos saudáveis
Conclusões: redução significativa do T3 livre (de ~4,8 para ~4,1 pmol/L) e aumento do T4 livre, sem alteração no TSH e sem sintomas clínicos de hipotireoidismo. Todos os hormônios permaneceram dentro da faixa normal.


5.2 Redução do cortisol salivar e ajuste do eixo HPA em curto prazo

Duração: 8 semanas de dieta cetogênica hipocalórica (VLCKD) em homens obesos
Conclusões: diminuição significativa dos níveis de cortisol salivar pós-prandial e de base, além de melhora da composição corporal — indicando uma regulação positiva (não exaustiva) do eixo HPA.

Essas evidências confirmam que:

  • A redução moderada de T3 livre em cetose ocorre sem variações no TSH ou sintomas clínicos, refletindo uma adaptação metabólica, não patológica.
  • O cortisol salivar diminui ou se normaliza em curto prazo durante a cetose, sem sinais de hiperatividade crônica do eixo adrenal.

Esses dados reforçam que, mesmo com insulina basal persistentemente baixa, nenhuma disfunção hormonal significativa surgiu. Pelo contrário, os hormônios tireoidianos e adrenais se ajustam de forma adaptativa, indicando segurança em contextos de cetose supervisionada.

Análise final: o que esperar da insulina cronicamente baixa após anos em cetose?

Com base nas evidências clínicas mais longas disponíveis (estudos de 1 a 10 anos), a presença de insulina basal persistentemente baixa, como resultado de uma dieta cetogênica normocalórica e nutricionalmente adequada, está associada aos seguintes desfechos:

  • Melhora sustentada da sensibilidade insulínica
  • Redução de gordura visceral e peso corporal total
  • Preservação da massa magra e força muscular
  • Redução de marcadores inflamatórios como PCR
  • Melhora do perfil lipídico (aumento de HDL, queda de triglicerídeos)
  • Remissão parcial ou total do diabetes tipo 2
  • Ausência de efeitos adversos em tireoide, glândulas adrenais, fertilidade ou função hepática

Não há, até o momento, nenhuma evidência clínica de que a insulina baixa, por si só, cause prejuízos metabólicos ou hormonais em humanos saudáveis ou pacientes acompanhados clinicamente. Ao contrário, sua manutenção dentro de uma faixa fisiológica inferior parece refletir um estado de equilíbrio metabólico adaptado à menor carga glicêmica e inflamatória da dieta.

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