Em busca de estratégias para otimizar o desempenho físico, muitos atletas recorrem à suplementação com carboidratos (CHO) durante o exercício. No entanto, embora os benefícios de altas doses de CHO em atividades de longa duração já estejam bem estabelecidos, ainda há dúvidas sobre os efeitos de quantidades menores em exercícios intensos e mais curtos. Para preencher essa lacuna, um estudo clínico recente conduzido por Schierbauer et al. investigou se a ingestão de doses baixas a moderadas de CHO (20, 40 e 60 g·h⁻¹) melhora o desempenho de ciclistas moderadamente ativos durante sessões intensas de ciclismo realizadas até a exaustão.
Metodologia do Estudo
Este estudo foi desenhado como um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e cruzado, com controle por placebo. Participaram 19 indivíduos saudáveis e moderadamente ativos (idade média: 26,2 anos; IMC: 22,4 kg/m²). Cada participante realizou quatro sessões de ciclismo em carga constante no segundo limiar de lactato (LTP2), uma intensidade próxima ao limiar anaeróbico, enquanto recebia uma das quatro intervenções: placebo (PLA) ou suplementação com CHO nas concentrações de 20 g, 40 g ou 60 g por litro por hora (CHO20, CHO40, CHO60).
Os carboidratos utilizados foram uma combinação de glicose e frutose em proporção 1:1, visando otimizar a absorção intestinal por vias distintas (transportadores SGLT-1 e GLUT-5). Os suplementos foram administrados a cada 10 minutos durante o exercício. O principal desfecho avaliado foi o tempo até a exaustão (TTE). Também foram monitoradas variáveis metabólicas (glicose e lactato), respiratórias, frequência cardíaca e percepção de esforço (RPE).
Resultados Principais
Tempo até a exaustão (TTE): Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p = 0,11). Os tempos médios foram:
PLA: 32,5 ± 9,6 min
CHO20: 35,9 ± 14,5 min
CHO40: 35,1 ± 12,9 min
CHO60: 38,0 ± 17,5 min
- Glicose sanguínea: Os níveis de glicemia permaneceram estáveis entre o início e o fim do exercício em todos os grupos. No entanto, o grupo CHO60 apresentou glicemia pós-exercício significativamente mais alta que o placebo (p = 0,03), embora todos os valores estivessem bem acima do limiar hipoglicêmico (70 mg/dL).
- Lactato: Os níveis de lactato aumentaram significativamente após o exercício, como esperado, mas sem diferença entre os grupos.
- Ventilação, frequência cardíaca e RPE: Nenhuma diferença significativa foi observada entre os grupos para esses parâmetros.
Discussão e Implicações
Os resultados sugerem que, em indivíduos com reservas adequadas de glicogênio muscular (obtidas por meio de uma dieta rica em carboidratos nos dias anteriores), a suplementação exógena com doses de até 60 g·h⁻¹ durante exercícios intensos de curta duração (<60 minutos) não melhora significativamente o desempenho.
Isso reforça a ideia de que, para atividades de alta intensidade e curta duração, como é o caso de exercícios realizados no LTP2, o organismo pode contar eficientemente com os estoques endógenos de glicogênio sem necessidade de aporte adicional de CHO durante o esforço.
Além disso, o estudo destaca que a absorção e oxidação de CHO durante o exercício podem ser limitadas pela velocidade de esvaziamento gástrico e que as doses administradas tardiamente durante o exercício provavelmente não foram utilizadas como fonte de energia imediata. Isso levanta a hipótese de que, se houver benefício ergogênico em doses baixas, ele poderia depender do tempo de administração – por exemplo, uma única dose no início da sessão pode ser mais eficaz.
Outro ponto importante levantado pelos autores é que os efeitos ergogênicos descritos em estudos anteriores com exercícios de curta duração podem estar relacionados mais à ação central (ex: rinsagem oral com CHO) do que ao efeito metabólico direto da suplementação.
Conclusão
Este estudo reforça que, para indivíduos saudáveis e moderadamente ativos, bem alimentados com uma dieta rica em carboidratos nos dias anteriores, a suplementação com CHO em doses baixas a moderadas durante exercícios intensos de menos de 60 minutos não traz benefícios em termos de tempo até a exaustão. Esses achados podem ajudar treinadores e atletas a evitar suplementações desnecessárias em treinos curtos, favorecendo estratégias mais personalizadas e eficientes.
Fonte: https://doi.org/10.1002/ejsc.12326