Diferenças entre Homens e Mulheres na Dieta Cetogênica: Quem Perde Mais Peso?


A busca por estratégias eficazes de emagrecimento ganha cada vez mais espaço no cenário das doenças metabólicas globais. Nesse contexto, a dieta cetogênica (DC) — caracterizada pela alta ingestão de gordura, restrição severa de carboidratos e consumo moderado de proteínas — vem sendo amplamente adotada. Mas será que homens e mulheres respondem da mesma forma a esse tipo de abordagem? Uma revisão científica recente publicada no periódico Frontiers in Nutrition lança luz sobre as diferenças sexuais nas respostas à DC, abordando desde a genética até aspectos hormonais, musculares e microbianos do intestino.

Uma diferença que começa no corpo

A composição corporal entre os sexos é notoriamente distinta. Homens acumulam mais gordura visceral — localizada na região abdominal — e possuem maior massa muscular, fatores que favorecem a mobilização de energia sob uma dieta cetogênica. Mulheres, por outro lado, tendem a armazenar mais gordura subcutânea, especialmente em quadris e coxas, e são mais propensas à chamada "obesidade metabolicamente saudável", caracterizada por menor inflamação sistêmica mesmo com maior percentual de gordura.

Essa diferença de distribuição não é apenas estética: a gordura visceral responde melhor à lipólise induzida pela cetose, o que explica parte da superioridade masculina na perda de peso com a DC. Além disso, os homens, por apresentarem maior quantidade de fibras musculares do tipo II (anaeróbicas), têm metabolismo basal mais elevado, contribuindo para gasto energético mais eficiente.

O papel dos hormônios

Os hormônios sexuais exercem influência direta sobre a forma como o corpo responde à DC. O estrogênio, predominante nas mulheres, aumenta a sensibilidade dos receptores α-adrenérgicos, que inibem a lipólise. Isso dificulta a queima de gordura subcutânea. Além disso, níveis elevados de estrogênio podem interferir na função da tireoide e na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, afetando a estabilidade metabólica durante a dieta.

Por outro lado, o testosterona — mais abundante nos homens — estimula a síntese muscular e a expressão de receptores β-adrenérgicos, que promovem a lipólise. A DC demonstrou aumentar os níveis de testosterona total e SHBG (globulina ligadora de hormônios sexuais) em homens obesos, associando-se à melhora do perfil metabólico e composição corporal.

Ciclo menstrual e cetose

No caso das mulheres em idade fértil, a fase do ciclo menstrual influencia diretamente a resposta à dieta. Durante a fase lútea (segunda metade do ciclo), há piora da sensibilidade à insulina, aumento do apetite e preferência por carboidratos, o que pode dificultar o alcance e a manutenção da cetose. Já na fase folicular (primeira metade), o metabolismo favorece maior oxidação de gorduras. Mulheres na pós-menopausa, com estabilidade hormonal, tendem a responder melhor à dieta cetogênica.

Metabolismo energético e muscular

Mulheres são mais eficientes na oxidação de gordura durante exercícios aeróbicos e tendem a utilizar carboidratos como fonte imediata de energia em repouso, favorecendo o armazenamento de gordura sob a DC. Já os homens oxidam mais ácidos graxos plasmáticos e armazenam carboidratos na forma de glicogênio, o que facilita a adaptação metabólica à cetose.

Em termos de musculatura, a DC parece favorecer o ganho muscular em homens, enquanto pode aumentar a fadiga muscular em mulheres, especialmente no início da adaptação. Isso pode impactar negativamente o gasto energético diário e a eficácia da dieta para emagrecimento no sexo feminino.

Microbiota intestinal: um fator inesperado

As diferenças sexuais também se manifestam na composição da microbiota intestinal, um elemento-chave na regulação do metabolismo. A DC modifica a flora intestinal ao reduzir a abundância de Firmicutes e aumentar Bacteroidetes, o que pode favorecer o emagrecimento. No entanto, homens parecem ter uma flora mais adaptada à utilização de gorduras e à oxidação lipídica sob dieta cetogênica, enquanto mulheres dependem mais de fatores reguladores da estrutura intestinal e da atividade de enzimas específicas, como a HMGCS2, envolvida na produção de corpos cetônicos.

Conclusões e recomendações

Com base nos dados disponíveis, os autores concluem que a dieta cetogênica tende a ser mais eficaz para perda de peso em homens, seguida pelas mulheres na pós-menopausa. As mulheres pré-menopáusicas enfrentam maiores desafios, devido a flutuações hormonais, maior resistência à lipólise e menor sensibilidade muscular à cetose.

A revisão reforça a importância de considerar o sexo biológico na prescrição de estratégias nutricionais. Ajustes na fase do ciclo menstrual, no tipo de gordura ingerida e na forma de introdução da DC podem ser cruciais para melhorar a resposta feminina à cetose. Ao mesmo tempo, mais estudos com mulheres — especialmente com longos períodos de acompanhamento — são necessários para entender plenamente como maximizar os benefícios da dieta cetogênica nesse grupo.

Fonte: https://doi.org/10.3389/fnut.2025.1600927

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