O consumo de laticínios acompanha a humanidade há cerca de 8.000 anos e ainda hoje ocupa papel relevante nas diretrizes alimentares globais. Esses alimentos são reconhecidos como fontes de proteínas de alta qualidade, cálcio, fósforo, magnésio, zinco, iodo e vitaminas como A, B1, B2 e B12. Apesar de recomendarem em média 2 a 3 porções diárias, pesquisas indicam que a maioria das pessoas não atinge essa meta. Ao mesmo tempo, cresce o interesse em entender de forma abrangente a relação entre laticínios e saúde, especialmente diante do aumento das doenças crônicas não transmissíveis.
O artigo publicado no European Journal of Clinical Nutrition (2025) realizou uma revisão de escopo de revisões sistemáticas e meta-análises sobre o impacto do consumo de leite, queijo, iogurte e derivados fermentados em diversos desfechos de saúde.
Metodologia
- Foram incluídos: revisões sistemáticas e meta-análises publicadas entre 2014 e 2024, baseadas em ensaios clínicos, estudos de coorte, caso-controle e transversais, envolvendo adultos.
- Excluídos: estudos com crianças, análises de laticínios de outras espécies (cabra, ovelha, búfala), suplementos e produtos fortificados artificialmente.
- No total, 95 relatórios foram incluídos, abrangendo 29 diferentes desfechos de saúde.
Principais resultados
A análise identificou 281 associações entre consumo de laticínios e saúde. Os achados podem ser resumidos assim:
- 37,7% mostraram redução de risco de doenças.
- 48% não encontraram associação.
- 10% foram inconclusivos.
- Apenas 4,3% mostraram aumento de risco.
1. Doenças cardiovasculares
O consumo de laticínios esteve associado a risco reduzido ou neutro de doença cardiovascular, doença coronariana, AVC e hipertensão. Não houve evidência consistente de aumento de risco.
2. Câncer
- Redução de risco: câncer de cólon e reto, bexiga, mama, fígado, boca e ovário.
- Resultados neutros: vários outros tipos de câncer.
- Aumento de risco (limitado e inconsistente): próstata, estômago, linfoma não-Hodgkin e fígado.
3. Composição corporal
Nenhuma evidência de associação com ganho de peso ou obesidade. Alguns estudos indicaram até menor risco de sobrepeso.
4. Mortalidade
Resultados heterogêneos: em geral, consumo de laticínios não se associou ao aumento de mortalidade total ou cardiovascular.
5. Diabetes tipo 2 e saúde óssea
- Consumo de laticínios, especialmente fermentados, esteve ligado a menor risco de diabetes tipo 2.
- A relação com saúde óssea foi menos estudada em adultos, mas sugeriu benefício potencial.
Diferenças entre tipos de laticínios
- Iogurte e derivados fermentados: mostraram a maior consistência de benefícios, incluindo menor risco de diabetes tipo 2, cânceres específicos e mortalidade.
- Queijo: resultados heterogêneos; apesar do alto teor de gordura e sódio, não houve aumento significativo de risco cardiovascular.
- Leite: geralmente neutro ou associado a redução de risco em alguns desfechos, mas alguns estudos observaram possível relação com câncer de próstata.
- Laticínios integrais vs. desnatados: a maioria dos estudos não encontrou diferenças marcantes; tanto integrais quanto desnatados podem ter efeitos positivos ou neutros.
Conclusões
A revisão demonstra que o consumo de laticínios, de forma geral, não está associado a aumento do risco de doenças crônicas ou mortalidade. Pelo contrário, muitos estudos sugerem efeitos protetores, especialmente em relação a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.
Os maiores benefícios aparecem ligados ao consumo de iogurte e derivados fermentados, provavelmente pelo efeito de probióticos e compostos bioativos.
Ainda que alguns resultados sobre câncer de próstata e outros desfechos levantem dúvidas, o corpo de evidências é claro: laticínios podem ser parte saudável de uma dieta equilibrada.
