Remissão transdiagnóstica de comorbidades psiquiátricas em transtorno de estresse pós-traumático, TDAH e transtorno da compulsão alimentar periódica com terapia metabólica cetogênica: um estudo de caso retrospectivo


O presente relato de caso, publicado no Frontiers in Nutrition, aborda uma intervenção inovadora em uma paciente com quadro complexo de comorbidades psiquiátricas, incluindo transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP). O estudo explorou os efeitos de uma abordagem baseada na terapia metabólica cetogênica (TMC), avaliando remissão de sintomas e funcionalidade.

Contexto e objetivo do estudo

Muitos transtornos psiquiátricos ocorrem em conjunto, compartilhando mecanismos biológicos comuns, como disfunção metabólica e neuroinflamação. Isso leva a dificuldades no diagnóstico, tratamentos fragmentados e, muitas vezes, resultados insatisfatórios. O estudo teve como objetivo avaliar se a TMC, ao abordar esses mecanismos comuns, poderia induzir remissão transdiagnóstica dos sintomas.

Caso clínico

A paciente de 38 anos apresentava diagnóstico de TEPT, TDAH, transtorno bipolar tipo II, depressão, ansiedade e transtorno disfórico pré-menstrual. Relatava histórico de abuso físico e emocional, além de negligência parental. Após anos de terapias convencionais com benefícios limitados e sem uso de medicamentos psiquiátricos, ela buscou a TMC como alternativa.

Protocolo de intervenção

A intervenção consistiu em:

  • Fase inicial (8 semanas): programa educativo estruturado sobre dieta cetogênica e apoio semanal profissional e entre pares.
  • Dieta: progressão de uma razão gordura:proteína de 1,5:1 para 2:1, com redução gradual dos carboidratos.
  • Alimentação: predominantemente animal-based, incluindo carne bovina, cordeiro, aves, peixes e ovos, excluindo cafeína e adoçantes.
  • Monitoramento: acompanhamento diário de glicemia e cetonas com dispositivo de dupla leitura.

Durante o período, a paciente evitou o foco em calorias para prevenir gatilhos do transtorno alimentar e concentrou-se na composição nutricional. Além disso, praticou jejum intermitente para otimizar a cetose.

Resultados

Quantitativos

Os instrumentos padronizados apontaram:

  • PHQ-9 (depressão): de 27 (grave) no início para 0 na semana 12.
  • GAD-7 (ansiedade): de 16 (grave) para 0 na semana 12.
  • DASS-21: completa normalização dos escores de depressão, ansiedade e estresse na semana 12.
  • PCL-5 (TEPT): de 80 (máximo possível) para 0 na semana 12.
  • BES (compulsão alimentar): de 44 para 0 na semana 12.

A paciente relatou que mantinha o bem-estar quando suas cetonas estavam entre 3 e 5 mmol/L. Quedas nos níveis cetônicos, principalmente após consumo de carboidratos, levaram ao retorno rápido de sintomas, reforçando a importância da manutenção da cetose.

Qualitativos

Relatou melhora na clareza mental, estabilidade emocional e capacidade funcional, incluindo retorno ao trabalho e realização de um sonho antigo: abrir consultório próprio. Demonstrou maior resiliência emocional e motivação.

Discussão

Este caso reforça a hipótese de que a TMC pode beneficiar quadros psiquiátricos complexos ao atuar em mecanismos comuns, como neuroinflamação e disfunção mitocondrial. Comparado com literatura existente, os resultados mostraram remissão mais rápida (12 semanas) e níveis cetônicos mais elevados (3-5 mmol/L) do que em outros relatos.

Contudo, o estudo apresenta limitações inerentes ao desenho de caso único. É necessária a realização de ensaios clínicos controlados para confirmar esses achados, estabelecer faixas terapêuticas ideais de cetonas e avaliar a aplicabilidade em populações mais amplas.

Conclusão

O estudo demonstra o potencial da TMC como estratégia transdiagnóstica em comorbidades psiquiátricas severas e resistentes. Além de alcançar remissão completa em instrumentos validados, a paciente relatou melhorias substanciais na qualidade de vida e funcionalidade. A pesquisa futura deve explorar essas observações em contextos clínicos controlados e diversificados.

Fonte: https://doi.org/10.3389/fnut.2025.1600123

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