O Consumo de Proteínas Animais e Vegetais Não Apresenta Associação Adversa com Risco de Mortalidade por Todas as Causas, Doenças Cardiovasculares ou Câncer: Uma Análise do NHANES III


O debate sobre o consumo adequado de proteínas continua sendo uma questão importante na nutrição moderna. Diferentes estudos apresentam resultados contraditórios sobre os efeitos do consumo de proteínas animais versus vegetais na saúde humana. Um estudo científico recente utilizou dados da Terceira Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos (NHANES III) para investigar essas relações de forma mais precisa.

Metodologia do Estudo

Os pesquisadores analisaram dados de 15.937 adultos americanos com 19 anos ou mais, coletados entre 1988 e 1994, acompanhando-os até 2006. Durante esse período, ocorreram 3.843 mortes. O estudo utilizou uma metodologia avançada chamada método Markov Chain Monte Carlo para estimar o consumo habitual de proteínas, minimizando erros de medição dietética.

Os participantes foram divididos em diferentes categorias de acordo com seu consumo de proteína total, proteína animal e proteína vegetal. Os pesquisadores analisaram especificamente a associação entre esses tipos de proteína e três tipos de mortalidade: por todas as causas, por doenças cardiovasculares e por câncer.

Principais Resultados

Proteína Animal e Mortalidade

Contrariando algumas expectativas baseadas em estudos anteriores, o consumo de proteína animal não mostrou associação com aumento do risco de mortalidade. Na verdade, os resultados indicaram uma associação inversa modesta mas significativa entre proteína animal e mortalidade por câncer, sugerindo um possível efeito protetor.

Para mortalidade por todas as causas, o hazard ratio foi de 0,99 (intervalo de confiança de 95%: 0,98-1,01), indicando ausência de associação significativa. Para doenças cardiovasculares, o resultado foi similar (HR=1,02; IC 95%: 0,99-1,04).

Proteína Vegetal e Mortalidade

O consumo de proteína vegetal também não apresentou associação significativa com qualquer tipo de mortalidade analisado. Os resultados foram: mortalidade por todas as causas (HR=1,02; IC 95%: 0,95-1,10), doenças cardiovasculares (HR=1,01; IC 95%: 0,91-1,13) e câncer (HR=1,08; IC 95%: 0,93-1,24).

IGF-1 e Mortalidade

Um aspecto importante do estudo foi a análise das concentrações de fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), uma proteína que alguns estudos sugeriram estar relacionada ao risco de câncer. Nesta pesquisa, não foi encontrada nenhuma associação entre os níveis de IGF-1 no sangue e qualquer tipo de mortalidade.

Comparação com Estudos Anteriores

Os resultados contrastam significativamente com um estudo anterior que utilizou os mesmos dados do NHANES III, mas encontrou uma associação de 75% de aumento na mortalidade geral e um aumento de quatro vezes no risco de câncer em adultos de 50-65 anos com alto consumo de proteína.

Os pesquisadores do presente estudo propõem que as diferenças podem ser explicadas por:

  • Metodologia mais rigorosa: Uso de estimativas de consumo habitual em vez de dados de consumo real de apenas um dia
  • Grupos de análise mais equilibrados: Divisão em tercis iguais em vez de grupos arbitrários
  • Controle de erros de medição: Aplicação de métodos estatísticos avançados para reduzir vieses

Limitações e Considerações

Os autores reconhecem algumas limitações importantes:

  • Tempo de acompanhamento: O período de 12 anos poderia ter sido estendido
  • Análise nutricional limitada: Não foram incluídos nutrientes comparadores ou análises de substituição
  • Amostra do IGF-1: Os resultados sobre IGF-1 foram baseados em uma subamostra menor
  • Métodos de avaliação dietética: Questionamentos sobre a precisão dos métodos utilizados no NHANES

Implicações Práticas

Os resultados sugerem que o consumo de proteínas, seja de origem animal ou vegetal, dentro das faixas normais de ingestão, não está associado a riscos aumentados de mortalidade. Isso contradiz algumas recomendações que sugerem a substituição completa de proteínas animais por vegetais baseada exclusivamente em questões de mortalidade.

É importante notar que a proteína animal pode até ter um efeito protetor modesto contra a mortalidade por câncer, embora os mecanismos para isso ainda precisem ser melhor compreendidos.

Conclusão

Esta análise abrangente dos dados do NHANES III sugere que tanto as proteínas animais quanto as vegetais podem fazer parte de uma dieta nutritiva sem aumentar significativamente os riscos de mortalidade. Os resultados destacam a importância de métodos rigorosos na pesquisa nutricional e questionam algumas conclusões alarmantes de estudos anteriores.

Para profissionais de saúde e consumidores, os dados indicam que a escolha entre proteínas animais e vegetais pode ser baseada em outros fatores além do risco de mortalidade, como preferências pessoais, considerações ambientais, éticas ou econômicas.

Fonte: https://doi.org/10.1139/apnm-2023-0594

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