Alto consumo de proteína não afeta a sensibilidade insulínica de corpo inteiro


Um novo estudo científico publicado em maio de 2025 trouxe informações importantes sobre os efeitos do consumo elevado de proteínas na sensibilidade à insulina. A pesquisa, conduzida por uma equipe internacional de cientistas de universidades no Reino Unido, Estados Unidos e Alemanha, investigou uma questão fundamental para pessoas com excesso de peso: se dietas ricas em proteínas podem causar resistência à insulina.

O que motivou esta pesquisa

Por muito tempo, os pesquisadores debateram sobre o papel dos aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs) - presentes em abundância nas proteínas - no desenvolvimento da resistência à insulina. Estudos anteriores sugeriam que concentrações elevadas desses aminoácidos poderiam contribuir para problemas no metabolismo da glicose. No entanto, a maioria dessas evidências vinha de experimentos com infusões intravenosas de aminoácidos, que não refletem o que acontece quando consumimos proteínas através da alimentação normal.

Como o estudo foi realizado

Os pesquisadores conduziram dois tipos de experimentos. No primeiro, nove pessoas com obesidade participaram de três sessões diferentes, consumindo refeições com quantidades variadas de proteína: 50 gramas (dose moderada), 100 gramas (dose alta) ou 50 gramas com gordura adicionada para igualar as calorias da dose alta. Após cada refeição, os participantes realizaram um teste de tolerância à glicose intravenosa para medir como seus corpos processavam o açúcar.

O segundo experimento acompanhou 13 pessoas com sobrepeso ou obesidade durante 18 semanas, comparando uma dieta rica em proteínas com uma dieta controle. Ambas as dietas tinham a mesma quantidade de calorias, diferindo apenas na proporção de proteínas e carboidratos.

Principais descobertas

Contrariando algumas expectativas, o estudo demonstrou que o consumo de grandes quantidades de proteína não prejudicou a sensibilidade à insulina dos participantes. Mesmo após uma refeição contendo 100 gramas de proteína - uma quantidade considerável - não houve diferenças significativas na capacidade do corpo de responder à insulina quando comparado com doses menores.

Durante o período de 18 semanas, os pesquisadores também não observaram piora na sensibilidade à insulina entre aqueles que seguiram a dieta rica em proteínas. Além disso, o grupo que consumiu mais proteína apresentou uma redução significativa da gordura no fígado após seis semanas, um benefício importante para a saúde metabólica.

O que acontece no nível celular

Embora não tenha havido mudanças na sensibilidade à insulina de corpo inteiro, os cientistas observaram algumas alterações interessantes nas células musculares após o consumo da refeição rica em proteína. Houve uma diminuição nos níveis de uma proteína chamada IP6K1 e um aumento na atividade da proteína Akt, ambas relacionadas ao processamento da glicose pelas células.

Estas mudanças moleculares podem na verdade indicar uma melhora na sinalização da insulina, sugerindo que o consumo de proteína pode ter efeitos benéficos no metabolismo celular, mesmo que não se traduzam em mudanças detectáveis na sensibilidade à insulina de todo o organismo.

Diferenças importantes dos estudos anteriores

Um aspecto crucial desta pesquisa é que ela utilizou refeições normais em vez de infusões intravenosas de aminoácidos. Quando os aminoácidos são injetados diretamente na corrente sanguínea, eles alcançam concentrações muito mais altas do que seria possível através da alimentação normal, potencialmente causando efeitos que não ocorrem na vida real.

Os resultados mostram que, embora os níveis de aminoácidos de cadeia ramificada tenham aumentado significativamente após a refeição rica em proteína, estes aumentos foram muito menores do que os observados em estudos com infusões intravenosas. Isso pode explicar por que não houve prejuízos na sensibilidade à insulina.

Implicações práticas

Para pessoas com excesso de peso que consideram dietas ricas em proteínas, estes resultados são encorajadores. O estudo sugere que o consumo elevado de proteínas, pelo menos durante períodos de até 18 semanas, não causa resistência à insulina como alguns temiam.

Os benefícios observados, como a redução da gordura hepática, podem até mesmo favorecer a saúde metabólica. No entanto, é importante notar que o estudo foi conduzido em um número relativamente pequeno de participantes e por um período limitado.

Limitações e considerações futuras

Os pesquisadores reconhecem algumas limitações de seu trabalho. O número de participantes foi pequeno, especialmente no estudo de longo prazo, e a duração de 18 semanas pode não ser suficiente para detectar efeitos que se desenvolvem mais lentamente.

Além disso, como observado pelos autores, a aderência à dieta rica em proteínas diminuiu ao longo do tempo, o que é comum em intervenções dietéticas de longo prazo sem controle rigoroso da alimentação. Estudos futuros com períodos mais longos e maior número de participantes serão necessários para confirmar estes achados.

Conclusão

Esta pesquisa oferece evidências tranquilizadoras de que dietas ricas em proteínas não causam resistência à insulina em pessoas com excesso de peso, pelo menos no curto e médio prazo. Os resultados sugerem que as preocupações sobre o desenvolvimento de problemas metabólicos devido ao alto consumo de proteínas podem ter sido exageradas, especialmente quando baseadas em estudos com infusões intravenosas de aminoácidos.

Os achados contribuem para um melhor entendimento dos efeitos das dietas ricas em proteínas na saúde metabólica e podem ajudar profissionais de saúde e pacientes a tomar decisões mais informadas sobre estratégias nutricionais para o controle do peso e prevenção do diabetes tipo 2.

Fonte: https://doi.org/10.21203/rs.3.rs-6555791/v1

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