Melhorando o Status de Vitamina D em Recém-nascidos Prematuros: Um Ensaio Randomizado de 800 vs. 400 UI/Dia


A Vulnerabilidade dos Prematuros à Deficiência de Vitamina D

Os recém-nascidos prematuros representam um grupo particularmente vulnerável quando se trata da deficiência de vitamina D. Este problema de saúde, muitas vezes silencioso, pode ter consequências significativas para o desenvolvimento ósseo e crescimento desses pequenos pacientes. Um novo estudo científico publicado na revista Nutrients trouxe evidências importantes sobre como melhorar o status de vitamina D nessa população frágil.

Por Que os Prematuros São Mais Vulneráveis?

A vitamina D desempenha um papel fundamental na absorção de cálcio e fósforo, sendo essencial para a mineralização óssea e crescimento esquelético. Os bebês prematuros enfrentam múltiplos desafios que os colocam em risco elevado para deficiência desta vitamina. Durante o terceiro trimestre da gravidez, período crítico para o acúmulo de vitamina D, cálcio e fósforo no feto, esses bebês nasceram antes do tempo necessário para essa importante acumulação.

Após o nascimento, fatores como alimentação exclusiva com leite materno e exposição solar insuficiente contribuem ainda mais para esse risco. Enquanto o leite materno contém apenas 15-50 UI/L de vitamina D, as fórmulas infantis fornecem aproximadamente 400 UI/L, demonstrando a necessidade de suplementação adequada.

O Estudo Tailandês: Comparando Duas Dosagens

Pesquisadores da Universidade de Chiang Mai, na Tailândia, conduziram um ensaio clínico randomizado controlado para comparar a eficácia de duas dosagens diferentes de vitamina D3 em recém-nascidos prematuros. O estudo envolveu 38 bebês nascidos com idade gestacional ≤32 semanas ou peso ao nascer ≤1500 gramas, divididos em dois grupos: um recebendo 400 UI/dia e outro 800 UI/dia de vitamina D3.

Os pesquisadores mediram os níveis séricos de 25-hidroxivitamina D (25(OH)D) - o principal marcador do status de vitamina D no organismo - além de parâmetros ósseos metabólicos, incluindo cálcio, fósforo, fosfatase alcalina e albumina, tanto no início do estudo quanto após seis semanas de suplementação.

Resultados Surpreendentes

Os resultados foram impressionantes e clinicamente significativos. No início do estudo, 82% de todos os bebês apresentavam hipovitaminose D (deficiência ou insuficiência), com níveis médios similares entre os grupos: 14,7 ng/mL no grupo de 400 UI/dia e 14,8 ng/mL no grupo de 800 UI/dia.

Após seis semanas de suplementação, o grupo que recebeu 800 UI/dia demonstrou níveis significativamente mais elevados de 25(OH)D em comparação ao grupo de 400 UI/dia: 47,3 ng/mL versus 32,0 ng/mL, respectivamente. Esta diferença não foi apenas estatisticamente significativa, mas também clinicamente relevante, com um tamanho de efeito considerado grande (Cohen's d = 0,85).

Impacto na Prevalência da Deficiência

Um dos achados mais notáveis foi a redução dramática na prevalência de hipovitaminose D. No grupo que recebeu 800 UI/dia, a prevalência diminuiu de 89% para apenas 5%, enquanto no grupo de 400 UI/dia a redução foi de 74% para 32%. Isso significa que a dose mais alta foi significativamente mais efetiva em corrigir a deficiência de vitamina D.

O estudo também demonstrou que seria necessário tratar apenas quatro bebês com a dose mais alta para prevenir um caso de hipovitaminose D, indicando uma eficiência terapêutica considerável da dosagem de 800 UI/dia.

Segurança da Suplementação

Uma preocupação importante em qualquer protocolo de suplementação é a segurança. O estudo não identificou casos de toxicidade por vitamina D em nenhum dos grupos, mesmo com a dose mais elevada. Não foram observadas diferenças significativas nos parâmetros ósseos metabólicos entre os grupos, e não houve sinais clínicos de toxicidade como hipercalcemia, vômitos frequentes, convulsões ou arritmias.

Esta constatação é particularmente relevante, pois muitos profissionais de saúde têm receio de utilizar doses mais elevadas de vitamina D devido ao risco teórico de toxicidade. Os resultados sugerem que a dose de 800 UI/dia é tanto eficaz quanto segura para recém-nascidos prematuros predominantemente alimentados com leite materno.

Implicações para a Prática Clínica

Os achados deste estudo têm implicações importantes para o cuidado de recém-nascidos prematuros. Atualmente, diferentes organizações internacionais recomendam dosagens variadas: a Academia Americana de Pediatria recomenda 200-400 UI/dia para recém-nascidos com peso inferior a 2500g, enquanto a Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica recomenda 400-700 UI/kg/dia, com máximo de 1000 UI/dia.

Na Tailândia, assim como em muitos outros países, ainda não existem diretrizes nacionais específicas para prematuros. Este estudo fornece evidências valiosas de que a dose de 800 UI/dia pode ser mais efetiva para atingir níveis adequados de vitamina D nessa população vulnerável.

Limitações e Perspectivas Futuras

Embora os resultados sejam promissores, os pesquisadores reconhecem algumas limitações do estudo. O tamanho relativamente pequeno da amostra (38 bebês) pode limitar a generalização dos achados. Além disso, foi observada uma proporção significativamente maior de bebês do sexo masculino no grupo de 800 UI/dia, o que poderia representar uma fonte potencial de confusão, embora estudos anteriores não tenham demonstrado diferenças consistentes nos níveis de vitamina D entre sexos em prematuros.

O estudo foi conduzido em um único centro, o que pode limitar sua aplicabilidade externa. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de estudos multicêntricos com amostras maiores e acompanhamento de longo prazo para confirmar esses achados e avaliar os benefícios a longo prazo no crescimento e desenvolvimento ósseo.

Conclusões e Recomendações

Este estudo demonstra de forma convincente que a suplementação com 800 UI/dia de vitamina D3 é significativamente mais eficaz do que 400 UI/dia para melhorar o status de vitamina D em recém-nascidos prematuros, sem causar toxicidade. A dose mais elevada reduziu drasticamente a prevalência de hipovitaminose D e foi bem tolerada pelos bebês.

Para profissionais de saúde que cuidam de prematuros, estes resultados sugerem que protocolos de suplementação com doses mais elevadas podem ser necessários para prevenir adequadamente a deficiência de vitamina D nessa população de alto risco. No entanto, é importante que qualquer mudança na prática clínica seja implementada com monitoramento adequado e em conformidade com as diretrizes locais e protocolos institucionais.

A deficiência de vitamina D em prematuros não é apenas um problema acadêmico - ela pode ter consequências reais para o desenvolvimento ósseo, crescimento e saúde geral desses bebês vulneráveis. Este estudo oferece uma ferramenta valiosa para melhorar o cuidado dessa população especial, potencialmente prevenindo complicações futuras relacionadas à saúde óssea.

Fonte: https://doi.org/10.3390/nu17111888

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