Medidas objetivas e subjetivas de apetite: alta versus baixa frequência alimentar em um ensaio clínico randomizado cruzado


O estudo intitulado Objective and subjective appetite measures: high versus low eating frequency in a randomized crossover clinical trial, publicado na revista Obesity, teve como objetivo investigar como diferentes frequências alimentares impactam marcadores hormonais e sensações de apetite em adultos saudáveis. Trata-se de um trabalho relevante, pois explora um tema amplamente debatido: o número ideal de refeições ao longo do dia para controle do apetite e, potencialmente, do peso corporal.

Contexto e objetivo

Ao longo dos anos, a recomendação sobre o número de refeições diárias variou bastante. Algumas orientações sugerem que fracionar a alimentação em mais refeições ajudaria a controlar o apetite e evitar excessos. Outras defendem que reduzir o número de refeições poderia melhorar o controle metabólico e hormonal. Para trazer mais clareza a esse tema, os pesquisadores do estudo FRESH (Frequency of Eating and Satiety Hormones) realizaram um ensaio clínico cruzado e randomizado para comparar o impacto de alta (6 refeições/dia) e baixa (3 refeições/dia) frequência alimentar em adultos jovens saudáveis.

Metodologia

Participaram do estudo 50 adultos saudáveis, com idade média de 32 anos. O desenho do estudo envolveu duas fases de 21 dias cada: uma com alta frequência alimentar (6 refeições por dia) e outra com baixa frequência alimentar (3 refeições por dia). Houve um período de “washout” (descanso) de 14 dias entre as fases. Importante destacar que o consumo calórico total e os tipos de alimentos foram iguais em ambos os períodos — o que variava era apenas o número de refeições.

No 21º dia de cada fase, os participantes foram ao laboratório e permaneceram em observação por 7 horas. Durante esse período, realizaram refeições de acordo com o protocolo e tiveram amostras sanguíneas coletadas a cada hora para medir os níveis de grelina e peptídeo YY (PYY), hormônios relacionados ao apetite. Além disso, os voluntários responderam a questionários sobre sensação subjetiva de fome e saciedade a cada 30 minutos.

Principais resultados

Os dados do estudo mostraram que a frequência alimentar teve efeito significativo nos hormônios do apetite e na percepção subjetiva de fome:

  • Grelina: Os participantes apresentaram menores variações nos níveis de grelina ao longo do dia quando realizaram 6 refeições diárias, em comparação com o padrão de 3 refeições. Isso sugere que a alta frequência alimentar levou a um controle mais estável da grelina, um hormônio associado ao estímulo da fome.
  • Peptídeo YY (PYY): Da mesma forma, as concentrações de PYY mostraram menores flutuações no padrão de 6 refeições por dia. O PYY está relacionado ao aumento da saciedade, e a estabilidade de seus níveis pode refletir uma sensação de saciedade mais contínua ao longo do dia.
  • Sensação subjetiva de apetite: Os dados dos questionários indicaram que, apesar das diferenças hormonais, as percepções de fome, saciedade e desejo de comer não diferiram de forma clinicamente significativa entre os dois padrões de frequência alimentar.

Conclusão dos autores

Os autores concluíram que, embora a alta frequência alimentar promova menores oscilações nos hormônios relacionados ao apetite, isso não se traduziu em diferenças importantes na percepção subjetiva de fome e saciedade ao longo do dia. Dessa forma, os dados sugerem que aumentar a frequência alimentar pode não trazer benefícios claros para o controle do apetite em adultos saudáveis quando a ingestão calórica total permanece constante.

Esse estudo contribui para o entendimento de que a escolha da frequência das refeições pode ser mais uma questão de preferência individual e conveniência do que de eficácia objetiva no controle do apetite, ao menos em contextos de alimentação controlada e eucalórica.

Fonte: https://doi.org/10.1002/oby.24265

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