Lipídios Maternos e do Cordão Umbilical no Diabetes Gestacional Predizem a Secreção e Resistência à Insulina dos Filhos aos Nove Anos

O estudo publicado na Metabolomics em 2025 por Huhtala e colaboradores aprofundou a relação entre os lipídios presentes no sangue de gestantes com diabetes gestacional e a função da insulina nos filhos na infância. Esta análise secundária de um ensaio clínico randomizado investigou não só os efeitos da glicemia, mas também o papel de ácidos graxos específicos, como o ácido linoleico (LA) e o ácido docosa-hexaenoico (DHA), ambos amplamente influenciados pela ingestão de óleos vegetais e peixes.

Contexto e Objetivo

O diabetes gestacional e a obesidade materna são fatores conhecidos por aumentar o risco de distúrbios metabólicos nas crianças, conforme a hipótese das origens do desenvolvimento da saúde e da doença. Além da hiperglicemia, alterações no metabolismo lipídico durante a gestação também podem impactar a saúde da prole. Esse estudo investigou como lipídios maternos e do cordão umbilical — muitos deles derivados de fontes alimentares como óleos vegetais ricos em LA — se relacionam com a resistência à insulina e a função das células beta no pâncreas das crianças aos nove anos de idade.

Métodos

O estudo envolveu 122 pares mãe-filho provenientes de um ensaio realizado na Finlândia. As mães, diagnosticadas com diabetes gestacional, foram tratadas com insulina ou metformina. Coletaram-se amostras sanguíneas maternas no início do tratamento e na 36ª semana de gestação, além do sangue do cordão ao nascimento. Aos nove anos, os filhos passaram por teste oral de tolerância à glicose para avaliação da glicemia, insulina e peptídeo C.

Resultados

Os resultados revelaram que:

  • Maiores níveis de ácido linoleico e DHA no cordão umbilical estavam associados a menores índices de função das células beta das crianças.
  • Essas associações foram mais marcantes nos filhos de mães tratadas com insulina, sugerindo que o tipo de tratamento modula a exposição lipídica fetal.
  • Os lipídios maternos durante a gestação não mostraram associação significativa com os desfechos na infância após ajustes estatísticos rigorosos.
  • O ácido linoleico, presente em abundância nos óleos vegetais (como óleo de soja, milho, girassol e canola), destacou-se no estudo por sua relação inversa com marcadores de resistência à insulina e função beta-celular nas crianças, especialmente no grupo tratado com insulina.

Óleos Vegetais e Ácido Linoleico

O ácido linoleico é um ácido graxo poli-insaturado do tipo ômega-6 predominante em muitos óleos vegetais utilizados na alimentação moderna. A elevada ingestão desses óleos durante a gestação pode aumentar os níveis circulantes de LA na mãe e no feto. Este estudo sugere que a maior proporção de LA no sangue do cordão umbilical está associada a menor função das células beta na infância, apontando para um possível impacto do consumo excessivo de óleos vegetais durante a gravidez em gestações com diabetes gestacional.

Discussão

Os achados reforçam a relevância do perfil lipídico intrauterino na programação metabólica da prole. A exposição fetal a maiores proporções de LA e DHA mostrou associação com alterações na função insulínica. Embora o ácido linoleico seja essencial na dieta, a alta exposição — possivelmente derivada de dietas ricas em óleos vegetais industrializados — merece atenção em gestantes com diabetes gestacional. Além disso, o tipo de tratamento (metformina ou insulina) parece modificar essas relações, possivelmente por influenciar a transferência placentária de lipídios.

Conclusão

O estudo evidencia que não apenas a glicemia, mas também os perfis lipídicos materno e do cordão umbilical, influenciados pela alimentação — como o consumo de óleos vegetais — podem estar associados ao risco de disfunções insulínicas nos filhos. Esses achados ressaltam a necessidade de ampliar o foco das orientações nutricionais na gestação com diabetes, incluindo uma análise crítica da ingestão de fontes de ácidos graxos poli-insaturados. Futuros estudos devem explorar a modulação do perfil lipídico materno como estratégia para prevenção de distúrbios metabólicos intergeracionais.

Fonte: https://doi.org/10.1007/s11306-025-02281-9

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